segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Segunda sem lei - O mundo é à direita

O MUNDO É À DIREITA - por Pedro Luís Fernandes*

Como seria se todos fossem canhotos? O mundo que conhecemos é um lugar onde tudo foi feito especialmente para os destros. Não temos dificuldade em nada, parece que tudo foi planejado para facilitar nossas vidas. Compramos um carro o câmbio é à direita, o violão também, a torneira, o caderno, a cadeira... tudo! Com um mundo fácil desse chega a dar tédio de tanta comodidade.


Já sabemos que os destros são maioria, mas isso não quer dizer que toda grande quantidade é suprema e inteligente. Uma pesquisa realizada na Australian National University (ANU) estudos mostram que a destreza ou canhotismo é determinado no útero e que muitos canhotos processam a linguagem usando ambos os hemisférios do cérebro, em oposição aos destros, que parecem usar principalmente o hemisfério esquerdo para esse propósito. Isso faz refletir que os canhotos são mais inteligentes, por usar os dois lados do cérebro.


Quase tudo é feito para nos destros. Canhotos que vivem marginalizados na sociedade sobrevivem com o conceito de Darwin, da adaptabilidade, seleção natural, ou nas cotas, com poucos produtos pensados neles. O surgimento de quando aparece à preferência pelo lado que vai destinar a vida de uma criança, esquerda ou direita, é a questão. Segundo o psicólogo Gesell, que fez teste durante vários anos com crianças, a lateralidade já pode ser prevista em recém nascidos. Quando o bebê está deitado, ele sempre deixa o rosto voltado para o mesmo lado. Este lado se fosse o esquerdo, indicaria que a criança será canhota. Mas resultados não foram verdadeiros para algumas crianças. O site How Stuff Works mostra um estudo das fases de preferências. Onde as crianças de sete meses usam indiferentemente as mãos, aos dois anos manifesta preferência manual e aos seis a preferência está evidente. Canhoto, esquerdino ou sinistromano essas são algumas denominações que se encaixa ao indivíduo que faz seus afazeres com a mão esquerda. Como diria o dicionário: Relativo ao lado esquerdo. Pouco hábil = canhestro, desajeitado. Falta de destreza. É um grupo que vive as margens da sociedade. Garimpando os pequenos espaços que conseguem inserir-se na população.


A causa do canhotismo também pode ser determinada pela genética. Se ambos os pais são canhotos, a chance de ter um filho na mesma situação é de 50%. Um pai canhoto e o outro destro, 17% e ambos os pais destros, 2%. A hipótese genética baseia-se na verificação da existência de tendência familiar ao canhotismo. Em 1973, estudos verificaram 3.604 casos, revelando que, se pai e mãe são destros, a probabilidade de o casal ter filhos destros é muito maior que nos casais de canhotos ou de canhoto e ambidestro. Haveria na maior parte das pessoas um gene favorecedor do lado direito e, na ausência desse gene, o indivíduo poderia ser canhoto ou destro. Para explicar por que pais canhotos podem ter filhos destros, O estudo imaginou que os pais poderiam ter sofrido lesões cerebrais no nascimento, de modo que o fator direcionador não se manifestaria neles, mas seria transmitido aos filhos.


O chato de ser maioria é exatamente o fato de ser a maioria. Ser mais um na multidão, mais um ponto no aglomerado de pessoas. Difícil uma pessoa estimular-se com tanta comodidade que o mundo oferece a essa classe que pertencem os destros. Faz remeter a um mundo já planejado com a fabricação dos objetos, articulado e porque não com idéias já pensadas para não nos dar o trabalho de fazer pensar. Ao depararmos com os nomes das maiores personalidades do mundo, percebemos que a “maioria” são canhotos. Exemplos: Jimi Hendrix, Julia Roberts, Pelé, Alexandre O Grande, Fidel Castro, Mahatma Gandhi, Napoleão Bonaparte, Bill Clinton, Pablo Picasso, Leonardo da Vinci, Albert Einstein, Aristóteles, Bill Gates, Neil Armstrong, Isaac Newton, Machado de Assis entre outros. Pessoas como essas que fizeram algo revolucionário em suas áreas, mudaram de alguma forma o mundo. São únicas e diferenciadas das demais. Perto delas somos apenas simplórios destros.


