sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A campanha da infâmia


A CAMPANHA DA INFÂMIA – por Moacir Poconé

Hoje, com o último debate realizado pela TV Globo, encerra-se aquela que foi a campanha eleitoral mais infame de que já se tem notícia no Brasil. Tanto um como o outro candidato que disputam o segundo turno se esmeraram em baixar o nível da campanha, tornando-a um espetáculo de baixarias em vez de ser um momento de propostas de governo.

Segurança, saúde, educação ficaram em segundo plano. Entraram em cena frases preconceituosas, ligadas à religiosidade ou até mesmo à sexualidade de um dos candidatos. A internet se tornou terreno fértil para a propagação da mentira. Fichas falsas de ambos os candidatos no tempo da ditadura foram feitas. A discussão sobre o aborto foi o ponto mais debatido da campanha. Afinal, “o candidato é a favor ou contra o aborto?”, perguntaram-se centenas, talvez milhares de vezes. “E o casamento entre pessoas do mesmo sexo?” outras milhares de vezes. Reparem que são assuntos que dizem respeito ao íntimo das pessoas. Aqueles que professam determinada religião e condenam tais atos, que não os pratiquem. O erro está em querer impor a todos. Mas por uma questão de votos, ambos os candidatos beijaram a mão do papa e condenaram o que antes aceitavam. O Brasil, como estado laico que é ou que deveria ser, mais uma vez se viu refém da fé em detrimento à razão.

Outro papel deplorável foi o da imprensa. Formaram-se duas grandes equipes, uma para cada candidato. A cada semana, revistas semanais estampavam denúncias em suas capas, cada uma produzindo ou pelo menos tentando produzir um escândalo que derrubasse o seu oponente. Os jornais, diariamente, buscavam notícias ou entrevistas que incriminassem ou absolvessem o candidato de seu interesse. Até mesmo editoriais em apoio a candidato foram publicados. Na imprensa televisiva, mais um show de parcialidade. Âncoras de telejornais visivelmente transtornados com resultados de pesquisas, reportagens de meia hora com mais denúncias e até mesmo em entrevistas realizadas com o fim de discutir os programas dos candidatos, só se ouviram perguntas sobre escândalos. Assim, os veículos de comunicação se tornaram verdadeiros panfletos partidários, divulgando ou omitindo fatos conforme o interesse do candidato de sua preferência.

Quem saiu perdendo com tudo isso? Sem dúvida, o eleitor. Se já não é esclarecido como deveria ser, dessa vez pôde decidir seu voto por critérios menos dignos como “A candidata é homossexual? A mulher do candidato abortou? Quem é o beato? Quem mata criancinhas?” São esses os requisitos necessários para o exercício da presidência? Certamente não. Mas na infame campanha de 2010 foi isso que se discutiu.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Paulo, Erenice e uma bola de papel


PAULO, ERENICE E UMA BOLA DE PAPEL – por Vicente Bezerra

Domingo, o segundo turno definirá o futuro do país, sendo apresentada para escolha uma volta à determinada maneira de governar ou a continuidade da atual. Ao eleitor não haverá opção de escolher uma nova forma de governo: ou será a atual ou a antiga.

Nisso, essa eleição se tornou uma batalha difícil para os opositores do PT. Como lutar contra um governo que tem mais de 80% de aprovação, segundo as pesquisas? Bater no governo Lula, e por conseqüência na sua candidata, se tornou uma dura tarefa.

Mas, quem disse que a oposição não tentou? A equipe que coordena a candidatura Serra e o próprio (além de parte da mídia de massa) colocaram nos últimos dias uma verdadeira metralhadora giratória de polêmicas, factóides e denúncias. O caso Erenice foi um deles. Esse episódio, particularmente, mancha a candidatura petista e é um fato que deve ser investigado e punido severamente. O erro do PSDB de Serra é querer jogar pedra no telhado alheio, tendo teto de vidro. Apontar uma denúncia de corrupção no governo é dever de toda oposição, mas usar tal fato para manchar o adversário e se arvorar em ser paladino da ética há uma distância enorme. Os escândalos de corrupção do PSDB são diversos e não fica bem apontar o dedo sujo para o vizinho. O povo tem memória, curta, mas tem. Um erro não justifica, nem legitima o outro. Nem torna ninguém menos ou mais ético que outrem. Quem tem Paulo Preto, não deve abrir a boca pra falar de Erenice.

