segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Ano novo ou ano-novo?

  ANO NOVO OU ANO-NOVO?

Chegando 2013, o novo ano, como sempre envolto numa atmosfera de esperança, comum a todos os anos que se iniciam. Mas, eis que surge uma dúvida atroz: ano-novo ou ano novo, ou seja, com hífen ou sem hífen?

É um tema que não encontra solução sequer entre os gramáticos. A maioria prefere diferenciar a festa, isto é, o réveillon, do desejo de um ano melhor. Assim, ao desejarmos "Feliz ano-novo" com hífen, estaríamos nos referindo apenas ao momento da festa, enquanto que desejando "Feliz ano novo" sem o uso do hífen, a referência seria ao ano que se aproxima. Essa é a posição da maioria dos estudiosos.

Porém, não há consenso, como já dito. O sempre citado Dicionário Aurélio não vê dessa forma:

"ano-novo - substantivo masculino.

1.O próximo ano; o ano entrante:

'Estamos com sono, vamos dormir. Damos boa noite, bom ano-novo, eu abraço meu tio.' (Ricardo Ramos, Matar um Homem, p. 168.)

2.A meia-noite do dia 31 de dezembro; ano-bom.

3.O dia 1º de janeiro; ano-bom. [Pl.: anos-novos.]"

Desse modo, o eminente dicionário considera somente o termo com o uso do hífen, independente a que estamos nos referindo, se à festa ou ao ano que se aproxima. Há também quem prefira a forma hifenizada por trazer a ideia de substantivo composto, uma vez que dificilmente alguém deseja um "novo ano", mas sempre um "ano-novo".

Com hífen ou sem hífen, o importante mesmo é ver a esperança renovada pela chegada de um novo ano. Como mostra o texto abaixo, atribuído ao grande poeta Carlos Drummond de Andrade:

"Cortar o tempo

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
...Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui pra adiante vai ser diferente para você,
desejo o sonho realizado.
O amor esperado.
...A esperança renovada.

Para você,
desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.

Para você neste novo ano,
desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
que sua família esteja mais unida,
que sua vida seja mais bem vivida.

Gostaria de lhe
desejar tantas coisas
mas nada seria suficiente…
Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes e que eles possam te mover a cada
minuto, rumo a sua felicidade!

Um ótimo 2013  a todos!


terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Concurso Literário da Uniso




Textos que receberam menção honrosa e que foram selecionados para a Antologia do 31o. Concurso Literário da Uniso (Universidade de Sorocaba/SP) – categoria: microconto (número máximo de sessenta palavras). Autoria: Moacir Poconé.
DESCANSO
Pensava muito em sua mãe. Chegava, ele mesmo, a achar estranho. Se não a visitava, perdia o dia. Mal falava com as pessoas. Até que resolveu pôr fim àquela situação: precisava viver. Munido de flores, dirigiu-se ao cemitério. Seria aquela sua última homenagem. Ele mesmo precisava descansar em paz.

HEREDITARIEDADE
Camarões, arroz à grega, filé grelhado. Saladas em fartura. Via aquilo tudo a sua frente. Perto, mas tão longe. Na calçada, segurava um pedaço de pão velho. Estendia a mão.  Parecia invisível. Ninguém a via. Entravam calados, saíam sorrindo, com suas barrigas cheias. E ela ali. A barriga cheia com outro ser. Seria faminto, como ela.

O 31.º Concurso Literário da Universidade de Sorocaba, realizado de 25 de junho a 04 de outubro de 2012, aceitou inscrições em duas modalidades: microconto e videominuto, ambos com o tema “narrativas urbanas”. Esta edição do concurso recebeu 328 obras, de autores residentes em diversos Estados brasileiros e também no exterior. Na categoria de microcontos, além dos finalistas, cinquenta e cinco trabalhos receberam menção honrosa da Comissão Julgadora e ficaram expostos no câmpus. Todos os textos selecionados compõem esta antologia, editada no formato de livro eletrônico.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O abismo do Enem




O ABISMO DO ENEM - por Moacir Poconé
Foi divulgado na última semana o resultado do Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio, ano de 2011 por escola. Não se trata de uma amostragem ou de comentários genéricos de educadores, mas sim de dados específicos que mostram o desempenho dos alunos do nível médio de todo Brasil. A média das áreas utilizadas no Enem (Ciências da Natureza, Ciências Humanas, Matemática, Linguagens e Redação) é divulgada sempre no ano seguinte ao da realização das provas e vem corroborar o que todos já sabem: a decadência do Ensino Público no Brasil.
 