As dificuldades que geram os problemas sociais sofridos pelos canhotos, devem ser uma forma de estimulo para que eles consigam vencer obstáculos. Pois antigamente havia um treinamento forçado para os canhotos se adaptassem a destros. Isso às vezes levavam à revoltas psicológicas. É até fácil de entender esses transtornos, tudo mais tudo mesmo é à direita e pensado para direita. Quando você vai cumprimentar alguém sempre é com a mão direita. Quando você vai fazer o sinal da cruz é com a mão direita, o ponteiro do relógio sempre gira à direita. Porque à esquerda não pode ser boa o bastante? Se cumprimentar uma pessoa com a mão esquerda vai mudar alguma coisa? Fazer o sinal da cruz com a mão esquerda quer dizer algum pecado? E o tempo só passa se for para o lado dos destros? As crenças e superstições sobre canhotos são intermináveis, Europa, América, algumas partes da África, e entre alguns ciganos, Se sua palma direita coçar, você ira receber algum dinheiro, se sua palma esquerda coçar, você perderá dinheiro. O costume do "primeiro passo", quando você entrar numa casa da Escócia e pisar primeiro com o pé esquerdo você estará trazendo demônio ou mal azar para dentro de casa. No passado, todos judaicos tinham que estar longe de algum dos "cem defeitos físicos" listados por Maimonides. Inclui-se na lista cegos, mancos, anões, etc... E canhotos.


Coisas simples assim que juntas fazem um amontoado de barreiras para os canhotos. Nós os destros acomodados, seguimos com os padrões já destinados pela lei da maioria. E não lutamos contra a massa e sim com a pequena parcela dos canhotos. Somos desleixados, egoístas, preconceituosos... Que sabemos tão pouco sobre as reais dificuldades dos nossos irmãos marginalizados. Eles por sua vez, a grande maioria também alienados tentam adaptar-se ao mundo em que vivem. Com raras exceções, mas possuidores de grandes gênios.


* Pedro Luís Fernandes, estudante de comunicação-social/jornalismo. Pós-graduado em canto lírico no banheiro, mestre em artes marciais no Mortal Kombat [Nintendo] e PHD em saber curtir a vida.

Os textos da "Segunda sem lei" são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião dos criadores deste blog.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Drogas para emagrecer, drogas para ler


DROGAS PARA EMAGRECER, DROGAS PARA LER – por Vicente Bezerra

A ANVISA povoou a mídia por esses dias e muitos a criticaram, por fazer o papel que deve fazer: proteger e prevenir a saúde da população (além de regular fabricação e comércio de medicamentos). Isso se deve pela discussão que foi aberta em relação à proibição de venda de alguns medicamentos que prometem o emagrecimento, mas que supostamente possuem efeitos colaterais nocivos.

Os inibidores de apetite em questão são os que possuem em sua fórmula alguma das substâncias: sibutramina, anfepramona, femproporex ou mazindol. Os efeitos atribuídos a tais substâncias são possíveis problemas cardíacos, insônia, hipertensão entre muitos outros.

O debate foi aberto e existe opinião para todos os gostos. Os que defendem o uso dos medicamentos afirmam que a obesidade é um problema de saúde pública, importante, e que deve ser tratado. Sugerem que uma maior fiscalização na emissão de receitas e na venda de tais medicamentos seja feita. Já os opositores, atestam que os malefícios do uso desses remédios são maiores que seus benefícios e que a obesidade pode ser combatida de inúmeras outras maneiras.

Dr. Izaías Costa, médico consultado pelo blog, defende o uso dos inibidores do apetite, para casos de emagrecimento urgente, em curto espaço de tempo. Segundo ele, a perda de peso é considerável, mas alerta que tais substâncias devem ser utilizadas em casos extremos e com parcimônia. Disse ainda que ele próprio já fez uso da sibutramina e perdeu peso, mas alerta que todo “choque” dado no organismo gera uma conseqüência. Ainda segundo Dr. Izaías é comum tais remédios causarem taquicardia, insônia, irritabilidade, variação de humor, dores de cabeça, entre outros efeitos, dado que aumentam o metabolismo forçadamente.

