sábado, 24 de dezembro de 2011

Então... é Natal!


ENTÃO... É NATAL! – por Moacir Poconé

Chegamos à época dos presentes, das ceias.
Do encontro dos familiares, das viagens.
Mas principalmente a uma época de mudanças.
Algo acontece às pessoas.
Um sentimentalismo parece aflorar.
Mesmo naqueles para os quais o Natal não passa de uma data capitalista.
Momento em que parecemos estar mais abertos ao diálogo, às felicitações.
Pessoas trocam bons desejos ao se verem nas ruas.
Desejam saúde, paz, felicidade um à família do outro e vice-versa.
Coisa que não se vê durante o resto do ano.
Abraços podem até ser vistos num canto ou outro da cidade.
Normalmente, um aperto de mão já é coisa rara.

Esse é o momento mágico do Natal.
A figura do Papai Noel é a estrela para as crianças.
Sua roupa vermelha e o seu saco de brinquedos fascinam os pequenos.
Mas o espírito do Natal aparece nas pessoas comuns.
Nas mesmas ruas da cidade em que se encontram todos os dias.
Mas que agora se manifestam de forma diferente.
Muita gentileza, muita consideração.
A atenção e o respeito que faltam a todos surgem em atos simples.
Canções que falam de amor e amizade podem ser ouvidas no ambiente.
E a atmosfera de confraternização invade os corações.

Quem dera o Menino Jesus tivesse nascido não apenas uma vez.
Mas várias, dezenas, centenas de vezes.
365 vezes para ser mais exato.
E trouxesse, dia após dia, o sentimento do Natal para as vidas de todos nós.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O primeiro ano do resto de nossas vidas


O PRIMEIRO ANO DO RESTO DE NOSSAS VIDAS – por Moacir Poconé

Esta semana, no último dia 13, comemoraram-se trinta anos da grande conquista do Flamengo: a Copa Toyota, considerada na época o Campeonato Mundial de Clubes por colocar frente a frente o Campeão Europeu e o Campeão Sulamericano. Assim, jogaram Flamengo versus Liverpool. Certamente, viu-se uma das maiores apresentações de um time brasileiro em jogos internacionais, com destaque ainda maior para o primeiro tempo, quando o Flamengo praticamente liquidou o jogo ao fazer 3 a 0.

Tratava-se do maior time do Flamengo de todos os tempos e considerado um dos maiores times de futebol já formados: Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico. Esse time, para se ter uma ideia, esse time num intervalo de apenas doze dias disputou e ganhou três decisões: Campeonato Carioca, Taça Libertadores e o Campeonato Mundial de Clubes

Inexplicavelmente (ou talvez pelas dores causadas pelo cotovelo) os adversários do Flamengo tentam diminuir essas conquistas. Falaremos sobre isso.

Uma das grandes mentiras que se espalha é a de que times argentinos e uruguaios não participaram da Libertadores de 81. Os clubes desses países participaram normalmente. Cada um com dois clubes (como previa o regulamento da época), sendo que o Uruguai jogou com três, já que o Nacional, atual campeão, tinha vaga garantida. Da Argentina, tivemos River Plate e Rosário Central. Do Uruguai, além do Nacional, Peñarol e Bella Vista. E o regulamento era muito mais difícil que nos dias de hoje. Eram cinco grupos com quatro times, sendo que apenas o melhor se classificava. Assim, classificavam-se cinco times para as semifinais. O Nacional, campeão da Libertadores de 80, entrava somente nessa fase. Dois grupos de três eram formados e mais uma vez somente o melhor se classificava para a final. Foi assim que Flamengo e Cobreloa do Chile se encontraram na grande decisão que foi disputada em três jogos: o primeiro 2 a 1 para o Flamengo no Maracanã; o segundo, 1 a 0 para o Cobreloa no Estádio Nacional no Chile e o jogo desempate em campo neutro no Estádio Centenário no Uruguai, 2 a 0 para o Flamengo.

Outra grande invenção dos rivais é a de que o Liverpool, adversário do Flamengo na final do Mundial de Clubes era um timezinho de menor expressão do cenário europeu. Primeiro se questiona o fato de não ser o campeão europeu do ano. Não é verdade. O Liverpool efetivamente ERA o campeão da Liga dos Campeões da UEFA. A campanha do time inglês a partir das quartas de final: CSKA (5 x 1 e 1x0), Bayern de Munique (0 a 0 e 1 1) e Real Madrid (1 a 0). Além disso vejam o histórico do time inglês à época do confronto de 1981: campeão inglês (75-76, 76-77, 78-79, 79-80, 81-82, 82-83, 83-84, 85-86), tetracampeão da Copa da Liga Inglesa (1981 a 1984), campeão europeu (76-77, 77-78, 80-81, 83-84). Como se vê não se tratava de um time qualquer. Aliás, o Liverpool era considerado o favorito para o jogo contra o Flamengo.

Nada existe, portanto, que desabone essa grandiosa conquista que completou três décadas mas que é lembrada até hoje. Os dois gols de Nunes (com lançamentos primorosos do gênio Zico) e o gol de Adílio estão definitivamente na história do futebol. São a coroação de um time que personificou a beleza de se jogar futebol.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Para com isso, Pará!



PARA COM ISSO, PARÁ! – por Moacir Poconé

Domingo é dia de plebiscito no Brasil. Aliás, no estado do Pará. Os eleitores daquele Estado deverão ir às urnas para dizer se querem a criação de mais outros dois Estados, ou seja, dividir o Pará em três unidades federativas. Então, teríamos o Pará (já chamado por alguns de Parazinho) e mais os Estados de Tapajós e Carajás.

Muito se falou sobre os benefícios e os problemas da divisão. Esses últimos parecem bem mais claros. A população paraense pelo menos está pensando dessa forma, tanto que a proposta de divisão deve ser rejeitada, segundo os institutos de pesquisa. Para nós, sergipanos, quase que isso não nos interessa (embora devesse interessar, pois o custo das criação dos novos Estados afetaria a todos os brasileiros). Um fato, entretanto, merece ser destacado. Na campanha eleitoral na tv que acontece há mais ou menos um mês, o Estado de Sergipe foi citado. E de forma bastante depreciativa.

Na referida campanha, os simpatizantes do sim (pela divisão) ou do não (contra) se alternaram na defesa de seus argumentos. Atores globais, grupos de música folclóricas, cantoras, enfim, diversos paraenses tentaram convencer a população (de modo muitas vezes sentimental) de que seu posicionamento era o mais correto. Eis que, num desses programas, a campanha do “não” colocou o seguinte argumento (mais ou menos transcrita): “Vejam o caso de Alagoas e Sergipe. Dividiram o Estado e deu no que deu. É pobreza nas ruas, miséria em todos os lugares e a população vivendo de forma deplorável”. Não é preciso ser nenhum doutor em geografia para saber que esse pensamento não corresponde à verdade dos fatos. É falácia pura, engano mesmo para que a população se iluda com mentiras. Primeiro, Sergipe e Alagoas nunca foram um mesmo Estado. Depois, nossa renda per capita e condições de vida dos nossos habitantes estão entre as melhores do país. É a desinformação a serviço da ignorância.

Divisão houve no Brasil há muitos séculos e aconteceu ainda no século XX. E mais ainda podem ocorrer, além da discussão sobre o Pará. Para conhecer melhor o fato, acessem o ótimo link abaixo que mostra a evolução da configuração geográfica do Brasil (e ainda os projetos que preveem novas divisões): http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/infografico/2011/12/02/conheca-as-principais-mudancas-que-deram-origem-aos-estados-brasileiros.jhtm?cmpid=facebook.

É, Pará, resolva a sua vida e nos deixe por aqui. Mas que sejam usados argumentos reais e não bobagens como a relatada acima. A divisão deve ser tratada com seriedade (se é que isso é possível).

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O melhor filme de... Morgan Freeman


O MELHOR FILME DE... MORGAN FREEMAN – por Moacir Poconé

Um ator que há muitas décadas vem brindando os amantes da sétima arte com seu talento, Morgan Freeman teve seu potencial reconhecido a partir do ano de 1989. Foi nesse ano que atuou no badalado Conduzindo Miss Daisy (inclusive sendo indicado ao Oscar de ator coadjuvante) e no épico Tempos de Glória. Desde então, atuou em dezenas de filmes, indo do drama (talvez sua especialidade) à comédia, passando por blockbusters feitos somente para o tempo da pipoca no cinema. Essa versatilidade certamente proporcionou a esse ator negro a quebra de estereótipos, deixando de atuar somente em papéis aparentemente destinados às pessoas dessa raça. Mostrou assim que o talento está muito acima disso e o que importa realmente é a capacidade de um ator emocionar seu público. Os destaques são muitos, mas merecem uma menção especial, (além dos filmes já mencionados) o excelente Os Imperdoáveis, Seven - Os Sete Crimes Capitais (impressionante!), Amistad, o divertido Todo Poderoso, Menina de Ouro (já resenhado nessa seção), Antes de Partir e o ótimo Invictus, quando interpretou o líder Nelson Mandela com maestria.

