terça-feira, 27 de novembro de 2012

O abismo do Enem




O ABISMO DO ENEM - por Moacir Poconé
Foi divulgado na última semana o resultado do Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio, ano de 2011 por escola. Não se trata de uma amostragem ou de comentários genéricos de educadores, mas sim de dados específicos que mostram o desempenho dos alunos do nível médio de todo Brasil. A média das áreas utilizadas no Enem (Ciências da Natureza, Ciências Humanas, Matemática, Linguagens e Redação) é divulgada sempre no ano seguinte ao da realização das provas e vem corroborar o que todos já sabem: a decadência do Ensino Público no Brasil.
 
Os dados são estarrecedores. Das 50 melhores escolas do país, apenas três pertencem à rede pública. Ao contrário, das 50 piores instituições, todas são da rede pública, sendo 49 estaduais e uma municipal. Quase metades dessas escolas (24) estão localizadas na região Nordeste. A pior de todas elas está no Maranhão: o Colégio Estadual Aquiles Lisboa, que obteve média de 339 pontos de um total de 1000. Nada poderia evidenciar mais o sucateamento do ensino público no Brasil do que esses números fornecidos pelo próprio governo. Sem dúvida, uma ampla reformulação em todo sistema se mostra cada vez mais necessária, pois o que se vê é a formação de um verdadeiro abismo entre escolas privadas e públicas. Um antagonismo em que o interesse dos professores, a qualidade do material didático, a própria estrutura física da escola são os elementos determinantes.

Perdidas nesse pântano da mediocridade, estão as famílias de baixa renda que, não tendo condições de pagar as mensalidades de uma escola particular, matriculam seus filhos na rede pública de ensino. O que aprenderão? O que conseguirão em seu futuro? Serão capazes de atravessar o abismo imposto de forma tão cruel pelo próprio sistema? Ou serão engolidos por ele? São perguntas cujas respostas já conhecemos e que a cada ano têm respostas cada vez mais objetivas. Como no caso do Enem.

Os 10 primeiros do Enem (e suas respectivas mensalidades)

Instituição
Cidade
Mensalidades
1º e 2º ano 
Mensalidade
3º ano
Colégio Objetivo São Paulo/SP R$ 1.685 R$ 1.802
Colégio Elite Vale do Aço Ipatinga/MG R$ 725 R$ 845
Colégio Bernoulli – unidade Lourdes Belo Horizonte/MG  Não informou R$ 1.319 
Colégio Vértice – unidade II São Paulo/SP R$ 2.922 R$ 3.552
Colégio Ari de Sá Cavalcante Fortaleza/CE R$ 850 R$ 914
Instituto Dom Barreto  Teresina/PI  R$ 760  R$ 780 
Colégio Objetivo São Paulo/SP R$ 1.425  R$ 1.548 
Coluni – Colégio Aplicação da UFV Viçosa/MG gratuito (federal) gratuito(federal)
 Colégio Santo Antônio Belo Horizonte/MG  R$ 949 R$ 979 
10º  Colégio São Bento Rio de Janeiro/RJ R$ 2.378   R$ 2.556
*Inep/MEC

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A "pegadinha" da redação





 A PEGADINHA DA REDAÇÃO - por Moacir Poconé

Muito se falou esses dias sobre o tema da redação do Enem desse ano. “O movimento imigratório para o Brasil no Século XXI”. A surpresa foi geral, uma vez que diversos outros temas atuais e de muito mais repercussão eram cogitados. Sem dúvida, essa surpresa deve provocar uma redução na média das provas de redação, pois se imagina que grande parte dos candidatos não tinha o conhecimento devido sobre o tema. Como se diz no jargão dos cursinhos, foi uma verdadeira “pegadinha”.