É com base nesses efeitos colaterais que a ANVISA pretende proibir a venda de tais medicamentos. Outro fato a favor é de que a Europa já proibiu o uso das citadas substâncias e EUA, junto com o Canadá, restringe a venda dos mesmos. Isso já há alguns anos.

No Brasil, há um levante contra essa proibição e os médicos defensores do uso dos inibidores de apetite ganharam essa semana um aliado poderoso, a revista VEJA, que em matéria de capa defende com unhas e dentes essa bandeira. Não é de se estranhar que a VEJA mais uma vez, esteja contra a população. Durante os oito anos do governo Lula não havia o que enaltecer, apenas o que apedrejar. A campanha eleitoral repetiu a ladainha e era a citada revista o verdadeiro catecismo da elite brasileira, representada politicamente sob a legenda do PSDB. Defender os grandes laboratórios (alguns anunciantes seus) e seus investidores é do feitio do semanário.

Deve ser ressaltado aqui que a ANVISA está cumprindo o papel para qual existe: fiscalizar medicamentos. E se esses são nocivos à população, nada mais justo que proibi-los. Ou os brasileiros devem sofrer seus efeitos maléficos, e europeus e americanos não? Há outras opções para se tratar da obesidade, como havia outras opções partidárias na eleição. Apesar da VEJA.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A segunda aposentadoria de Ronaldo


A SEGUNDA APOSENTADORIA DE RONALDO – por Moacir Poconé

Ronaldo anunciou sua segunda aposentadoria nesta semana. A primeira havia ocorrido anos atrás após sua saída da Inter de Milão. Mesmo tendo jogado por mais alguns anos, nunca mais o craque justificou os motivos que lhe valeram o apelido de “Fenômeno”. O que se viu foi um ex-atleta em atividade, arrastando-se pelos gramados, sustentado em sua imagem do passado.

O esporte, não apenas o futebol, sempre apresentou ao longo da história personagens que teimaram em resistir ao tempo. Pensam que ainda mantém o vigor e a vitalidade da juventude e ficam vivendo do nome que construíram por décadas. Mas o tempo é implacável. Não permite que meros seres humanos possuam características de semideuses e permaneçam com suas qualidades inabaladas. A idade começa a pesar e com ela começam a surgir críticas que antes não se ouvia. O torcedor que vê o atleta em ação quer que ele tenha o desempenho de quando estava no auge. Era isso que a torcida do Corinthians exigia de Ronaldo e ele, como qualquer outra pessoa consciente, sabia que já não tinha condições de dar.

O grande dilema é saber qual o momento exato de parar. A carreira de um esportista normalmente é muito curta. Costuma ir, em alto nível, a no máximo 32 anos, salvo raras exceções. Ainda se tem uma longa vida pela frente e muitos deles não se preparam para essa realidade. Não deve ser o caso de Ronaldo. Garoto propaganda de inúmeras marcas, embaixador de programas sociais e da Copa de 2014, provavelmente sua agenda estará ainda mais cheia do que nos tempos em que era um atleta. Aparecerá mais, terá mais tempo para eventos e viverá cercado por pessoas que terão como lembrança o craque que foi. Ficará livre de treinamento, concentração e não precisará provar mais nada para ninguém. Terá enfim a vida que pediu a Deus.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Balada nº 9

BALADA Nº 9 – por Vicente Bezerra

“Conheci um capeta em forma de guri”. Jogava no Cruzeiro. Aos dezesseis anos era titular absoluto da “raposa”, um dos grandes do país. Com a camisa azul fez a torcida feliz com seu talento em fazer gols. Muitos. Foi ainda guri que imprimiu na carreira de um grande goleiro, o uruguaio Rodolfo Rodriguez, um vexame. Para Ronaldinho, como chamado na época, era um lance engraçado. Para Rodolfo, foi o ocaso de uma bela carreira.

Anos depois esse guri se intromete entre uma constelação de jogadores. 1994, copa do mundo. O garoto Ronaldinho vai para os Estados Unidos e se vê no meio de monstros já consagrados à época: Branco, Bebeto, Taffarel, Raí, Jorginho e o gênio da grande área, Romário.