Como se percebe, a lista não é pequena e garanto que pelo menos uns outros cinco filmes poderiam ser tranquilamente citados (fiquem à vontade...) Isso apenas mostra a força desse grande ator, que traz no ato de dar vida aos seus personagens o objetivo maior de seu ofício.

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"Sei que alguns pássaros não podem viver numa gaiola. Suas penas brilham demais. E, quando eles voam, você fica contente, porque sabia que era um pecado prendê-los."

"Tudo o que é bom, nunca morre."

"Esforce-se para viver, ou esforce-se para morrer." (do filme Um Sonho de Liberdade)

Considerado um dos melhores filmes de todos os tempos por aqueles que não pertencem à crítica especializada, mas que amam a sétima arte, Um Sonho de Liberdade é um exemplo da persistência de um homem para provar sua inocência e, consequentemente, conseguir sua liberdade. Baseado num texto do famoso autor de histórias de suspense Stephen King, o filme tem como protagonista o contador Andy Dufresne, vivido por Tim Robbins. Acusado injustamente do assassinato de sua esposa, Andy é condenado à prisão perpétua. No presídio conhece Ellis “Red” Redding, papel de Morgan Freeman. Uma curiosidade: no texto original, esse personagem é descrito como um irlandês ruivo (daí o Red do nome), mas o diretor do filme exigiu que fosse interpretado por Freeman pois sempre o achou ideal para o personagem.

Após duas décadas preso, mas sem nunca desistir de conseguir sua liberdade, Andy empreende sua fuga, planejada há muito tempo e esperada pacientemente por todo esse tempo. A amizade com Red é sem dúvida um ânimo a mais, embora muitos percalços ocorram na prisão, causados principalmente pelo cínico e egoísta diretor do presídio.

É um filme que, embora tenha suas ações num cenário de opressão, trata de sentimentos demasiadamente humanos, como a amizade e o otimismo. A lição de que nunca devemos desistir daquilo em que acreditamos, por mais difícil que a realidade se apresente. Daí, talvez, o grande reconhecimento que ainda hoje obtém por parte do público. Um filme para ser visto e pensado. Para mim, o melhor filme de Morgan Freeman.

domingo, 27 de novembro de 2011

Citações sobre a vida

CITAÇÕES SOBRE A VIDA – por Moacir Poconé

Toda a vida passamos por “rituais de transição”. O pior de tudo é que em muitos desses momentos não temos ainda a experiência necessária para enfrentá-los de modo correto. Ainda na adolescência, quando somos um tanto quanto imaturos, nos deparamos com verdadeiras provações, como os primeiros relacionamentos ou a necessidade de escolher a profissão que teremos talvez pelo resto da vida. É muita responsabilidade para uma pessoa que não tem ainda duas décadas completadas!

Melhor seria como o que aconteceu com o fantástico Benjamin Button. Esse personagem do espetacular filme nasceu já velho. Na aparência, claro. Mas foi remoçando ao longo dos tempos. Para ele, o tempo em que tinha a melhor força e aparência física coincidiu com sua fase de maturidade. Seria muito bom que fosse assim com todos, pois haveria uma relação de igualdade nas fases da vida, com aspectos psicológicos semelhantes aos corporais. Mas sabemos que na realidade não é assim. Há uma relação inversamente proporcional entre nosso vigor físico e mental, o que leva a muitos a se arrependerem de atos cometidos ainda na juventude e que terão efeitos por toda a vida.


Mas qual graça a vida teria se não cometêssemos esses erros? Se não tivéssemos essa incerteza sobre o que devemos ou não fazer? Existe um poema chamado Instantes que há muito tempo circula pela internet atribuído ao escritor argentino Jorge Luís Borges (embora seja de uma autora americana) que trata justamente desse tema. Mas nele os erros são aceitos como parte importante do aprendizado. “Se eu pudesse novamente viver a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros”, começa o texto. Não somos e nem devemos lutar pela realização plena e completa de tudo. “Não sois máquinas, homens que sois”, disse certa vez o grande Chaplin. E viramos protagonistas e coadjuvantes do mundo que nos cerca.



Afinal, que cabe a nós então se os erros existem e se fazem parte da nossa formação? Saber aproveitar a vida. Carpe diem, como diria o professor de Sociedade dos Poetas Mortos, outro fabuloso filme. Aproveitem a vida, pois ela é passageira. E não dura mais que um piscar de olhos.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O Orkut morreu?


O ORKUT MORREU? – por Vicente Bezerra
 
Essa semana foi anunciado que o Facebook ultrapassou o Orkut em milhares de usuários, no Brasil. E o porquê dessa notícia aparentemente óbvia? O Brasil era o último reduto onde o Orkut resistia, tal qual gauleses resistindo à invasão Romana. Essa semana foi fincada a bandeira do “Face” na Terra de Santa Cruz.

A verdade é que há muito tempo se diz que o Orkut morreu. O Facebook com sua interface mais simples e interativa, e a velocidade de sua expansão, bem como o uso da mídia indiretamente a seu favor – e aí inclui-se o filme Rede Social – contribuíram para sua rápida ascensão.

Mas há um outro fator preponderante: a curiosidade sobre a vida alheia. Foi a curiosidade ao alheio que fez o Orkut estourar em seus primeiros anos. Como a vida de todo mundo ficou exposta, ficou fácil o surgimento de problemas, tais como a difamação de pessoas, a invasão de privacidade e até mesmo fim de relacionamentos, entre outras muitíssimas coisas. O Orkut passou a se policiar, a criar ferramentas para bloquear fotos e para se denunciar abusos, como pedofilia por exemplo.

Mas aí ficou chato. A geração internet ficou sem saber quem ficou com quem no fim de semana, quem viajou pra onde, quem está namorando, e etc. e etc. Veio o Facebook e escancarou a privacidade de novo. Agora, por exemplo, todos os seus amigos sabem que aquela solteirona encalhada está “sozinha, mas feliz”. Sabem que aquele amigo seu disse que “o Asa arrêa!”, embora tenha pago o olho da cara para ficar no aperto, tomar empurrão, ficar horas na fila do banheiro, beber cerveja quente e pegar umas “bozengas” que ele vai afirmar que eram gatas. O Facebook vende a imagem da vida feliz, da gabolice gratuita, do intelectualismo de frases feitas (quando não parachoques de caminhão), da felicidade depressiva (porque você afirma que tá ótimo, mas tá com a cara no travesseiro) e da curtição. E que graça tem se você não souber que seu amigo fez isso tudo? E você pode curtir também! Esse é o mote do “Face”.

E o Orkut morreu? Ainda não. Mas não diga que o usa. Vão olhar torto pra você. Vão falar que você é ultrapassado, está “out”. Vão cochichar que você é Nerd. Na verdade o Orkut sobrevive graças às comunidades. Lá a pessoa pode encontrar um tema do seu interesse e debater sobre o mesmo, como por exemplo, o artista que você gosta, o escritor, algum tema que lhe atrai, até mesmo debater sobre a programação de canais de Tv. É ainda atraente, além do fato de trocar opinião sobre o assunto com quem você não conhece e aprender. Nisso o “Face” engatinha.

Morte do Orkut? Não curto.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A doença e a doença de Lula


A DOENÇA E A DOENÇA DE LULA – por Moacir Poconé

Há no Brasil uma doença que ataca as pessoas de modo indistinto. Seja de que classe social for, credo, sexo ou militância política. Aparece quase que sorrateiramente e, quando menos se espera, eis que passa a fazer parte do consciente coletivo, sendo aceita como verdade incontestável. Esconde-se atrás da máscara da indignação, mas traz, em verdade, o toque do cinismo. Essa doença chama-se hipocrisia.

Seu último ato se deu nos últimos dias com a divulgação do câncer na laringe do ex-presidente Lula. Logo após o choque e o sentimento de piedade de muitos, surgiu um movimento na internet para que o ex-presidente fizesse o seu tratamento num hospital público “para ver como são tratados os doentes do SUS”, afirmavam. Percebe-se nitidamente o tom de vingança no pensamento mesquinho e aproveitador. Aliado a isso, há o tom de desafio combinado com o deboche. Como sentimentos tão vis podem ser direcionados a alguém (quem quer que seja) que enfrenta um drama como esse? A resposta é simples: os idealizadores do tal movimento colocam-se como cidadãos indignados com a condição da saúde no Brasil. E acham (vamos acreditar) que fazem um protesto em favor da população. Nada mais são que meros hipócritas.