Mas o Serra não parou por aí. Lembrando sua verdadeira origem (do coronelismo e antigas oligarquias), o PSDB tirou da manga uma das velhas ferramentas usadas em eleições, tipo aquelas pequenas do interior, que passam em novelas: a de “ferir” o próprio candidato, alegando ter sido o adversário, se fazendo de vítima, virar mártir e ganhar a eleição. Essa é velha. Mas como dizem por aí, a perícia fez a “bolística” e comprovou que o tiro partiu de uma arma Chamex, calibre A4. Lembraram até do Rojas! O papel (não o da bolinha) feio ficou para um canal de televisão e para o casal 20 que apresenta o jornal. Constrangedor até para quem assistiu.

No debate da última segunda-feira, pouca coisa mudou. Os assuntos dominantes foram Paulo Preto e Erenice. A bolinha, de tão ridícula, ficou de fora. Outra coisa que mudou neste debate foi a postura do Serra. O senhor calmo e polido deu lugar ao incisivo e agressivo, chegando o mesmo a chamar Dilma de mentirosa (que retribuiu o elogio em alguns momentos, mas de forma mais disfarçada).

Serra tentou no citado debate de todas as formas atacar os pontos positivos do governo Lula. Atacou o PAC, o bolsa-família (que ele diz que criou), o pré-sal (que ele disse que não existe), o Prouni (que ele criou também). Falou até que Lula e Dilma privatizaram mais que o FHC. O desespero ficou patente e latente. Não vai dar Serra. Pelo menos nessa eleição.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A bolinha de papel


A BOLINHA DE PAPEL - por Moacir Poconé

“Tinha uma bolinha de papel. No meio do caminho tinha uma bolinha de papel. José Serra jamais esquecerá esse acontecimento na vida de suas retinas tão fatigadas.” Nunca na história desse país se viu tamanho estrago causado por uma mísera bolinha de papel. O candidato tucano inclusive se submeteu a uma tomografia computadorizada (!) para avaliar os danos causados pelo projétil e o seu médico disse que havia um edema na região atingida.

A farsa foi desmontada por uma câmera do SBT. Vê-se claramente o candidato atingido pela fatídica bolinha de papel, caminhando, depois de alguns minutos recebendo um telefonema e começar a passar a mal. Alguns comentários na internet inclusive levantaram a suspeita de ter sido o telefonema a causa do mal estar. Afinal, de vez em quando surgem pesquisas médicas analisando os problemas que o celular pode causar. Outros suspeitaram de traumas oriundos da infância de Serra, dizendo que o candidato não pode passar em frente a uma papelaria que desmaia. Mais precisos foram outros que disseram estar pronto o “exame de balística” da tal bolinha: teria saído de um pacote de Chamequinho, calibre A4. Em caso de vitória, aliás, o PSDB já determinou que não se faça a tradicional chuva de papel picado, pois há o risco de Serra passar mal.

Esses comentários acima e milhares de outros invadiram o Twitter com a hashtag #serrojas e logo estava em primeiro lugar dos assuntos mais comentados no mundo. Todos zombavam da malfadada encenação orquestrada por José Serra no Rio de Janeiro. O nome serrojas é uma referência feita por alguns (inclusive o presidente Lula) que lembraram do goleiro chileno Rojas que simulou ter sido atingido por um rojão em pleno jogo das Eliminatórias para a Copa de 1994. Talvez tenha sido inspiração. Afinal, José Serra é casado com uma chilena e ela pode ter sugerido ao marido que buscasse meios teatrais como o do seu compatriota para a conquista da presidência. Pena que o modelo utilizado também não obteve êxito em sua encenação.