A prova de redação, todos os anos, é motivo de suplício para os estudantes. Os alunos têm grande dificuldade em redigir um texto dissertativo devido a uma crescente falta de leitura. Além disso, o alheamento em relação a fatos do Brasil e do mundo é uma praga que assola a juventude. O mundo parece resumido às redes sociais e o desconhecimento sobre temas importantes impressiona. Por isso mesmo, não é raro que os candidatos ao Enem procurem, às vésperas da prova, informações sobre os possíveis temas. Sites divulgam esses temas, professores fazem suas listas e se discutem esses assuntos com mais ênfase. Não se tem notícia de que algum desses “profetas” tenha previsto a temática abordada como possível tema. As indagações foram tantas que o próprio Ministro da Educação Aloísio Mercadante deu uma entrevista coletiva para explicar o porquê da escolha do tema.

Avaliar os argumentos de um candidato, verificando a estrutura do seu texto, coesão e coerência, além do uso correto da Língua Portuguesa pode ser feito, sem dúvida alguma, de maneira bem menos traumática. Aquele que domina as técnicas de redação não precisa ser surpreendido por um tema inesperado. Não se está querendo que se avise previamente sobre o que será solicitado, mas um “susto” como muitos jovens disseram ter tido não deveria acontecer. Além disso, o cansaço é outro elemento que não deve ser esquecido. Lembremos que o candidato, no dia da prova de redação, deve responder ainda 45 questões da prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e outras 45 de Matemática e suas Tecnologias. Isso num período de cinco horas e meia! Não é à toa que costumamos ouvir no noticiário referências à prova como “a maratona do Enem”. 

Afinal, o Enem tem se mostrado a melhor maneira para o ingresso dos jovens no nível superior. Óbvio que adaptações devem e precisam ser feitas. Inegável que houve uma evolução, a partir do momento em que se prioriza o conhecimento de mundo em lugar de regras e fórmulas “decoradas”. Mas surpresas como o tema da redação não deveriam ter espaço. Não é com surpresas que se mede a capacidade que cada um tem de redigir bem ou mal um texto.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A vitória da novela





A VITÓRIA DA NOVELA - por Moacir Poconé

São muitos os gêneros narrativos. Crônica, conto e romance são os mais conhecidos. O contar de uma história vem chamando a atenção desde o século XIX, quando Joaquim Manuel de Macedo publicou, ainda em forma de folhetim, aquele que é considerado o primeiro romance brasileiro: A Moreninha. A história adocicada do amor entre Augusto e Carolina arrebatou os corações da elite carioca, emocionando as poucas leitoras da época.

O tempo passou e os textos escritos já não causam tanta comoção como em séculos atrás. O advento de técnicas audiovisuais desvia o público das páginas do livro tradicional. Não à toa, o cinema e a televisão possuem bem mais repercussão do que obras escritas em geral, salvo as exceções dos best sellers. Até mesmo a internet, mídia bem mais nova, com seus vídeos curtos encontra em si mesma caminhos para alcançar visualizações que beiram os milhões de acessos. Isso em dias. É um fenômeno irreversível. Devido a isso, a arte tem deixado as páginas dos livros e se transferido para as telas tanto do cinema como da televisão (ou mesmo dos computadores). 

No Brasil, ocorre um fenômeno cultural que as chamadas pessoas “cultas” teimam em fechar os olhos. É a vitória da novela televisiva como forma de manifestação literária. Certamente, por se tratar de um objeto massificador, muitos acreditam que se trata apenas de uma forma de entretenimento, não possuindo qualidades artísticas. Ora, como negar a capacidade narrativa de um autor em manter por seis, sete meses a atenção de milhares de pessoas numa mesma história? Personagens complexos vêm sendo criados, elementos técnicos como figurino, cenário, iluminação são trabalhados com esmero. Atores e atrizes se destacam encarnando personagens que passam a fazer parte da memória coletiva. A população repercute as cenas, imita as falas das personagens, copia seus figurinos. Cidades chegaram a parar como no último capítulo da novela das nove, a já emblemática Avenida Brasil.

Óbvio que existem boas e más produções. Mas também existem bons e maus livros. Afinal, a história a ser contada é que tem que ser boa. Seja ela escrita ou filmada. Seja veiculada em ambiente acadêmico ou na casa das pessoas. A qualidade de uma boa narrativa não deve se prender ao veículo ou ao local. Deve, sim, cativar as pessoas. E isso a novela televisiva faz há muito tempo.