Primeiro, porque o Brasil é reconhecidamente um país em que o Sistema Público de Saúde atende com ótimas condições doentes com câncer. Há vários hospitais públicos nos quais o ex-presidente poderia se internar e receber um tratamento similar ao que recebe no Hospital Sírio-Libanês. A crítica que pode (e deve) ser feita é que esses hospitais públicos estão quase sempre localizados no Sul e Sudeste do país. Mas Lula poderia receber o tratamento tranquilamente. Segundo, porque o ex-presidente, como qualquer cidadão, tem plano de saúde. Pago há muitos e muitos anos, pois prefere o atendimento particular. Se será ou não utilizado é outra história, mas o fato é que ele possui esse direito pois pagou para isso. Não é esse o sentido da democracia? Cada um não escolhe aquilo que acha melhor para si, desde que tenha meios para isso?

Aproveitaram-se de um fato pessoal lastimável para levantar bandeiras políticas. Pior: levantadas com a força da raiva e do ódio. Lula certamente se curará da doença que hoje o atinge. Mas a outra doença, a hipocrisia, é maior que qualquer quimioterapia ou radioterapia. Não tem cura e se alastra como um câncer pela sociedade, que apenas se decompõe sem qualquer reação.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O melhor filme de... Jack Nicholson




O MELHOR FILME DE... JACK NICHOLSON – por Moacir Poconé

Um dos mais versáteis atores de Hollywood, Jack Nicholson é sinônimo de grande interpretação, seja em comédias, dramas ou mesmo filmes de suspense. Sua maneira de encenar muitas vezes é alvo de críticas, que a consideram exagerada. Mas não é nada disso: Nicholson certamente interpretou papéis que exigiam justamente essa característica, como o Coringa do primeiro Batman e o cheio-de-tiques Melvin Udall no ótimo Melhor é Impossível, que inclusive lhe valeu o Oscar de Melhor Ator. Inesquecível também seu personagem Jack Torrance, protagonista de O Iluminado, filme sempre presente nas listas de melhor filme de terror de todos os tempos. Numa oposição, destaque-se o caricato Dr. Buddy Rydell na comédia Tratamento de Choque. No drama, destaque entre outros filmes, àqueles que lhe garantiram seus outros dois prêmios Oscar: de ator coadjuvante, em Laços de Ternura e mais um de ator principal pelo excelente Um estranho no Ninho. Seus filmes mais recentes, como As confissões de Schmidt, Alguém Tem que Ceder, Os Infiltrados e Antes de partir, mostram que, apesar da idade (tem 74 anos), Nicholson continua sendo um ator de muitos recursos e sempre disposto a trazer para a sétima arte personagens memoráveis.

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Ao lado de Aconteceu Naquela Noite (1934) e O Silêncio dos Inocentes (1991), Um Estranho no Ninho é um dos poucos filmes a ganhar os cinco principais prêmios Oscar: melhor filme, melhor direção, melhor ator, melhor atriz e melhor roteiro adaptado. A premiação não foi exagerada: trata-se de um dos filmes que marcaram a década de 70 e que freqüenta as listas de maiores filmes de todos os tempos.

Baseado no romance homônimo de Ken Kesey, o filmes se estrutura em torno do protagonista: o malandro Randle McMurphy, que ao ser preso, finge ser louco com o intuito de cumprir sua pena num hospital psiquiátrico, onde julga terá melhor tratamento que numa prisão. Agindo de forma irônica e irresponsável, McMurphy passa a influenciar os demais internos, causando revoltas na clínica e despertando a ira da cruel enfermeira Mildred. Começa então uma verdadeira análise sobre comportamentos e conceitos: quem são os loucos? O que é fazer o bem para as pessoas que julgamos loucas? Somos todos preconceituosos?

Numa outra análise, temos a regra e a ordem ditadas a ferro e fogo pela enfermeira e a transgressão e a rebeldia incorporadas por McMurphy. Não há espaço para os dois, que querem não apenas dominar o outro, mas impor a sua verdade no ambiente recluso em que vivem. O "estranho" que dá título ao filme representaria não um ou outro personagem e sim todos aqueles que quebram as regras impostas no mundo em que vivemos. Infelizmente, esse comportamento não é aceito pela maioria (ou por aqueles que dominam), o que faz surgirem sanções, muitas vezes terríveis. Por isso o desfecho chocante, concebido de forma tão radical quanto verossímil.

Para interpretar McMurphy não se imagina outro ator senão Nicholson. Seu cinismo e ironia estão no ponto certo. O modo com que zomba do sistema e coopta os loucos a segui-lo o transforma num líder sem causa estabelecida. E seu declínio nos faz tornar piedosos de sua mísera condição. Personalidades tão distintas de uma mesma personagem que apenas um grande ator consegue criar. Um verdadeiro clássico do cinema, desses que vale a pena ver por diversas vezes. Para mim, o melhor filme de Jack Nicholson.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Mentes tão bem


MENTES TÃO BEM – por Vicente Bezerra

Zezé di Camargo e Luciano são, possivelmente, a dupla sertaneja de maior êxito no país. Sucesso na música, sucesso inclusive no cinema. Pode-se questionar o estilo e a música, mas não se pode ignorar a importância midiática dos dois no segmento “sertanejo”. Porém, há mais ou menos umas três temporadas esse poderio esteve ameaçado por duplas emergentes como Bruno e Marrone, Vítor e Léo e mais recentemente por artistas solo como Paula Fernandes, Michel Teló e Luan Santana.

Os dois filhos de Francisco ficaram ofuscados. A verdade é que depois do sucesso do melodrama trágico baseado suavemente em fatos reais (o filme e sua trilha), Zezé e Luciano viveram de cds e dvds de regravações. Os sucessos rarearam, à exceção talvez da canção “Mentes tão bem”, que mesmo assim teve repercussão mediana ante as massivas execuções radiofônicas anteriormente experimentadas pela dupla.

Os sertanejos foram então em busca de algo impactante e que retumbasse na mídia. Como uma Gretchen em seu 89º casamento, criaram um factóide para atrair a atenção. E conseguiram. Na última semana a “separação da dupla” foi um dos assuntos mais comentados, ofuscando por vezes os problemas de saúde de Lula, da corrupção no Ministério dos Esportes e no PC do B e do Governo Dilma.

Eis que Luciano “briga” com o irmão, não sobe ao palco inicialmente, para depois de uns minutos anunciar, já no palco, que não pretendia mais seguir com a dupla. A velocidade da internet – através de twitters e youtube – espalhou a notícia. E tomou conta da mídia, para alegria das Sônia Abrãao da vida. E muito se debateu sobre o assunto, correntes pró união foram criadas e a imprensa em geral torcia pela volta da dupla.

Como a Viúva Porcina, que foi viúva sem nunca ter sido, assim foi a volta do que nunca teve separação. E o anúncio da “volta” se deu praticamente em rede nacional, onde o erudito Jô Soares se prestou ao ridículo papel de entrevistar a dupla e tentar nos fazer engolir a ridícula desculpa para a tal briga motivadora da separação. Que Jô Soares e seu programa há muito vem decepcionando não é novidade. Mas se igualar à já citada Sônia Abrão e ao Tv Fama foi de doer. Não bastasse isso, passou o programa a bajular e tirar brincadeirinhas a respeito de briguinhas de irmão.

O motivo da briga? Ninguém sabe. Disse o Luciano que tomou Rivotril (um remédio “controlado”) e misturou com Whisky. Antes, enfatizou que nunca bebera, nem nunca brigara com irmão. Tá certo, acreditamos. A verdade? Na verdade pouco importa. O que importa é que não nos fazem de bobo. Não mesmo.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Não se fazem mais novelas como antigamente


NÃO SE FAZEM MAIS NOVELAS COMO ANTIGAMENTE – por Moacir Poconé

Parece coisa de saudosista, mas é a pura verdade: não se fazem mais novelas como antigamente. Digo isso não pela produção em si, pois é inegável o avanço em relação a aspectos técnicos. Falo do enredo e da criação de personagens que marcaram a televisão brasileira e as pessoas que puderam acompanhar esses campeões de audiência.