Mas eis que surge o Jornal Nacional do dia da enxurrada de críticas à farsa montada pelo PSDB. Numa reportagem de mais de dez minutos, com análises de perito, cenas congeladas. O casal 20 do jornalismo brasileiro anuncia: José Serra não foi atingido por uma bolinha de papel. Foi um rolo de fita crepe(!). Impressionante. Agora se compreende a gravidade do fato. Afinal rolos de fita crepe são infinitamente mais perigosos que bolinhas de papel. Realmente, a vida do candidato correu grande perigo, as instituições no Brasil sofreram grande abalo e a democracia foi prejudicada e etc. etc. etc.

O goleiro chileno foi castigado. Pena: banimento da prática de futebol. José Serra foi ao médico. Recomendação: 24 horas de repouso. No primeiro caso, houve exagero. No segundo,foi pouco. O médico deveria ter recomendado quatro anos de repouso a Serra.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Give peace a chance!


GIVE PEACE A CHANCE! – por Vicente Bezerra

O “Deu na telha!” inova e trás uma entrevista inusitada. Vocês irão entender.

Epílogo: Nosso entrevistado já disse que seu grupo era mais conhecido que Jesus Cristo. Já esteve em todos os jornais na sua luta pela paz. Sofreu um atentado em 1980 que o deixou em coma por quase um ano e desde então vive recluso. Já foi ao ápice como músico, hoje aparece e lança algo muito esporadicamente. Pra ele, o sonho acabou faz tempo. Seu último disco foi lançado em 1997. Nos últimos dias completou redondos 70 anos. Estamos falando do ex-beatle John Lennon.

P – Lennon, porque tanto tempo recluso?

L – Hoje não sou mais John Lennon ou um ex-beatle, sou somente John ou Jonny. Optei por ficar fora da mídia para viver a minha própria vida, não de um personagem. Poder sair na rua e comprar pão. Não quis fazer como Elvis, forjar uma morte e viver trancado em algum lugar. Minha vida e minhas limitações de saúde após o atentado também são motivos. Não tenho mais 25 anos há muito tempo.

P – Incomoda te chamarem de ex-beatle?

L – Um pouco. Eu fui um dia. Mas estava deixando de ser John para ser um Beatle. Isso eu deixo para o Paul.

P – Como assim?

L – Ele prefere viver como ex-beatle, lucrar com isso, viver disso. Aliás, ele podia viver e bem sendo só o velho Paul e ir pescar com os netos. Nossos direitos autorais nos dão esse conforto. Mas ele prefere estar em ação e na mídia. Paul sempre gostou disso.

P – E você não?

L – Eu queria ter uma banda de rock e ser famoso. Depois que consegui, percebi que há muitas outras coisas mais importantes na vida e no mundo. Eu não conseguia fazer show enquanto gente morria no Vietnã, como agora no Afeganistão e em vários outros lugares.

P – Lennon, o sonho realmente acabou?

L – Sim! O tempo de balançar as cabeças e fingir alegria, sim. O sonho acabou porque todos nós, da nossa geração, acordamos. E temos que manter as próximas gerações acordadas também. Muita coisa está acontecendo e as pessoas precisam lutar pelo que querem e não esperar que Buda, Jesus ou Obama traga. Como eu já disse há muito tempo, pense globalmente e atue localmente. Power to the people, sempre!

P – A mensagem de Imagine ainda é atual?

L – Metaforicamente sim. Devemos nos libertar das amarras do mundo materialista e pensar no amanhã e no próximo. Mas eu diria que mais urgente é a mensagem de Give Peace a Chance. Alguém deve parar o maluco do Irã! Mas não entupindo aquela pobre gente de bombas.

P – O que você acha da música atual?

L – Água. Sem cheiro, sem cor e sem sabor. Mas precisamos de música para viver. Hoje em dia qualquer pessoa grava qualquer coisa. Mais vale o ritmo do que a mensagem. Hoje, eu e Bob Dylan provavelmente não seríamos conhecidos. Pouca gente quer ouvir o que precisa ser dito. Não somos musculosos, nem temos bunda grande. Mas, a Beyoncé é linda! Melhor ouvir a Lady Gaga do que ser surdo.