Os dados são estarrecedores. Das 50 melhores escolas do país, apenas três pertencem à rede pública. Ao contrário, das 50 piores instituições, todas são da rede pública, sendo 49 estaduais e uma municipal. Quase metades dessas escolas (24) estão localizadas na região Nordeste. A pior de todas elas está no Maranhão: o Colégio Estadual Aquiles Lisboa, que obteve média de 339 pontos de um total de 1000. Nada poderia evidenciar mais o sucateamento do ensino público no Brasil do que esses números fornecidos pelo próprio governo. Sem dúvida, uma ampla reformulação em todo sistema se mostra cada vez mais necessária, pois o que se vê é a formação de um verdadeiro abismo entre escolas privadas e públicas. Um antagonismo em que o interesse dos professores, a qualidade do material didático, a própria estrutura física da escola são os elementos determinantes.

Perdidas nesse pântano da mediocridade, estão as famílias de baixa renda que, não tendo condições de pagar as mensalidades de uma escola particular, matriculam seus filhos na rede pública de ensino. O que aprenderão? O que conseguirão em seu futuro? Serão capazes de atravessar o abismo imposto de forma tão cruel pelo próprio sistema? Ou serão engolidos por ele? São perguntas cujas respostas já conhecemos e que a cada ano têm respostas cada vez mais objetivas. Como no caso do Enem.

Os 10 primeiros do Enem (e suas respectivas mensalidades)

Instituição
Cidade
Mensalidades
1º e 2º ano 
Mensalidade
3º ano
Colégio Objetivo São Paulo/SP R$ 1.685 R$ 1.802
Colégio Elite Vale do Aço Ipatinga/MG R$ 725 R$ 845
Colégio Bernoulli – unidade Lourdes Belo Horizonte/MG  Não informou R$ 1.319 
Colégio Vértice – unidade II São Paulo/SP R$ 2.922 R$ 3.552
Colégio Ari de Sá Cavalcante Fortaleza/CE R$ 850 R$ 914
Instituto Dom Barreto  Teresina/PI  R$ 760  R$ 780 
Colégio Objetivo São Paulo/SP R$ 1.425  R$ 1.548 
Coluni – Colégio Aplicação da UFV Viçosa/MG gratuito (federal) gratuito(federal)
 Colégio Santo Antônio Belo Horizonte/MG  R$ 949 R$ 979 
10º  Colégio São Bento Rio de Janeiro/RJ R$ 2.378   R$ 2.556
*Inep/MEC

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A "pegadinha" da redação





 A PEGADINHA DA REDAÇÃO - por Moacir Poconé

Muito se falou esses dias sobre o tema da redação do Enem desse ano. “O movimento imigratório para o Brasil no Século XXI”. A surpresa foi geral, uma vez que diversos outros temas atuais e de muito mais repercussão eram cogitados. Sem dúvida, essa surpresa deve provocar uma redução na média das provas de redação, pois se imagina que grande parte dos candidatos não tinha o conhecimento devido sobre o tema. Como se diz no jargão dos cursinhos, foi uma verdadeira “pegadinha”.

A prova de redação, todos os anos, é motivo de suplício para os estudantes. Os alunos têm grande dificuldade em redigir um texto dissertativo devido a uma crescente falta de leitura. Além disso, o alheamento em relação a fatos do Brasil e do mundo é uma praga que assola a juventude. O mundo parece resumido às redes sociais e o desconhecimento sobre temas importantes impressiona. Por isso mesmo, não é raro que os candidatos ao Enem procurem, às vésperas da prova, informações sobre os possíveis temas. Sites divulgam esses temas, professores fazem suas listas e se discutem esses assuntos com mais ênfase. Não se tem notícia de que algum desses “profetas” tenha previsto a temática abordada como possível tema. As indagações foram tantas que o próprio Ministro da Educação Aloísio Mercadante deu uma entrevista coletiva para explicar o porquê da escolha do tema.