Um grande exemplo disso que falo é a macrossérie (ou mininovela) O Astro. Sucesso absoluto na década de 70, é considerada uma obra inovadora da mestre Janete Clair, aclamada como maior autora de telenovelas que já houve no Brasil. O típico final “quem matou?” tão copiado em outras diversas novelas surgiu em O Astro, quando o Brasil praticamente parou para saber quem era o assassino de Salomão Hayala. Vejam o que diz o site Memória Globo: “O assassinato do industrial Salomão Hayala (Dionísio Azevedo) mobilizou os telespectadores e transformou em bordão a pergunta: “Quem matou Salomão Hayala?”. Janete Clair só revelou a identidade do assassino no último capítulo da trama, deixando o país inteiro numa grande expectativa. Três dias depois de terminada a novela, Carlos Drummond de Andrade escrevia em sua coluna no Jornal do Brasil: “Agora que O Astro acabou vamos cuidar da vida, que o Brasil está lá fora esperando”. Além disso, trazia como personagem principal uma figura que não se sabia se era vilão ou mocinho: Herculano Quintanilha. Inescrupuloso, ambicioso e ao mesmo tempo o galã da trama. Todos esses elementos se repetiram na refilmagem que termina hoje. Claro que a repercussão foi menor que a de quatro décadas atrás, mas os índices de audiência foram tão bons que se cogitou esticar a mininovela em mais vinte capítulos além dos sessenta programados (serão sessenta e quatro).

Recentemente, algo semelhante aconteceu com a novela das sete Ti Ti Ti. Para alguns, inclusive, com interpretações ainda melhores que as da primeira versão, o que apenas prova a importância do enredo para a qualidade da novela. Victor Valentim e Jacques Leclair serão lembrados como grandes protagonistas que foram. Algo que não acontece com as novelas “inéditas” da Globo. Os personagens têm alguma repercussão (afinal, trata-se da Globo) no momento em que a novela está sendo exibida. Mas ao terminar, pouco se comenta sobre eles. Caem no esquecimento de tal forma que até a própria novela fica meio esquecida. Para citar, algumas novelas dos anos 2000 que certamente poucos lembrarão: Beleza pura, A lua me disse, Como uma onda, Duas caras e outras mais que não deixaram marcas. Será esse o destino, provavelmente, de A vida da gente, Aquele beijo e Fina estampa, as atuais novelas da Rede Globo. Novelas sem inovação, com fórmulas repetidas e chavões mais do que batidos. Uma exceção surge de tempos em tempos (como foi o caso de Cordel encantado), mas é apenas uma exceção. A regra é a imitação, o déja vu. Cópia por cópia, melhor as refilmagens. A Globo já percebeu isso. Ano que vem, por exemplo, teremos Gabriela. Certamente, velhas (boas) histórias novas serão contadas.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Abre o olho, Fidel


ABRE O OLHO, FIDEL – por Moacir Poconé

Foram chocantes as imagens que correram o mundo mostrando o fim do ditador líbio Muammar Kadhafi. Em meio a uma turba ensandencida, vemos o outrora todo poderoso comandante tal qual um boneco de pano, sendo levado para o abraço da morte. Em seguida, a foto que estampa essa postagem, do ditador já morto para o alívio de muitos líbios que sofreram ao longo de quarenta e dois anos com um regime de opressão e milhares de mortes. Alguns se lembraram da captura do ditador iraquiano Saddam Hussein, igualmente reduzido à situação de reles mortal, mas ao menos executado por forças do Estado. Já Kadhafi não teve sequer esse “privilégio”: foi morto ali mesmo, na rua, linchado e com tiros no abdome.

Neste ano, vimos populações de países africanos e do Oriente Médio se rebelando contra ditadores que há décadas estão no poder. A internet certamente foi elemento essencial para que isso acontecesse. Outro ponto que deve ser considerado é a vontade das pessoas de exprimirem seus anseios, independente do que possa lhes ocorrer. Já há ditadores de outros países como Iêmen e Síria sendo apontados como a “bola da vez”. É interessante que outros eternos donos do poder coloquem as barbas de molho, literalmente. Inevitável não se pensar nos irmãos Castro, Fidel e Raúl, que a ilha de Cuba desde 1960, com um regime igualmente opressor e sanguinário.


Governando Cuba desde a derrubada do ditador Fulgêncio Batista, Fidel Castro, se manteve no poder até o momento em que teve forças físicas para isso. Passou o poder para o irmão, Raúl em 2008. Dono de ideias consideradas mais “liberais”, o país tem passado por certas transformações do ponto de vista econômico (foi liberada este ano a compra e venda de carros na ilha), mas a liberdade de expressão ainda é artigo raríssimo na ilha caribenha. Ao longo de décadas, cubanos fugiram rumo aos Estados Unidos e nada se soube do eu ocorria na ilha. A pergunta agora é: até quando?


Diante do desfecho trágico imposto a Saddam Hussein e agora a Muammar Kadhafi, é bom que Fidel Castro e seu irmão comecem a pensar numa saída mais digna ou, pelo menos, que lhes permita sobreviver. Antes que seja tarde demais...

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O que conduz


O QUE CONDUZ – por Moacir Poconé

É interessante a etimologia, ou seja, a ciência que estuda a origem das palavras. Hoje, por ocasião do dia de amanhã, pesquisava sobre a palavra “professor” e sua escrita nos mais diversos idiomas.

Comecemos pelo nosso português. Professor, em sua origem, é “aquele que professa”, ou seja, aquele que declara, que tem a convicção de algo ou ainda que ensina. Em inglês temos o vocábulo “teacher”, derivado do verbo “to teach” que é o verbo ensinar. Em espanhol, temos o termo “maestro” equivalente a mestre”, que nada mais é do que aquele que conduz”. Voltando ao termo professor, temos em francês “l’enseignat”, ou seja, “o que ensina”.

Percebam que invariavelmente temos a noção de ensinar, de conduzir ligada ao termo professor. Daí que podemos ampliar de maneira especial o conceito do que realmente vem a ser um professor. Temos muitos mais professores do que supomos. Ao longo de toda a vida, desde as primeiras lições para o amamentar, o ficar de pé, o andar e o falar. Crescemos aprendendo e recebendo novas lições. Dos pais professores passamos aos amigos professores, que nos ensinam o que fazer (embora muitas vezes nem eles mesmos saibam como!). E no trabalho, no uso de novos aparelhos eletrônicos, no aprendizado de nova atividade, passamos a vida recebendo lições das mais diversas.

O curioso é que também somos todos professores. Muitas vezes ensinamos coisas que sequer conhecíamos. Orientamos, conduzimos, instruímos aqueles que amamos e que confiam em nós. Essas lições do dia-a-dia não são planejadas ou pesquisadas de forma prévia. Aparecem em nossa frente e exigem uma resposta imediata, trazendo conseqüências muitas vezes inesperadas, pois a vida é assim mesmo: uma sucessão de fatos que nos conduzem pelo tempo.

Mas amanhã é o dia do professor. Aquele da sala de aula. O que dentre todas as pessoas que ensinam, que conduzem, recebe pela sociedade esse título. Isso mesmo. Mais do que uma profissão, pode-se dizer que “professor” se trata de uma verdadeira honraria. Não reconhecida por muitos, é verdade. Mas que nem precisa ser. O professor já traz no seu próprio nome a importância daquilo que faz.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Três coisinhas de valor...



TRÊS COISINHAS DE VALOR...* - por Vicente Bezerra

Ironias à parte, um dos personagens da semana não merece o complemento ao título: Steve Jobs. Mas para ele não sair ileso, deixo essa imagem do post para manter a verve humorística do texto (né Moacir?).

Justin Bieber já foi comparado aos Beatles, pelo seu “descubridor” (com essa grafia mesmo). Na verdade, o tal de Scooter Braun, disse que ele seria superior aos mesmos. Efeitos de drogas alucinógenas à parte, Bieber pousou no país para uma série de apresentações em playback. Não sou eu quem diz isso, mas reportagens com especialistas em sonorização deduraram o fedelho. E as púberes reclamam? De forma nenhuma. As demonstrações de histeria coletiva e desespero povoaram os noticiários, sempre com um depoimento de alguma garota de aparelhos a gritar, a ponto de parecer que iria babar na câmara. Baba, baby! Freud explica. Para nossa sorte, esses “fenômenos” catastróficos musicais não duram até a adolescência. Delas. Daqui a alguns poucos anos estarão todas com vergonha de ter gritado tanto pelo Biba. Que nos digam as fãs de Menudo, Back Street Boys e asseclas.