Seguiu a rotina de todo jogador brasileiro que se destaca: foi para o exterior. E como Romário, passa por PSV e Barcelona, com destaque. O menino vira craque. O menino vira homem e agora o chamam de Ronaldo. É no Barça que faz um dos seus gols mais memoráveis, com sua tradicional arrancada.

Ronaldo teve sua carreira pautada por desafios, sempre vencidos. A Itália foi mais um deles. Jogou na Internazionale e no Milan, times rivais, e fez sucesso em ambos, sendo admirado pelas duas torcidas. É chamado de “Fenômeno”. Vencer na Itália é para poucos. E foi na Itália também um dos momentos mais difíceis de sua carreira, quando rompeu os ligamentos do joelho.

Outra dificuldade, na seleção. Copa do mundo de 1998. Até hoje a mal explicada história da convulsão e uma derrota amarga para a França. Mais uma vez levantou-se, sacudiu a poeira e deu a volta por cima. Hoje pode orgulhar-se de ser bi-campeão mundial com a “amarelinha” e o jogador que mais gols fez em copas do mundo.

Não é intenção do texto resumir a carreira de Ronaldo. Os escândalos, os títulos, os gols, estão preservados na história. Hoje, o mundo tecnológico nos permite uma memória mais ativa. Ronaldo estará eternizado nas páginas da internet, nos vídeos do youtube, nos DVDs e blue-rays da vida. Sorte que outros não tiveram. Infelizmente, o tempo não para.

Tudo que podia ser dito já o foi por esses dias. E em homenagem a Ronaldo, desenterro a letra de uma antiga música, conhecida nas vozes de Noite Ilustrada e Moacyr Franco:

Balada nº 7 - Composição: Alberto Luiz

Sua ilusão entra em campo no estádio vazio,
Uma torcida de sonhos aplaude talvez,
O velho atleta recorda as jogadas felizes,
Mata a saudade no peito driblando a emoção.

Hoje outros craques repetem as suas jogadas,
Ainda na rede balança seu último gol,
Mas pela vida impedido parou,
E para sempre o jogo acabou,
Suas pernas cansadas correram pro nada,
E o time do tempo ganhou.

Ergue os seus braços e corre outra vez no gramado,
Vai tabelando o seu sonho e lembrando o passado,
No campeonato da recordação faz distintivo do seu coração,
Que as jornadas da vida, são bolas de sonho.
Que o craque do tempo chutou.

Cadê você, cadê você, você passou,
O que era doce, o que não era se acabou,
Cadê você, cadê você, você passou,
No vídeo tape do sonho, a história gravou.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

A onda da liberdade

A ONDA DA LIBERDADE – por Moacir Poconé

Ontem, 11 de fevereiro, foi um dia histórico. O presidente egípcio Hosni Mubarak renunciou ao poder depois de trinta anos. Tal fato só ocorreu após duas semanas de revoltas populares na capital do país, Cairo. O povo literalmente foi às ruas e exigiu a saída do ditador.

Importante notar que não se trata de um fato isolado. Mesma situação ocorreu semanas atrás na Tunísia, outro país do norte da África. O presidente que estava vinte e três anos no poder foi retirado do cargo pelas massas. Em ambos os cenários, destaca-se a utilização da internet para a convocação dos encontros entre pessoas que culminaram nas manifestações. Uma verdadeira onda se formou não apenas nesses dois países, mas em outras nações daquela mesma região: Iêmen, Jordânia, Argélia e Líbano começam a sentir o chamado “efeito dominó”. As suas populações viram o resultado obtido por tunisianos e egípcios e querem agora também que a liberdade e a democracia cheguem em seus lares.

A História já viu algo semelhante acontecer na época de Revolução Francesa. Depois da tomada do trono francês pela burguesia, os países que, da mesma forma, eram governados por reis absolutistas viram as revoltas populares acontecerem em seus territórios. A grande diferença do que hoje ocorre é a velocidade com que a informação navega pelas ondas da web, permitindo uma comunicação muito mais rápida e eficiente. Os governantes tentam inclusive proibir de alguma forma a comunicação virtual, mas qualquer medida se mostra ineficaz. Os líderes dos movimentos revoltosos sempre encontram maneiras para burlar os mecanismos de proibição. Os ventos da democracia sopram cada vez mais forte pelo mundo e já não se concebe a permanência de ditadores no poder ou a falta de liberdade de expressão dos cidadãos.