P – Você falou no Paul, e os outros? Que tem a dizer deles?

L – Paul sempre foi meu maior amigo/inimigo. Nos vemos pouco, mas ele ainda manda suas coisas pra eu opinar. Não sei por que faz isso, talvez pra ter aprovação, mas eu sempre critico (risos). Ringo sempre foi o bacana da turma e nos vemos em ocasiões especiais, tipo Natal. E George é o meu irmão mais novo, que já se foi. Foi triste, mas ele está em paz.

P – Encerrando a conversa, que recado daria hoje para seus fãs?

L – Tudo que já disse antes. Lutem pela paz, nem que seja a sua. O que precisava ser dito, já foi dito. Tem é que botar em prática. Mas tudo se resume em uma frase só: all we need is love. Pratiquem o amor ao vizinho, ao carteiro, ao motorista do ônibus, ao lixeiro. Cada um propagando isso, o mundo se torna um lugar melhor.

Prólogo: Lógico que foi viagem. Mas que seria bom seria. Boa música e mensagem fazem falta ao mundo atual.

Notas explicativas: A imagem é uma estátua que fica em Cuba. O texto é uma homenagem à Lennon, que teria completado 70 anos se vivo estivesse. Mas está. Em sua música e em sua mensagem. Basta ouvir novamente e praticar. Love is all we need.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Coronel Nascimento, o Indiana Jones brasileiro


CORONEL NASCIMENTO, O INDIANA JONES BRASILEIRO – por Moacir Poconé

Numa eleição anos atrás realizada com cinéfilos dos Estados Unidos, Indiana Jones foi eleito o maior herói do cinema em todos os tempos. Forte, corajoso, inteligente, seus filmes de ação representam o espírito de aventura tão cultuado pelos estadunidenses. Agora no Brasil, surge nosso maior herói: o Coronel Nascimento, de Tropa de Elite.

Sem dúvida, o Coronel (antes Capitão) Nascimento é o maior herói que o cinema nacional já produziu em todos os tempos. Que semelhanças teria com o herói eleito nos Estados Unidos? Coragem e força, certamente, são atributos em comum. Vêem-se essas características principalmente no primeiro filme Tropa de Elite em que a violência combinada com um humor corrosivo, quase negro, transborda pela tela. No segundo filme, lançado essa semana (e já batendo recordes de bilheteria), nosso herói mantém o estilo destemido, mesmo que de forma mais contida. Mas as semelhanças param por aí. Nosso herói é muito mais humano e por isso apresenta problemas comuns a todos nós. Se Indiana luta com nazistas em busca de artefatos sagrados e perdidos, o Coronel Nascimento enfrenta as milícias na comunidade de Rio das Rochas. E o pior: a corrupção está bem próxima a ele, já que Nascimento deixa o BOPE e vai trabalhar na Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, um verdadeiro covil de policiais e políticos desonestos. Sua luta agora não é contra os traficantes, mas contra todo o sistema, como ele mesmo diz. É grande o risco inclusive de ser corrompido, tragado pelas facilidades da ilegalidade.

Mas nosso herói é incorruptível. Nada parece o abalar. Apenas parece. Se ele é uma fortaleza no que diz respeito ao campo profissional, no aspecto pessoal sua vida está em farrapos. Nascimento está mais velho, ou melhor, desgastado não só pelos anos de trabalho, mas por seus problemas pessoais. Divorciado, vê sua mulher casar com a antítese de tudo aquilo que representa: um defensor dos direitos humanos. Inclusive seu filho se identifica mais com seu rival do que com ele próprio. Surge um dilema: sabe agir com os traficantes, com as milícias, mas tem dificuldades quando se dirige ao próprio filho. Assim, nada resta a nosso herói senão desafogar suas mágoas atacando de forma violenta criminosos que surgem em seu caminho, estejam fardados ou não. Nisso, ele é implacável. Nenhum sentimento de culpa, nada de vacilos. Simplesmente os ataca e ponto final. As conseqüências para ele nada significam. Numa cena emblemática, surra o secretário de segurança pública, após descobrir o seu envolvimento nas ações criminosas. Palmas são ouvidas na platéia, como que lavando a alma do povo brasileiro que queria ver cenas como essa na vida real e não apenas na ficção.