Michael, o Jackson, voltou ao noticiário essa semana. Está acontecendo o julgamento do médico Conrad Murray, para saber se o profoprofoforproforpropolol foi dado em dose exagerada, se é que foi o doutor mesmo que deu. Mas o interessante é que, a aura de santo dada a Michael quando da sua morte foi esquecida. Explico. Quando Jackson morreu, muitas maluquices, esquisitices e outras ices dele foram esquecidas ou justificadas sob a desculpa da infância problemática que o mesmo teve. Mais de um ano depois de sua morte, precisamente agora no julgamento, mais bizarrices do astro vem à tona. Descobriu-se que Wacko Jacko (apelido “carinhoso” dado por Mick Jagger) dormia com bonecas! Foi exibida também uma foto do mesmo morto, na maca hospitalar. E ainda foi divulgada uma gravação, facilmente encontrada no youtube, em que Michael, perceptivelmente grogue, diz coisas sem sentido, frases desconexas, numa pronúncia muitíssimo arrastada. Isso fora a descoberta de que o mesmo usava uma sonda para urinar enquanto dormia. Foi dito também que Jackson estava faltando muito aos ensaios e havia grande preocupação com sua saúde e com a possibilidade do seu insucesso na turnê. Havia expectativa de um vexame nas suas apresentações. Descobriu-se, ao contrário do que mostrou o documentário “This is it”, que seria o ocaso do decadente Michael Jackson.

Tudo o que poderia ser dito sobre Steve Jobs e sua genialidade já foi dito por aí. Mas o blog também quer deixar seu registro. O gênio criativo de Jobs transformou em poucas décadas a humanidade e sua forma de comunicar-se. As invenções, as idéias dele estão ao nosso redor e influenciam diretamente o nosso dia a dia. Sem sombra de dúvida, seu nome já está no panteão que une Da Vinci, Santos Dumont, Benjamim Fanklin, Guilhermo Marconi, Cristóvão Colombo, Thomas Edison, entre outros que não me veem agora. Mas o mundo pouco percebeu outro aspecto: sua doença. O câncer ainda é um grande desafio à raça humana. Digo isto imaginando que Steve, milionário, dono de uma das maiores empresas do globo, uma mente privilegiada, teve condições e recursos que julgo serem os máximos, para tratar-se com o mais avançado medicamento, no hospital mais tecnológico possível, com os médicos mais preparados. Mas perdeu a batalha para a doença. Morre prematuro o gênio, fica a Terra órfã de mais um filho que mexeu com ela. E que venham outros. Assim caminha a humanidade.

Para encerrar, uma frase que não sei o autor, e que vi essa semana. Achei muito interessante: “Ao fim de um jogo de xadrez, rei e peão sempre voltam para a mesma caixa...”

* - Aos leitores do Zimbabue, Nova Guiné, Suriname e outras plagas, há um ditado infantil por estas terras que diz: “três coisinhas de valor: papel, penico e cocô”. E viva ao dia das crianças!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O melhor filme de... Nicole Kidman


O MELHOR FILME DE... NICOLE KIDMAN – por Moacir Poconé

Atriz inicialmente conhecida por ser a mulher de Tom Cruise, com quem esteve casada por onze anos, Nicole Kidman mostrou em sua carreira ser muito mais que isso. A beleza dessa australiana certamente fez com que os críticos torcessem o nariz para ela, que precisou de mais de uma década de pequenos filmes e curtas aparições para enfim alcançar um papel de destaque em Hollywood. O ano da grande virada é 2001, quando estrela dois grandes filmes: o musical Moulin Rouge! e o suspense Os Outros. Recebe duas indicações de melhor atriz ao Globo de Ouro (ganha por Moulin Rouge!) e uma indicação ao Oscar (também pelo musical).

Já no ano seguinte, chega ao auge com a conquista do Oscar pelo filme As Horas, no qual interpreta a escritora Virginia Woolf. Para se ter uma ideia da dificuldade desse papel, Nicole, que é canhota, teve que aprender a escrever com a mão direita, uma vez que a escritora inglesa era destra. Tornou-se enfim uma atriz reconhecida por seu talento, interpretando desde mulheres sofridas a mocinhas apaixonadas. Destaque para as obras Cold Mountain, Reencarnação, Australia, Nine e Reencontrando a Felicidade, pelo qual recebeu mais uma indicação ao Oscar. É uma atriz ainda jovem, nascida em 1967, que certamente acrescentará novos sucessos e primorosas interpretações à sua já numerosa lista de sucessos.

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"A coisa mais importante que você pode aprender é amar e ser amado em troca."

"Espero que não se importe / que eu tenha colocado em palavras / como a vida é maravilhosa enquanto você está no mundo."

"...E não há montanha tão alta nem rio tão extenso, cante esta canção e eu estarei sempre lá ao seu lado. Tempestades podem surgir e estrelas colidirem, mas eu te amarei até o dia da minha morte..." (do filme Moulin Rouge!)

De um modo geral, as pessoas não gostam de musicais. Soa estranho quando os atores, sem mais nem menos, começam a cantarolar canções enquanto a ação fica suspensa, esperando que o número musical termine. Não se tem essa impressão ao se assistir o belíssimo filme Moulin Rouge! (que no Brasil recebeu o dispensável título Amor em Vermelho). Baseado em três óperas (La Boèheme, La Traviata e Orfeu e Eurídice), o filme retrata toda a beleza da dançarina Satine, interpretada com primor por Nicole Kidman. Ela enfeitiça os homens que freqüentam o famoso cabaré francês que dá nome ao filme com sua sensualidade e seus traços perfeitos. Uma verdadeira deusa dos palcos.

É fim do século XIX e o personagem principal é um poeta tristonho chamado Christian (interpretado por Ewan McGregor). Vindo do interior, conhece um grupo de atores e escritores, levando uma vida boêmia, regada a doses homéricas de absinto e noitadas intermináveis com prostitutas. Até o dia em que, ao visitar o famoso Moulin Rouge, assiste ao espetáculo de Satine. Passa então a disputar seu amor com o aristocrata Duke, que por sua condição financeira parece ser o preferido da dançarina. Começa a partir daí a luta do casal formado por Christian e Satine pelo amor eu parece impossível. Mas haverá ainda um inimigo muito maior (e mais perigoso) que o Duke.

Quanto aos aspectos técnicos, o filme nos enche os olhos. A fotografia do filme é fabulosa, repleta de cores vibrantes que parecem saltar da tela. Os figurinos e a reconstituição de época nos levam a Paris do final do século XIX. E, finalmente, a trilha sonora é excelente. Aquilo que mais causa temor a quem odeia musicais (as músicas em meio às cenas, como já dito) aparece integrado ao filme, como fazendo parte realmente do roteiro. Nada está ali por acaso e sim como parte da história de amor do casal protagonista. Além disso, são verdadeiros clássicos da música pop internacional, o que pode inicialmente causar estranheza pela época em que se passa o filme, mas que depois se mostra uma saborosa coletânea de canções amorosas. O maior destaque é Your Song, do hitmaker Elton John. Mas temos ainda Lady Marmelade, Children of the Revolution, Like a Virgin, The Show Must Go On, Pride, Material Girl, dentre outras. A cena chamada de Elephant Love Medley merece um bis ou uma visita no You Tube. Clássicos como Love is a Many Splendored Thing, All You Need is Love se misturam com os temas dos filmes Titanic e O guarda-costas. Heresia para alguns. Diversão para outros. Mas que vale a pena ser conferida. (O link para a cena com tradução em português é: http://www.videolog.tv/video.php?id=305231).

A interpretação de Nicole mereceu aplausos da crítica e do público. Seu empenho, inclusive, custou-lhe uma costela quebrada e o rompimento dos meniscos de um joelho. Esforços causados pelas cenas de dança. Mas que fizeram com que a atriz saísse de uma posição secundária para o estrelato. E conseguiu isso sem perder a beleza e a sensualidade que antes pareciam ser empecilhos para o êxito. Um grande , mesmo sendo um musical, como acham alguns. Para mim, o melhor filme de Nicole Kidman.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Habemus Rock, in Rio?

 
HABEMUS ROCK, IN RIO? – por Vicente Bezerra

A pergunta se impõe, assim como a polêmica: se é Rock in Rio, não deveria ter só rock? E campanhas na internet sugeriram mandar bandas de metal para balancear um pouco, no carnaval. Mas a resposta é mais simples do que parece. Não é verdadeiro esse argumento, porque desde o 1º Rock in Rio houve atrações que nada tinham de rock, a exemplo de Elba Ramalho cantando “Banho de cheiro”. Vale lembrar que o axé, como ritmo incluso no nosso pop nacional, não existia. Mas deixa pra lá. É mania de roqueiro implicar com tudo, contestar, reclamar (eu sou roqueiro!). Vamos fazer um balanço do que foi esse Rock in, enfim, no Rio.