Resta saber até onde vai essa onda de manifestações populares. Chegará até a Ásia onde a superpotência China viola os direitos humanos? Atingirá a Coreia do Norte, com seu ditador louco? Libertará Cuba de sua ditadura sem fim? Não temos como saber. Só nos resta a esperança de que essa onda popular se transforme num verdadeiro tsunami, varrendo do mapa a opressão e a tirania.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Brasileiros e brasileiras


BRASILEIROS E BRASILEIRAS – por Vicente Bezerra

Era 1985. O Brasil lutava pelas eleições diretas, o movimento “Diretas Já!” reunia artistas, intelectuais, políticos e a massa. Mas as diretas não vieram. Nas eleições indiretas, Paulo Maluf saiu candidato, enfrentando do outro lado o pemedebista Tancredo Neves, que tinha como vice José Sarney, um dos criadores do recém-nascido PFL (um partido de direita, direita, bem direita mesmo). O congresso elegeu Tancredo e o povo depositou toda sua confiança em dias melhores no “bom velhinho”, que iria mudar o país após anos de domínio político militar.

Tancredo morreu antes de tomar posse o a comoção no país foi geral. As televisões transmitiam o funeral sem intervalos, ao som de “Coração de estudante”, de Milton Nascimento. Era versão na flauta, no piano, no violino. Faltou versão samba, pagodão e funk, mas nem existiam na época, nem era a ocasião. Na verdade, nem era necessário esse comentário engraçadinho. Mas eis que nosso personagem, o vice, assume. Sarney arvora pra si o título de herdeiro do legado de Tancredo. Em verdade, esse legado nada mais era que a esperança do povo de que a “situação ia melhorar”.

E Sarney cortou zeros. Era 1986. Era o plano cruzado. O agora presidente conclama os cidadãos, principalmente as donas de casa, para serem seus fiscais. Fiscalizarem os preços, para ajudarem no combate à inflação. Eram os “fiscais do Sarney”. Não adiantou. A inflação galopava, os aumentos eram constantes e os planos (ainda houve os planos Bresser e Verão) afundaram.

Teria dito o apóstolo Paulo aos corintianos, se vivesse naqueles dias: “Naquele tempo, as coisas aumentavam de preço rapidamente, homens de pouca fé!”. O que era comprado pela manhã, já tinha outro preço à tarde, e no outro dia já era outro o valor. Havia estocagem de alimentos. Famílias estocavam açúcar, óleo de soja e outras especiarias, em grande quantidade, tentando driblar o aumento constante nos preços. E sempre Sarney aparecia na TV para iniciar os seus discursos com o indefectível “Brasinleiros e Brasinleiras”, pedindo ajuda ao povo. Havia também os famigerados “gatilhos salariais”, que era o aumento do salário mínimo para tentar acompanhar a inflação. O tiro saiu pela culatra (óbvia a frase, sem graça) e quem tomou o tiro foi o povo, como sempre.

Bom, o tempo passou, a família Sarney cresceu, e a Capitania do Maranhão continua sendo hereditária (e ainda há a expansão para o Amapá). Nosso personagem foi acusado de superfaturamento e irregularidades em concorrências públicas. Isso foi em 1987 a 1989. Em 1990, Sarney se candidata a senador pelo Amapá. Tal manobra política, foi para impedir que o governo Collor (o caçador de “marajás”) investigasse a fundo denúncias de irregularidades no feudo do Maranhão (onde o babaçu abunda).