Esse é o Coronel Nascimento, o maior herói já visto no cinema nacional. Para nós, brasileiros, até maior que Indiana Jones, o herói estadunidense. Por ser mais real. Por ser mais humano. Por representar um basta num cenário visto como perdido para muitos, mas não para ele.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Fundo do poço



FUNDO DO POÇO – por Vicente Bezerra

Enfim, os mineiros saíram. Do fundo do poço, literalmente. O mundo acompanhou esse drama de perto, graças à mídia, seja televisiva ou internética. Teve canal de televisão no Brasil que transmitiu ao vivo (!), todo (isso mesmo, todo) o resgate.

Foi um verdadeiro Big Brother involuntário. Todos os passos (?!) dos anônimos coitados mineiros foram noticiados. Isso nos faz pensar no verdadeiro papel da mídia informativa e o quanto ultimamente a mesma tem exagerado na cobertura de algumas notícias, sobretudo as tragédias. Espremem tudo até a última gota de sangue.

O caso dos mineiros é emblemático. O apagado Chile, ficou conhecido nos quatro cantos do nosso planeta redondo. Não há críticas nisso. Realmente o isolamento desses trabalhadores foi um acontecimento diferenciado, inclusive justamente nesse acompanhamento midiático. Tal isolamento terá marcas e conseqüências nas vidas desses senhores e suas famílias.

Voltando à mídia, teve quem defendesse interferência internacional, alegando que o Chile, sozinho( ?!), não teria capacidade para a empreitada do resgate. Apareceram especialistas de plantão, até em canal daqui. Psicólogos, já adiantavam diagnósticos sobre os mineiros e seus possíveis problemas psíquicos.

Os mineiros, de vítima, saíram como heróis. Travaram essa batalha consigo mesmos, e com a difícil vida em grupo. Isolados e no escuro, estavam jogados à própria sorte, no que se refere à arte do convívio humano. Para desgosto da mídia, saíram todos produzidos, arrumados, barbas feitas, óculos escuros (estes para proteção), e não sujos, barbudos, cabeludos, vitimizados, como os da foto acima.

O Chile foi capaz. Boa sorte aos mineiros (inclusive os do Atlético) e suas novas vidas. Alguém duvida que essa estória virará filme e livro?

P.S. Já tem gente com maldade indicando a equipe de resgate pra treinar alguns clubes brasileiros, perto da zona de rebaixamento. Outros, pra salvar nosso país depois da eleição. Vai saber...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Segunda sem lei - O seriado que ultrapassa gerações

O SERIADO QUE ULTRAPASSA GERAÇÕES - por Elísio Cristóvão*

Em meio aos vários temas que vi neste grandioso blog (e que gosto muito), venho por meio desta tratar de um assunto que ainda não foi visto por aqui. Apesar de ter atingido a maioridade há alguns anos (não muitos) ainda continuo tentando assistir a alguns desenhos animados. Os desenhos atuais são desenhos que não possuem um enredo chamativo, não prendem os telespectadores, pelo menos para mim (deve ser a idade). Mas tem um desenho ou série que passa ano, entra ano não sai das telas. Pare um instante a leitura e pense qual série ou desenho você lembra-se de ter assistido há dez anos e ainda passa atualmente. Isso mesmo, dez anos atrás. Lembrou de algo? Para facilitar eu diria que esta série você pode assistir naquele mesmo canal, naquela mesma hora. Lembrou? Isso, isso, isso. É o Chaves mesmo. Que maravilha de série, eu assistia há dez anos e ainda consigo dar gargalhadas com as peripécias dessa turma. Esta sim é uma série que resistiu a longos anos. Dizem as más línguas, que o Chaves tem mais audiência que o programa da Hebe e que em seu horário já bateu grandes programas. O problema é descobrir o horário. Pois outro dia chego eu em casa as 3h da manhã ligo a TV e quem esta lá? O Chaves. Podem acreditar, o pior é que eu assisti todinho.