ELTON JOHN: Por mais piegas que seu som pareça ser, Elton John tem uma carreira sólida e com hits emplacados pelo mundo inteiro. Dividiu a noite com Claudia Leitte, Katy Perry e Rihanna, sofrendo da falta de recepção por parte dos presentes, mas não se importou (até o final, quando recusou fazer bis pela plateia já estar pedindo por Rihanna) e fez uma apresentação memorável, de alguém que é reconhecido pelo seu trabalho há mais de quarenta anos. Foi um desfile de boas baladas e deu uma qualidade maior à noite. O ponto negativo fica pelo fato de Elton não cantar mais algumas de suas canções no tom original, vide “Goodbye yellow brick road”.

RED HOT CHILI PEPPERS: A grande atração do segundo dia do festival não poderia decepcionar, mas decepcionou. Em um repertório ainda recheado de hits do passado, a ausência do guitarrista John Frusciante foi sentida em alguns momentos, mas seu substituto, Josh Klinghoffer, se esforçou bastante. Ainda falta algo a ele, talvez entrosamento. Aguardemos. Os outros integrantes têm competência comprovada, desde a poderosa cozinha de Flea e Chad Smith até o vocalista Anthony Kiedis, que melhorou sua performance após conquistar a sobriedade alguns anos atrás. O Red Hot comprometeu um show certeiro e cheio de sucessos por conta dos grandes intervalos entre as músicas, esfriando boa parte da galera.

MOTÖRHEAD: A apresentação do trio Motörhead, liderado pelo vocalista e baixista Lemmy Kilmister, fez com que a grande maioria dos grupos anteriores parecessem meras bandinhas de garagem. A crueza e a força do som dos caras ao vivo é incrivelmente cativante. Clássicos foram destilados do início ao fim sem complicações e falhas perceptíveis. É o show de sempre, com as músicas de sempre e com a energia de sempre. Quem liga?

METALLICA: Potente e pesado, o Metallica fez um dos maiores shows desta edição - em termos de estrutura e repertório, com quase duas horas e meia de Heavy Metal digno de uma das três grandes bandas do estilo. Canções de toda a carreira da banda figuraram no repertório, que ainda teve Orion, pouco tocada ao vivo, em homenagem a Cliff Burton, cujo falecimento, num acidente de ônibus, teria seu 25° aniversário alguns dias depois do show.

LENNY KRAVITZ: Apesar da recepção morna do público, Lenny Kravitz fez um show muito bom. O repertório escolhido estava envolvente e recheado de boas músicas. O cantor e guitarrista, que estava acompanhado de uma banda excelente, impôs respeito e convenceu até mesmo quem estava lá por conta das outras atrações, como Shakira e Ivete Sangalo. Só pecou pela pouca interação com a plateia, que gerou a recepção morna anteriormente citada. O cara é muito marrento!

SYSTEM OF A DOWN: O SOAD é uma banda estranha por natureza. O que esperar de descendentes de armênios fazendo um som pesado? O que esperar de melodias árabes mesclada com peso e trechos lentos, dentro de uma mesma música? É estranho, mas funciona e é legal. Mas ao vivo, decepcionou um pouco. Talvez pelo fato de terem voltado a banda há pouco tempo.

GUNS N' ROSES: um texto que vi na net resume um pouco o que foi o Guns no RIR 2011: a banda não merece os fãs que tem. Os músicos são extremamente competentes, tecnicamente melhores que seus anteriores e que simplesmente amam o que fazem. O problema é o seu vocalista Axl, o único membro da formação original. Não possuindo a mesma voz de outrora (e nem sabe usá-la dentro das suas atuais limitações) derrapou em algumas músicas e demonstrou chateação em outros momentos do show. Não foi uma nulidade total, pois ainda conseguiu agitar bastante a galera nos clássicos mais pesados. Nas baladas, derrapou bastante.

CLÁUDIA LEITTE: A cantora de Axé estava realmente deslocada no festival, mas tinha chances de conquistar o público presente, pois esteve no cast do dia com mais atrações pop. Só que sua arrogância e prepotência impediu isto. Não é apenas uma questão de gosto musical: a mulher mandou mal ao achar que Rock In Rio é micareta e que todo mundo deveria ficar pulando durante o show, visto que gente de todo o país estava guardando lugar para performances posteriores. Ainda criticou as vaias, falando mal dos roqueiros, que nem estavam presentes na ocasião - o que estariam fazendo lá na mesma data dos shows de Rihanna e Katy Perry?

IVETE SANGALLO: Ao contrário da sua imitadora, fez o seu sempre animado show e com o seu carisma e simplicidade, mandou bem. Meio nervosa no início, mas na terceira música já passeava no Palco Mundo. Ainda deu uma canja no show de Shakira.

SHAKIRA: Ah, Shakira! Que sensualidade! A colombiana foi, sem dúvida, quem mais interagiu com o público, falando quase que o tempo todo em português. Mas como eu não poderia deixar de falar mal, seu ponto negativo foi assassinar o clássico “Nothing else matters” do Metallica, numa versão bisonha.

SNOW PATROL: Salvando-se uma ou outra música do quinteto escocês, faltaram travesseiros para o público durante a apresentação. O som alternativo do Snow Patrol é calmo e, em muitas horas, entediante. Acalmou quem estava agitado pela apresentação anterior do Capital Inicial e descansou aqueles que aguardavam o Red Hot. Não sei se isso é bom ou ruim, mas o show dos caras foi, sem dúvidas, um dos piores do festival, junto com o de Rihanna (que foi quem mais mereceu os impropérios destinados aos roqueiros por Cláudia Leitte com dois tês).

ANGRA E TARJA TURUNEN: Apesar da importância da banda para o metal brasileiro e da competência dos instrumentistas (alguns dos melhores do mundo em termos de Heavy Metal), a performance do Angra no Rock In Rio foi apática. A presença da vocalista pseudolírica Tarja Turunen, ex-Nightwish, equilibrou um pouco o jogo. Mas os problemas estavam visíveis e a interação entre os membros da banda era mínima. Além disso, Edu Falaschi cantou muito mal - e ainda atribuiu suas falhas ao som do festival. Acreditei por um momento que o show espantaria rumores de dissolução da atual formação, até que o próprio cantor anunciou que estará afastado por tempo indeterminado para recuperar a saúde de sua voz.

LEGIÃO URBANA + ORQUESTRA SINFÔNICA BRASILEIRA: A banda acabou com o falecimento de Renato Russo mas os membros remanescentes, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, insistem em viver de passado. Não vingaram desde o fim do conjunto e, no argumento de "homenagem", fizeram uma apresentação fraca e dispensável. Nem falo de algumas participações dispensáveis. A elogiar, apenas a performance de Tony Platão, um vocalista que merecia melhor sorte. O problema é que sempre o comparam à Cássia Eller...

KE$HA: O que é isso? Pouco talentosa e muito extravagante, a cantora Pop tenta apostar desde sempre no visual para conquistar repercussão. Mas os mais atentos à sua música percebem que a estadunidense não manda bem. Até mesmo ao vivo sua voz está recheada de Auto-Tune (afinador automático) e sua performance é fraca. Dispensável. Na próxima edição, duvido que alguém ainda saiba quem seja.

MARCELO D2: Não bastava ser chato, ainda teve que assassinar alguns hinos do Rock juntamente de Fernandinho Beat Box. D2 tenta misturar samba, rap e mpb mas só faz bizarrice. Sua apresentação no Rock In Rio não foi diferente: bizarra.

COLDPLAY: Atração principal de um dia de outras boas atrações como Maroon 5 e Maná, o Coldplay conseguiu jogar pra galera. Com a coleção de hits que possui, pra pouca idade da banda, a apresentação, embora meio morna, garantiu o empate fora de casa. O que é um bom resultado.

MANÁ: O que os mexicanos mais sabem fazer é rimar com “corazón”! E fizeram um show muito bom, sincero, desfilando seus hits já conhecidos em terras brazucas. É a maior banda a cantar em castelhano no mundo. Gosto de graça.

PARALAMAS DO SUCESSO + TITÃS: Gosto das bandas em questão, mas não esperava uma performance tão energética e emocionante. O show abriu o festival em termos de Palco Mundo e todos os envolvidos mandaram muito bem. Canções eternamente populares em território brasileiro como Epitáfio, Alagados, Polícia e Meu Erro agitaram o público, que compareceu em massa para as atrações pop que viriam em seguida. Representaram e muito bem sua geração e foram uma das melhores coisas nacionais no evento.