Avaliar os argumentos de um candidato, verificando a estrutura do seu texto, coesão e coerência, além do uso correto da Língua Portuguesa pode ser feito, sem dúvida alguma, de maneira bem menos traumática. Aquele que domina as técnicas de redação não precisa ser surpreendido por um tema inesperado. Não se está querendo que se avise previamente sobre o que será solicitado, mas um “susto” como muitos jovens disseram ter tido não deveria acontecer. Além disso, o cansaço é outro elemento que não deve ser esquecido. Lembremos que o candidato, no dia da prova de redação, deve responder ainda 45 questões da prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e outras 45 de Matemática e suas Tecnologias. Isso num período de cinco horas e meia! Não é à toa que costumamos ouvir no noticiário referências à prova como “a maratona do Enem”. 

Afinal, o Enem tem se mostrado a melhor maneira para o ingresso dos jovens no nível superior. Óbvio que adaptações devem e precisam ser feitas. Inegável que houve uma evolução, a partir do momento em que se prioriza o conhecimento de mundo em lugar de regras e fórmulas “decoradas”. Mas surpresas como o tema da redação não deveriam ter espaço. Não é com surpresas que se mede a capacidade que cada um tem de redigir bem ou mal um texto.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A vitória da novela





A VITÓRIA DA NOVELA - por Moacir Poconé

São muitos os gêneros narrativos. Crônica, conto e romance são os mais conhecidos. O contar de uma história vem chamando a atenção desde o século XIX, quando Joaquim Manuel de Macedo publicou, ainda em forma de folhetim, aquele que é considerado o primeiro romance brasileiro: A Moreninha. A história adocicada do amor entre Augusto e Carolina arrebatou os corações da elite carioca, emocionando as poucas leitoras da época.

O tempo passou e os textos escritos já não causam tanta comoção como em séculos atrás. O advento de técnicas audiovisuais desvia o público das páginas do livro tradicional. Não à toa, o cinema e a televisão possuem bem mais repercussão do que obras escritas em geral, salvo as exceções dos best sellers. Até mesmo a internet, mídia bem mais nova, com seus vídeos curtos encontra em si mesma caminhos para alcançar visualizações que beiram os milhões de acessos. Isso em dias. É um fenômeno irreversível. Devido a isso, a arte tem deixado as páginas dos livros e se transferido para as telas tanto do cinema como da televisão (ou mesmo dos computadores). 

No Brasil, ocorre um fenômeno cultural que as chamadas pessoas “cultas” teimam em fechar os olhos. É a vitória da novela televisiva como forma de manifestação literária. Certamente, por se tratar de um objeto massificador, muitos acreditam que se trata apenas de uma forma de entretenimento, não possuindo qualidades artísticas. Ora, como negar a capacidade narrativa de um autor em manter por seis, sete meses a atenção de milhares de pessoas numa mesma história? Personagens complexos vêm sendo criados, elementos técnicos como figurino, cenário, iluminação são trabalhados com esmero. Atores e atrizes se destacam encarnando personagens que passam a fazer parte da memória coletiva. A população repercute as cenas, imita as falas das personagens, copia seus figurinos. Cidades chegaram a parar como no último capítulo da novela das nove, a já emblemática Avenida Brasil.

Óbvio que existem boas e más produções. Mas também existem bons e maus livros. Afinal, a história a ser contada é que tem que ser boa. Seja ela escrita ou filmada. Seja veiculada em ambiente acadêmico ou na casa das pessoas. A qualidade de uma boa narrativa não deve se prender ao veículo ou ao local. Deve, sim, cativar as pessoas. E isso a novela televisiva faz há muito tempo.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Cinema de fases





CINEMA DE FASES – por Moacir Poconé

É interessante como o Cinema Brasileiro é composto por fases. Parece que os diretores, produtores e roteiristas elegem certa temática como “a do momento”. E somos todos obrigados (quem gosta do cinema nacional, claro) a assistir filmes que teimam em tratar do mesmo assunto, com uma ou outra mudança aqui e ali.

Entre as décadas de 30 e 60 tivemos o auge das chanchadas, filmes que tendiam ao humorístico e que teve nos estúdios da Atlântida a sua principal referência. Na década de 60 e 70 os “filmes-cabeça” de Glauber Rocha confundiam o público que sequer entendia o que o diretor baiano queria com o seu Cinema Novo.