De lá pra cá, Sarney foi eleito presidente do Senado por três vezes. Nesse ínterim pipocaram denúncias contra Sarney e seu clã (onde se destacam Roseana e Fernando), como favorecimento da família usando a TV que lhes pertence com fins eleitorais, bem como a nomeação de parentes e agregados em cargos públicos e publicações “fantasmas” no Diário Oficial. Em fevereiro de 2009, “(...) a revista inglesa The Economist publicou reportagem fazendo críticas ao Sarney, classificando-o como "dinossauro" e "semifeudal": a revista trouxe reportagem que classificou sua eleição de “vitória do semifeudalismo”. A reportagem, intitulada “Onde os dinossauros ainda vagam” (“Where dinosaurs still roam”), de autoria do jornalista John Prideaux, afirmou que talvez fosse “hora de (Sarney) se aposentar”(...)” (retirado do Wikipédia). Tais denúncias foram abafadas e nenhuma investigação foi aberta contra o intocável Sarney, sempre aliado do poder. Não houve punição.

Mas eis que Sarney – que se diga, é membro da ABL (Academia Brasileira de Letras) – é eleito mais uma vez (a quarta), presidente do Senado. Temeu-se que acontecesse novamente o “efeito Severino” e optou-se pela solução de sempre: Sarney.

Num momento em que uma mulher é eleita presidente e que o país experimentou um bom momento de saúde econômica e crescimento social, alguns defeitos da nossa democracia continuam a existir. A reforma política é sempre adiada, talvez para beneficiar alguns. Mesmo evoluindo e muito, o Brasil não larga certas amarras que o impedem de decolar rumo ao primeiro mundo, mantendo-ancorado. Talvez seja o peso dos dinossauros, uma dessas amarras. Outra é a memória do povo e sua falta de inteligência ao votar: ainda há gente que pensa que eleger o palhaço Tiririca foi pior. Pior, é eleger quem nos faz de palhaço.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O melhor filme de... Jim Carrey


O MELHOR FILME DE... JIM CARREY – por Moacir Poconé

Talvez o início de sua carreira o tenha atrapalhado, pois ficou famoso mais por suas caretas que por suas atuações. Chegou a ser comparado ao grande Jerry Lewis, mas foi quando resolveu seguir a carreira dramática que mais se destacou. Falo do ator canadense Jim Carrey, um dos grandes nomes do cinema na atualidade.

Como disse, Carrey se tornou famoso após ter feito filmes como O Máskara e principalmente Ace Ventura. Mas a crítica virava-lhe o rosto. Tendo iniciado sua carreira em 1982 somente em 1998 protagoniza um “filme sério”: O show de Truman. Ganha o Globo de Ouro, mas não é sequer indicado ao Oscar. No ano seguinte, ganha outro Globo de Ouro com o ótimo O mundo de Andy, mas mais uma vez a Academia sequer o indica. E assim continua até hoje, mesmo após ter feito excelente papéis como em Cine Majestic ou em Brilho eterno de uma mente sem lembrança. Sem dúvida, uma grande injustiça.
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"Aceitamos a realidade do mundo no qual estamos presentes."
(do filme O show de Truman)

O show de Truman impressiona por seu roteiro. A história de um ser humano filmado desde o seu nascimento, dia após dia, é mostrada aos quatro cantos do mundo. E mais: Truman vive numa cidade criada para ele, com personagens vividos por atores. Sua esposa, seu melhor amigo, seus pais, seus vizinhos, ninguém é real. São todos atores. Apenas Truman não sabe disso. Ele é o protagonista e o único ser humano verdadeiro naquele lugar. Desde o seu nascimento toda sua vida é controlado pelo diretor de televisão, Christof, que o tem às vezes como filho, às vezes como seu criador, no sentido mais literal da palavra.

Traumas são colocados em sua mente para que não queira sair de onde vive. Tudo que sabe sobre outras cidades é por rádio ou pela TV. Mora numa espécie de ilha. E morre de medo de água, pois seu pai morrera afogado, numa cena que o traumatizou pelo resto da vida. Mas tudo começa a mudar quando, ainda jovem, apaixona-se por uma figurante do programa e jamais a esquece. Essa moça passa a defender a ideia de que Truman na verdade é um preso nesse mundo e busca salvá-lo de todas as formas. Mas somente ele próprio, Truman, poderá encontrar sua própria saída. E ele o faz numa cena antológica, lutando bravamente num barco contra a tempestade criada por Christof, desafiando o”deus” de seu mundo e em busca de sua identidade e da vontade de fazer o seu próprio futuro.