GLORIA: “Glória, glória aleluia! Queremos rock´n´roll”. Com esse coro “religioso” e com muitas vaias, o Glória foi recebido. A ovelha negra de todo o festival foi vaiada do início ao fim pelos metaleiros na plateia. Alguns se justificam dizendo que o Gloria é uma banda emo, enquanto outros alegam que o grupo tomou o espaço do Palco Mundo de gente supostamente melhor, como o Angra e o Sepultura. Os motivos dos caras terem ocupado o palco principal devem estar relacionados a jabá de gravadora e a banda deve amadurecer na área das vozes e das composições e o instrumental é razoável. Em tempo: o empresário deles é Rick Bonadio, jurado dos ídolos e ex-produtor dos Mamonas.

SLIPKNOT: Passada a febre comercial do chamado new-metal, o Slipknot ganhou maior respeito ao permanecerem unidos mesmo após o falecimento do baixista Paul Gray. A apresentação dos mascarados do nu-metal no Rock In Rio surpreende por ter cativado o público, até mesmo aqueles que não são chegados no som (como eu), com som pesado e presença de palco grandiosa. Talvez o melhor “espetáculo” do evento.

JOSS STONE: Um dos grandes, senão o maior, equívoco dos organizadores do festival foi deixar a loira (e que loira) fora do palco principal. Joss Stone conquistou o público com muito mais do que aparência agradável. A voz da mulher é poderosa e tem um grande alcance. Seu soul-pop é mais conhecido, e muito mais agradável, do que o pop disneylândico de Ke$ha. Pra quem esperava um show morno, como eu, Joss surpreendeu.

SKANK: O Skank nunca esteve entre minhas preferências no Rock nacional, apesar da fama. Nunca soaram como uma banda de Rock pra mim, na verdade. Mas os caras, definitivamente, fizeram o show da vida deles no Rock In Rio. Visivelmente satisfeito e empolgado, o frontman Samuel Rosa conduziu a plateia com maestria e a banda o seguiu com competência. Talvez nunca mais façam um show bom como o que fizeram naquele dia.

Bom, vamos esperar pelo próximo Rock in Rio em 2013. Esperamos maiores e melhores atrações, bem como coerência ao misturá-las. E que em 2013 não venham com essa ladainha de 1985 só tinha rock...(só não coloquem um dia gospel, Dio mio!).

sábado, 1 de outubro de 2011

O monstro virtual


O MONSTRO VIRTUAL – por Moacir Poconé

Anos atrás, a internet e a língua portuguesa foram elementos centrais de uma polêmica. “É preciso ser mais rápido, mais dinâmico”, diziam os internautas, ainda iniciantes na conversa virtual. “E as regras gramaticais? Onde ficam?” reclamavam os puristas da língua, indignados com o uso do código que gerou até um neologismo: o internetês.

Essa polêmica perdurou algum tempo, até que ambas as partes vissem que o tal internetês tinha vindo pra ficar. Poderia ser usado, sim, como um código entre os internautas ansiosos por comunicação, mas deveria respeitar as formalidades da língua em certas ocasiões. Mas quem determinaria que ocasiões são essas? Os internautas ou os puristas da língua? Nova discussão. E, o pior de tudo, o internetês escapou do mundo virtual para o mundo real, saindo das salas de bate-papo para as salas de aula. Começou a surgir como verdadeiros monstros em redações e provas escritas. Um verdadeiro desastre.

Agora, outro fenômeno acontece dentro do próprio internetês: a junção de palavras. Parece uma praga que assola não somente as mentes dos alunos, mas o próprio mundo da internet, pois não se encontra explicação para o uso desse “recurso” tão esdrúxulo. O uso de alguns termos está de tal forma disseminado que as pessoas estranham quando alguém lhes diz que tais palavras se escrevem separadamente. Três dessas formas chamam a atenção: o derrepente, o concerteza e o porisso.

A própria internet com o oráculo dos nossos dias, o Sr. Google, me serviu de base para comprovar o que digo, embora nem fosse preciso. Basta acessar as redes sociais como Facebook, Twitter e (se alguém ainda usa) o Orkut e lá estão as três palavras unidas, juntinhas, inclusive obedecendo as regras ortográficas, pois o R do derrepente aparece dobrado e o N do concerteza substitui o m original da palavra. Coisa de quem sabe escrever. Mas voltemos ao Google. Ao pesquisar o termo “derrepente”, assim com aspas, temos aproximadamente 3.520.000 ocorrências. O “concerteza” fica em segundo lugar, com 3.320.000. O “porisso” aparece bem menos, com 569.000, o que ainda não é pouco. Importante destacar que nessas consultas apenas na primeira página de cada apareciam questionamentos se tais termos se escreveriam juntos ou separados. As demais páginas (e não são poucas) trazem pessoas usando na forma agora consagrada. Tudo junto, unido. Uma tristeza para os olhos de quem lê.

Mas o internetês não se dá por satisfeito. Monstro voraz que é já descobriu outra forma de agir: fazendo o inverso. Agora, deu pra separar palavras que devem ser escritas juntas. Um verdadeiro assombro. Já invadem as escolas, extraídos do mundo virtual, muitos “por tanto” em vez de “portanto” , “em quanto” em vez de “enquanto”, dificultando ainda mais o já tão problemático ensino dessa nossa língua cada vez mais sofrida e rejeitada.

“Por tanto, devemos agir rapidamente antes q, derrepente, o internetês tome conta de td. Porisso, precisamos educar nossos jovens, em quanto ainda há tempo. Concerteza ainda há.”

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Vale a pena ver de novo?


VALE A PENA VER DE NOVO? – por Vicente Bezerra

Apesar do título remeter diretamente à programação da Rede Globo, o foco em verdade está na reprise das novelas do SBT. A rede paulista há meses aposentou o horrendo “Cinema em casa”, tão ruim quanto o “Sessão da tarde” e seus animais “do barulho” da principal concorrente.

Mais para tapar buraco do que arrancar audiência a emissora de Sílvio Santos jogou no ar, na fraca tarde televisiva (não só do SBT, diga-se), novelas suas, de produção própria. Isso já tinha sido feito anos antes, mas com folhetins mexicanos, onde predominam nomes compostos e tramas que ou envolve drama com irmãos ou de alguma gata borralheira.

Sem querer, Sílvio deu um tiro certo. Apesar de as novelas do SBT serem criticadas pela falta de realismo, pelo amadorismo da produção e pelo enredo superficial (ou “brega” mesmo), as reprises de “Amigas e Rivais”, “Cristal” e “Uma rosa com amor” deram um novo ar na programação da rede, mas, principalmente, incomodaram as rivais. A Record, hoje praticamente consolidada como segunda rede televisiva na audiência, viu o rival SBT tomar o seu lugar de volta às tardes, de forma quase despretensiosa. Tanto é verdade que quase não há espaço publicitário nos blocos, e entre as novelas citadas.

Não só a Record se viu incomodada. A Tv Globo teve que, às pressas, encurtar a exibição da enfadonha “O Clone”, com sua ficção científica de botequim e seus árabes caricatos e ridículos (já o eram na exibição normal). Para fazer frente às novelas “inocentes” do SBT, foi escalada “Mulheres de Areia”, campeã de audiência na época de exibição, e reprisada mais uma vez no “Vale a pena ver de novo”.

Talvez essa “inocência” dos enredos das novelas do SBT seja o ponto chave. Não se vê nelas cenas que insinuam sexo, nem grande violência. Há vilões sim, mais trapaceiros (e atrapalhados) do que realmente malvados. E todas as três citadas carregam uma leve dose de humor. Não há o exagero na presença de homossexuais (existem alguns poucos) e quase não se vêem traições entre casais, amigos ou irmãos. Mocinhos e vilões tem papel bem definido, não havendo conflitos de identidade nem deturpação do perfil psicológico de personagens, como houve recentemente em “Insensato Coração”. Não por acaso, a faixa etária dos telespectadores está acima dos 40 anos, segundo pesquisas. Vale lembrar que essa fórmula pôde ser vista recentemente na ótima produção global “Cordel Encantado”, que acabou de acabar.

Dando uma geral nas novelas citadas, “Amigas e Rivais” é uma “malhação” mais light e com mais adultos. A estória gira em torno de um grupo de amigos e amigas que vivem numa cidade fictícia e vivem às voltas com romances que não dão certo e as eternas diferenças entre classes sociais. “Cristal” conta a vida de uma moça abandonada em um convento, que vira modelo da agência da mãe biológica e, seu pai biológico, hoje é padre. Já “Uma rosa” tem como protagonista um empresário francês que, para permanecer no Brasil e com seus negócios precisa arrumar um casamento de fachada, e o faz com uma funcionária simplória de suas empresas.