São vários e vários episódios, mas o que mais gosto de assistir é o de Acapulco. Muito bom ver a bagunça na piscina. O Quico se afogando no raso, o Professor Girafales indo salvar o Quico e o enforcando. Muito divertido. Gosto muito também quando o episódio se passa na escola, quando todo mundo fala ao mesmo tempo e o Mestre Lingüiça, quer dizer, o Professor Girafales pede que “calem-se” e o Chaves sempre termina falando algo seguido por Prof° Lingüiça. Episódio muito bom é o episódio dos desenhos. Teve o desenho da vaca no pasto, o pão com ovo, o jogo de xadrez do Godines e o clássico desenho da chinforinfula. Sem falar das respostas dos meninos. Aí pergunta o Professor: “O que fez Colombo depois que pôs o pé nessas terras?” Chaves responde: “Pôs o outro” ou “Quanto é 3 laranjas menos 2 laranjas?” e Chaves: “Eu sabia com maçãs.” Pergunta: “Como se diz gavião em inglês?” Gaviaio”. “Porque Colombo deixou Genova?” “Porque não cabia no navio.”

Quanto aos personagens, o que mais gosto é o grande Seu Madruga. Dia passa, mês passa, ano passa e ele continua devendo 14 meses de aluguel ao Seu Barriga. Que sempre leva uma pancada do Chaves quando chega na vila. Gosto também do Jaiminho, o carteiro de Tangamandapio. Quem nasce em Tangamandapio é o que mesmo? A bruxa do 71 e seu cachorro Satanás. A de que menos gosto é a Pops. Acho a garota muito chata.

Por fim, as grandes frases dos personagens. Dentre elas temos: Conta tudo pra tua mãe..., Tá, tá, tá, tá, tá; Tinha que ser o Chaves mesmo; Foi sem querer querendo; Ninguém tem paciência comigo; Vamos Quico não se junte com essa gentalha; Eu quero evitar a fadiga; Dizia eu, que a aritmética; Estamos aqui para isso; Ai que burro dá zero pra ele; dentre outras que não me lembro agora.

Agora pare e pense qual desenho você gostará de continuar vendo daqui a dez anos? Eu gostaria de continuar vendo o Chaves. Dê sua opinião: de qual personagem você mais gosta? Qual a frase memorável da turma? Qual seu episódio favorito? E lembre: se você é jovem ainda, amanhã velho será.

*Elisio Cristovão é bacharel em Eng. Ambiental e atualmente cursa Mestrado em Ciência e Engenharia dos Materiais. É também guitarrista da 1ª banda de Heavy Metal de Lagarto, a "STTONEHENGE".

Os textos da "Segunda sem lei" são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião dos criadores deste blog.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A encarnação do demônio


A ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO - por Moacir Poconé

Na reta final do primeiro turno da campanha presidencial, uma onda de boatos invadiu a internet. Foi um verdadeiro tsunami de mentiras que causou um estrago maior do que se possa imaginar. Na verdade, esses boatos provocaram o segundo turno, muito mais que o fator Marina. Em todos os cantos, com uma ou outra variação o que mais se ouviam eram frases como “Dilma é a favor do aborto” ou “Dilma vai levar macumba para as escolas” ou ainda “Dilma disse que nem Cristo tira a sua vitória no primeiro turno”. De repente, Dilma virou a encarnação do demônio.

O PT nunca foi bem visto pela Igreja Católica. Desde a época de Lula se ouvia falar que igrejas seriam fechadas e que os comunistas iriam comer criancinhas. Nada disso aconteceu. Mas a propagação de boatos ligados a fatos religiosos cresceram de uma maneira nunca vista na história desse país. O mais interessante é que as pessoas recebem a “notícia” e imediatamente a consideram como verdadeira. Não têm o trabalho de buscar a verdade, de saber se há fundamento ou não. Está na internet, em e-mails ou sites é verdadeiro. O mundo digital se transformou num mundo sagrado, em que a palavra assume um papel devastador.