O show de Truman mostra o valor de um filme que mesmo sido feito há mais de dez anos, não envelheceu. Pelo contrário: em tempos de Big Brother, A Fazenda e outros realities shows,mostra-se cada vez mais atual, discutindo temas como invasão de privacidade, poder da mídia, autoconhecimento, dentre outros. Para mim, o melhor filme de Jim Carrey.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Nau à Deriva

NAU À DERIVA – por Vicente Bezerra

O Vasco da Gama passa por um momento difícil. Em quatro jogos acumula quatro derrotas, num campeonato carioca cujo nível técnico não é aconselhável para a saúde ou para menores de 18 anos. O que aconteceu ao Vasco? Na verdade, ele vem trilhando um longo caminho, há quase uma década.

Os anos 90 foram muito bons para o Vasco. Tricampeão carioca, um deles invicto, campeão do Rio-São Paulo, duas vezes campeão brasileiro, campeão da taça libertadores da América e campeão da Mercosul, num jogo histórico, conhecido como a “virada do milênio”. O torcedor se acostumou às vitórias. Jejum, no máximo de dois anos sem título. O que mudou?

Concomitante a este bom momento, o Vasco, através do seu manda-chuva à época, Eurico Miranda, sonhou com um malfadado projeto olímpico, através do qual desejava tornar o Vasco da Gama uma potência também nos esportes amadores e olímpicos. Eurico e seu jeito truculento, de querer passar por cima de tudo e todos para alcançar seus objetivos, contratou a rodo esses atletas e tornou o Vasco uma potência nesses esportes. Mas não só isso. Transformou o clube também num dos mais endividados do país. E a forma de Eurico comandar, se manifestar e se impor, transformou o Vasco num time antipatizado por muitos, principalmente pela imprensa, que aumentou sua má-vontade com o clube.

Com as dívidas, alimentadas também pela forma com que Miranda administrava o clube (pra não chamá-lo de desonesto), começaram a rarear também as fontes de recursos. Com a antipatia atraída por sua figura (e sua administração), começaram a desaparecer os patrocinadores. Um clube como o Vasco da Gama passar mais de cinco anos sem patrocínio na camisa é impensável. Mas aconteceu. O Vasco também passou a revelar menos jogadores e a contratar atletas desconhecidos ou medianos, oriundos de clubes menores do futebol carioca. Lógico, os resultados não vieram. O Gigante da Colina, como é chamado, passou apenas a participar de campeonatos e não disputando como de costume. De 2001 até hoje, um mísero carioca em 2003.

Os vascaínos estavam fartos dessa situação e viram a luz no fim do túnel: o grande ídolo Roberto Dinamite ser eleito presidente. Após muita turbulência, Dinamite chega ao cargo. Meses depois o Vasco cai para a segunda divisão brasileira. A culpa é colocada na “herança maldita” da administração Eurico Miranda. O fato é que o caos foi deixado por Eurico mesmo. Mas a seqüência de decisões equivocadas por parte de Roberto, aliada também à demora em tomá-las contribuíram e muito para a queda. Da posse de Dinamite, até este dia, em sua gestão, não foi contratado um treinador sequer, de comprovada experiência, tarimba e história no futebol. Tita, Renato Gaúcho, Celso Roth, Mancine e PC Gusmão foram apostas que deram errado. E a situação atual do Vasco não merece aposta. Exige competência, história, experiência.

Roberto tem os seus méritos. A valorização do marketing, a criação do programa de sócios, o resgate da imagem do Vasco junto à imprensa, o equacionamento de algumas dívidas, o retorno dos patrocínios, são contribuições valiosas sim. Mas falta algo. E o que falta, Dinamite deveria aprender com seu rival político. O que de melhor Eurico possuía: a defesa intransigente do Vasco e, sobretudo, o comando que exercia sobre seus comandados. As fotos do post dizem tudo.

O momento pede união. A política tem que ser deixada de lado, e é o que vem prejudicando o Vasco da Gama. A nau está à deriva. E se o novo intendente não aprender as lições do velho capitão, esquecendo o lado negro do mesmo, ou unirem suas melhores intenções, vai ficar como está ou pior. Ou então ficará a caravela vascaína esperando um novo almirante. Se não afundar antes.