Vale a pena ver de novo? De novo não, porque provavelmente quase ninguém as viu nas suas primeiras exibições, tanto que a audiência atual é maior. Mas todos estamos cansados da velha fórmula repetitiva da Globo, em que a família problemática do Leblon termina se envolvendo com os pobretões, e os “bandidos” matam, fazem a farra e enlouquecem ou morrem no final; não esquecendo os merchandising e o “fundo social” das tramas. Para quem quer que a novela seja apenas entretenimento, leve, divertido, vale muito a pena.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Goodbye Metal Gods



GOODBYE METAL GODS – por Vicente Bezerra

Numa caravana de nove pessoas, este escriba partiu em direção a Belo Horizonte para assistir ao show de duas bandas do primeiro escalão do rock internacional: Whitesnake (hard rock) e Judas Priest (heavy metal). A viagem toda foi muito divertida, a turma era toda de conhecidos e as resenhas e brincadeiras foram muitas, tantas que renderiam um post só sobre elas. Assim também seria com a visita a Ouro Preto, que vou estudar a possibilidade de comentá-la depois. Mas vamos ao show.

Com uma pontualidade britânica "até demais", a introdução de "My Generation", do The Who, começou a tocar no Chevrolet Hall pouco antes das 21h – horário oficial do show. O Whitesnake surge no palco tocando a energética "Best Years", do álbum "Good To Be Bad", de 2008, acendendo a galera logo de cara e revelou que David Coverdale, acompanhado da fantástica dupla Doug Aldrich e Reb Beach nas guitarras, Michael Devin no baixo, Brian Ruedy nos teclados e Brian Tichy na bateria mantêm a banda em alto nível. Coverdale tem usado com inteligência sua voz – já um pouco rouca, mas ainda poderosa - se aproveitando disso nas novas composições da banda e baixando o tom de vários clássicos do grupo, compostos, originalmente, em formato bem mais agudo. David fará 60 anos ainda esse mês.

"Give Me All Your Love Tonight" e "Love Ain't No Stranger" tem o título de "indispensáveis" não é à toa. A dobradinha só não arrancou mais suspiros do que "Is This Love", que levou as (muitas e bonitas!) mulheres presentes ao delírio. Já com o público na mão, Coverdale cumprimentou os mineiros arranhando um simpático "Boa noite, Belo Horizonte" em português.

Do novo trabalho "Forevermore", veio "Steal Your Heart Away" e a bela faixa título, uma após a outra – esta última dedicada ao público. A essa altura já se notava um Chevrolet Hall praticamente lotado, considerando que muita gente foi entrando no decorrer do show, vindos do trabalho, faculdade ou de um trânsito complicado.

Já na fase final da apresentação do Whitesnake, "Here I Go Again" se destacou como uma das melhores músicas da banda ao vivo e "Still Of The Night" só fez o pique do show crescer ainda mais. As exibições de Coverdale como frontman, brincando com o pedestal do microfone, por exemplo, mostram que ele é mais que um simples vocalista, tendo status de um performer completo.

Depois da bonita versão de "Soldier Of Fortune", dos seus tempos de Deep Purple, cantada à capela, veio o maior clássico de Coverdale e cia. E por mais infame que o trocadilho seja, é impossível não deixar a platéia pegando fogo depois da dobradinha "Burn / Stormbringer", encerrando a apresentação no ápice.

Fica a interrogação para que serviram os (longos) solos de guitarra e bateria, dispensáveis para um set list curto. Como banda de abertura de luxo, o Whitesnake se despediu do público sob muitos aplausos depois de 1h20 que pareceram passar num instante.

Ajustes de palco feitos, detalhes acertados. Tudo preparado para a provável penúltima apresentação da história do Judas Priest no Brasil. Ainda viria Brasília, dia 15.

O petardo "Rapid Fire" já abriu rodas de mosh, arrancou gritos e fez a galera cantar junto logo cedo. Os diversos clássicos que vieram a seguir, como "Metal Gods", "Starbreaker" e "Victim Of Changes" mostraram que os coroas seguem mandando muito bem. Mesmo encurtando algumas notas, Rob Halford continua um vocalista excelente, principalmente nos agudos que o consagraram.

Glenn Tipton e o recém chegado Richie Faulkner – substituto de K.K. Downing, que preferiu se aposentar mais cedo - já formam uma entrosada dupla de guitarras, acompanhados por Ian Hill no baixo e Scott Travis na bateria.

O público ficou feliz em perceber que os ingleses não economizaram na super produção: jatos de fogo, telão com vídeos temáticos das músicas, trocas de pano de fundo, fumaça, lasers e Halford com vários figurinos diferentes foram um interessante complemento para um show que já começou grandioso.

E nada mais apropriado para um show de despedida do que um repertório abrangente. O set list da noite cobria toda a carreira da banda, com músicas de todos os discos da "era Halford" – a fase do vocalista Tim Owens foi deixada de lado. Nada mais justo.

Entre um clássico e outro, veio "Diamonds And Rust" - simplesmente de arrepiar -, numa versão metade acústica e metade acelerada, como no álbum "Sin After Sin", de 1977. Curiosidade: disco esse produzido pelo baixista do Deep Purple, Roger Glover e que estará no Brasil em outubro. Outra curiosidade: a versão original é da folkista Joan Baez.

Única menção do último disco da banda "Nostradamus", de 2008, "Prophecy" trouxe um Rob Halford encarnando o próprio profeta que dá nome ao álbum, com direito a tridente e tudo mais.

Já era de se imaginar que Richie Faulkner seria um grande guitarrista tecnicamente, pois já o tinha visto tocar em 2009, abrindo o show do Iron Maiden em Recife, na banda de Laureen Harris. Bem legal foi ver que ele não estava nada intimidado com o posto de músico de uma das maiores bandas de Heavy Metal de todos os tempos, mostrando que performance também é uma virtude sua.

Muitos sucessos do Priest vieram na sequência – "Nightcrawler", "Turbo Lover", "Beyond The Realms Of Death" são apenas alguns deles -, mas o melhor ainda estava por vir.

"Breaking The Law", cantada somente pelo público, foi uma saborosa mistura de sensações: a emoção de ver um hino cantado apenas por fãs contrastando com a vontade de ver o velho Halford entoar o ultra clássico refrão pela última vez.

A jóia que encerrou o set list principal do Judas Priest foi "Painkiller", música que mostrou que a banda sabe ser altamente técnica quando precisa – vide as linhas de guitarra e bateria de Glenn Tipton e Scott Travis, respectivamente. A galera foi ao delírio com a música, talvez a mais pesada da banda.

A volta do bis não poderia ser mais triunfal. "The Hellion / Electric Eye" precedeu a tradicional entrada do Metal God – alcunha que Rob Halford é chamado – sobre sua motocicleta em "Hell Bent For Leather". E como se não bastasse, ver o vocalista beijando a bandeira brasileira em "You've Got Another Thing Comin'" foi de encher os olhos d'água de muito headbanger.

O momento "Brasil" continuou com um pequeno trecho do Hino Nacional no solo do guitarrista Richie Faulkner, com a imagem da bandeira do nosso país no telão – os mais atentos ainda perceberam que nesse momento a iluminação era apenas nas cores azul, verde e amarela.

Após uma nova despedida, o palco vazio fez com que muita gente pensasse que o show já havia acabado. Eis que o baterista Scott Travis vem ao microfone para saudar a galera e pedir um coro convocando o resto da banda de volta para a última música. Foi assim que num "segundo bis" o Priest tocou "Living After Midnight" e se despediu, provavelmente pela última vez, dos mineiros.

Ao fim de um verdadeiro espetáculo é no mínimo estranho perceber que tudo ali nunca mais se repetirá. Por outro lado, ao sabermos que temos um Rob Halford sessentão – e um Glenn Tipton com 63! - compreende-se que é até bastante justo que os ingleses pendurem as chuteiras, de fato. Mas com um Rock / Metal tão carente de novos ídolos, fica impossível a nostalgia não deixar de dar as caras. Fica a obra, o legado e o prazer de ter visto um show histórico.

Tudo isso aconteceu na noite da terça, dia 13, para as primeiras horas da quarta, dia 14, meu aniversário. Os nove soldados tinham que voltar para casa. Depois de tanta diversão e esforço (físico e financeiro) para estar ali, fomos na manhã da quarta para o aeroporto, partir. Eis que a sorte nos sorri, pois encontramos todo o Judas Priest embarcando para Brasília. Tietamos e tiramos fotos (como essa do post-com Rob Halford no centro) com os músicos, aparentando cansaço. Eles e nós. Mas valeu muito a pena ver os mestres do metal, ao vivo, pela última vez na terra de Santa Cruz. Depois dessa aventura, fica a pergunta: quem precisa de Rock in Rio?