Interessante um comentário do deputado federal eleito por São Paulo Gabriel Chalita. Vale lembrar que Chalita é um católico fervoroso, inclusive amigo de padres que freqüentam a mídia, como o galã Fábio de Melo, inclusive tendo os dois escrito um livro em conjunto. Disse Chalita que se Lula ou Dilma fossem a favor do aborto teriam feito algum movimento nesse sentido nos oito anos em que estiveram no poder. Disse ainda que a candidata Dilma defendeu que o sistema público cuide das mulheres pobres que fazem aborto clandestino, uma vez que as ricas o fazem em clínicas particulares. E, por fim, Chalita comentou que a função do sistema de saúde do estado era a de cuidar. Não importa quem. Até mesmo um assaltante que leva um tiro deve ser cuidado pelo sistema. E por que as mulheres pobres que abortam não deveriam receber os cuidados médicos num hospital público? É uma pergunta muito pertinente.

Dilma está se esforçando para tirar de si o estigma de demônio. Faz reuniões com padres, pastores, mães-de-santo e tudo o mais que lidar com forças do além. Afirma e reafirma que é contra o aborto, que não é anticristo e que não come criancinhas. Num país laico como é ou como deveria ser o Brasil é uma pena ver que discussões sobre assuntos muito mais importantes perderam espaço para uma única discussão. Se as diversas igrejas são contra o aborto, que orientem os seus fiéis para não fazê-lo. Determinar o futuro presidente do Brasil ou as diretrizes do seu governo foge de seu suas atribuições.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Onda verde, mar vermelho, céu azul


ONDA VERDE, MAR VERMELHO, CÉU AZUL – por Vicente Bezerra

O assunto dominante desta semana continua sendo política. Ou melhor, as eleições presidenciais. Findo o primeiro turno, aparece a interrogação de o quê mudará no panorama para o segundo turno. Será possível mudar o rumo da eleição e contrariar as pesquisas? Só a urna dirá.

Onda Verde – Como já previsto pelo nosso blog (texto Terceira Via), Marina aglutinou novos eleitores, camadas diversas da sociedade e surpreendeu. Derrubando institutos de pesquisa, carimbou quase 20% do eleitorado. Para um partido diminuto e uma figura política não muito festejada, Marina pode considerar-se vitoriosa. Resta agora saber quem ela apoiará. Ideologicamente falando, Marina é mais próxima do PT. Mas a política brasileira passa longe das amarras ideológicas. Dilma foi um dos grandes motivos da saída da ex-ministra do governo. Sob este aspecto, Serra leva vantagem na busca de seu apoio. O problema é que Marina anunciou que só definirá seu apoio, lá pelo dia 17 do mês. Muito próximo da eleição. Com isso, seu apoio pode não ser garantia de transferência de votos.

Mar Vermelho – A esperada vitória no primeiro turno não veio. E o mar de sossego começou a turbar. O segundo turno promete uma batalha interessante pelo voto dos órfãos de Marina. Entretanto, Dilma tem a tranqüilidade do discurso do continuísmo da obra lulista. Quem acompanhou os últimos vinte anos da vida política brasileira e era cidadão ativo e produtivo (trabalhador e remunerado), sabe que a vida melhorou. Mais moradia, mais emprego, mais dinheiro. Certo que o pontapé da economia estável foi dado por Itamar e FHC, mas que adianta economia forte, sem emprego ou dinheiro para gastar? Em contrapartida, Dilma carece de passar segurança de suas idéias, arte tão bem utilizada por Lula. Os pronunciamentos de Dilma rodeiam e pouco esclarecem. Mas deverá ser eleita em razão de o povo querer continuar com a melhoria de vida. Torçamos pra não vir depois a continuidade de Dilma, pois pode ser a Erenice.