As décadas de 70 e 80 são marcadas por filmes de elevado teor erótico. Trata-se de uma característica tão marcante que até hoje esse estigma permanece. Não é raro ouvir pessoas, com certo preconceito, dizendo que não gostam de filme brasileiro porque “tem muita safadeza”. Isso três décadas após esse tipo de filme alcançar sua maior popularid

Na década de 90, a denominada “retomada” trouxe a revisão de certas cenas históricas e o surgimento de filmes psicológicos. E tome crítico explicando ao espectador o que tal personagem queria dizer com aquela frase ou ainda por que o diretor enquadrou a cena daquela forma.

Na década passada, outro fenômeno. Dessa vez, de crítica e de bilheteria. Primeiro, os “filmes de favela”. O cinema nacional praticamente tornou-se refém desse tipo de filme, sempre num mesmo cenário: o subúrbio carioca. Violência, linguagem vulgar e até o surgimento de heróis hollywoodianos saltaram da tela grande.
Atualmente, temos assistido a uma profusão de filmes de comédia. Costumou-se termos sempre um trailer propagando “o filme mais engraçado do ano”. Roteiros arrastados, erotismo em alta, personagens superficiais são os ingredientes desse tipo de filme. O público enche as salas, agradecendo uma trama superficial e de fácil entendimento. Filme que não serve para pensar.

Bom seria se tivéssemos em cada época uma mistura dos gêneros acima tratados. Pelo menos, haveria diversidade, opção para o amante da sétima arte. Infelizmente, não é isso que ocorre. E a sensação que dá é a de estarmos vendo o mesmo filme várias vezes.

sábado, 22 de setembro de 2012

Em Família



 EM FAMÍLIA
Moacir Poconé

Era ainda cedo quando ele chegou. Estranhamente, ninguém o esperava. Bom dia, doutor. Como está doutor. Eram as frases que mais ouvia ao chegar. Exigia ser chamado assim: doutor. Mesmo que fora o chamassem pelo apelido de infância. Procurou ver um bom sinal nisso. Estavam todos satisfeitos, achou. Mas sentiu falta das bajulações. Tudo parecia muito estranho. Não estava acostumado a esse tipo de comportamento. Era comum, afinal, ouvir aquilo mesmo não sendo verdade. Mas gostava. Mesmo que fosse de mero formalismo. Onde estariam todos? Deixa pra lá, pensou, querendo retomar o pensamento para o que importava. Em sua sala, o trabalho o esperava. Contratos de milhões de reais sobre a mesa, alguns negócios legais, outros escusos. Propinas a pagar. Mas ele não esquecia a falta de afagos. Além do mais, eram sangue de seu sangue. Primos, sobrinhos, tios até a mãe. O pai já não estava entre ele, no sentido eufemístico da palavra. Senão, lá estaria, com toda certeza. Mais do que na prefeitura, sentia-se em casa, no seio do seu lar. Literalmente. Pouco importavam os processos. Aquele promotorzinho recém-chegado já estava com os seus dias contados. O governador era parente seu também, mesmo que distante. Iria dar um jeito naquele intruso que mais parecia um filho sem mãe. Afinal, como implicar com o fato de que ele fizera da prefeitura um cabedal de empregos. Que mal há nisso? Farinha pouca, meu pirão primeiro. Era o mote que sempre repetia, fazendo tornar uma verdade absoluta. Mas, e agora? Queria um cafezinho e sequer havia uma auxiliar a lhe servir. Bem que pensara duas vezes antes de empregar aquela sobrinha do irmão de seu cunhado. Agora que precisava dela, a danada desaparecera. Gente mais preguiçosa! Algumas ligações, várias assinaturas que sequer sabia do que se tratava. E ninguém aparecia. Que diabos! Levantou-se impaciente. Aquilo já estava passando dos limites. Foi à sala da secretária, enfezado, reclamar daquilo que já achava um insulto. Ao abrir a porta, ouviu, numa só voz: feliz aniversário! E lá estavam todos os secretários, auxiliares, cargos em comissão, numa sala que ficou apertada de tanta gente. Festa surpresa. Festa de família. Naquele dia ninguém trabalhou. A família inteira, na sala do prefeito, fez a cidade parar. A administração da cidade era da família e a família era a administração. Nada mais bonito que uma família unida. Em casa e no trabalho, como se ambos fossem a mesma coisa. E eram mesmo.

* Crônica selecionada em 2o. lugar no Concurso de Crônicas Laura Ferreira do Nascimento (SP). Resultado divulgado em 22/09/2012.