Céu Azul – Na verdade “é um céu carregado, rajado, suspenso no ar”. O Serra tem pela frente o grande desafio de se mostrar e demonstrar que é melhoria em relação ao que está aí. Os avanços sociais dos governos tucanos foram poucos, na esfera federal. Serra fez um bom governo, mas explora pouco suas próprias virtudes. A campanha do PSDB também peca em pouco explorar as virtudes do governo FHC. Talvez porque se o fizer, as mazelas do mesmo governo tornarão à tona. Nisso, Serra se perde em ataques e devaneios, ativando o “promessômetro”, e lançando no ar algumas promessas de difícil aplicação, como o salário de R$ 600,00 já no dia primeiro de janeiro. Talvez ganhasse mais mostrando propostas concretas, pois o povo não é mais bobo. Vai ficar aguardando o apoio de Marina ou algum escândalo de última hora para virar o jogo.

A verdade é que os finalistas para o segundo turno não empolgam. Mas entre deixar como está e voltar à época do nascimento do real, o povo não terá dúvida. Você terá?

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

1º de janeiro de 2015


1º DE JANEIRO DE 2015 - por Moacir Poconé

A multidão espera ansiosa. Dentro do quarto, os últimos preparativos. Uma última olhada no espelho. Está quatro anos mais velho, mas pouco mudou fisicamente. Apenas mais fios brancos na barba e nos cabelos. “Vai começar tudo outra vez”, sorri, pensando de como sentiu falta dessa emoção nos últimos anos. Sua vida ficara mais tranqüila. Pôde aproveitar mais o tempo com a família, embora fosse solicitado a todo momento para falar em eventos internacionais sobre a fome e de como mudou a condição da pobreza no Brasil. Sentia orgulho em falar disso e de como saiu da miséria para o cargo mais importante de seu país.

Está mais experiente. Sabe que o trabalho feito pela sua sucessora tem de ser apenas continuado. Também assim foi com ela própria. Manteve as ações sociais, elevou o salário mínimo a um patamar jamais imaginado e a inflação se manteve controlada. “Ainda bem que coloquei uma companheira fiel no meu cargo”, lembra, tranqüilo por ela jamais ter se pensado em se reeleger. Talvez até conseguisse. O povo consumia ainda mais agora e problemas relacionados à saúde e à segurança estavam num nível melhor do que ele mesmo deixara. As ações sociais se consolidaram e os índices brasileiros eram comparáveis aos de países europeus. Ouviam-se críticas apenas em reação à política externa, o calcanhar-de-aquiles desde os tempos de seu governo. “Como é difícil satisfazer a gregos e troianos”, lamenta ao lembrar de Chávez e de Hillary, presidente dos EUA. Porém, o que mais importava era a força com que o seu nome ainda era lembrado pelos brasileiros. Foi emocionante ouvir a multidão no Maracanã quando ocorreu a conquista do hexacampeonato, cantando o seu nome numa só voz e pedindo sua volta.

A campanha foi uma barbada. Começou já com cerca de 80% das intenções de voto nas pesquisas, o mesmo índice que deixara ao sair do Planalto. Um índice tão alto que Aécio desistira de se candidatar. Sobrara mais uma vez para Alckmin tentar impedir o seu retorno. Tudo em vão. “Nunca na história desse país se viu uma vitória tão esmagadora”, iria dizer no seu discurso de posse. Não, melhor não. Poderiam interpretar como uma ofensa. Mas certamente agradeceria à companheira Dilma por ter tomado conta do seu país na sua ausência. E lembraria de como foi importante para o Brasil ter tido a experiência de uma mulher no comando. “Até os Estados Unidos copiou”, ri, cometendo mais um dos seus famosos erros de concordância verbal.

Agora se sentia em casa. Era muito bom voltar ao poder pelos braços do povo, sem ter que dar um golpe ou aumentar o tempo de seu mandato e entrar na história como um ditador. Deveria seguir a Constituição, mostrar seu respeito às instituições. Não que não tivesse vontade. “Bem que a reeleição podia ser quantas vezes o cara quisesse”, pensa, com uma vontadezinha de mandar para o Congresso (no qual tem maioria absoluta) uma proposta nesse sentido. “Mas só vou precisar disso daqui a oito anos. Ainda tenho muito tempo, companheiro”. Uma última olhada no espelho. Os gritos da multidão do lado de fora aumentam.

- Presidente, chegou a hora – diz um dos seguranças.

- Já não era sem tempo – fala baixo o presidente.