sábado, 15 de novembro de 2014

A Redação do Enem





Muitos estudantes questionaram a proposta de Redação da prova do Enem desse ano. Dizem terem sido “pegos de surpresa”, como se o tema da prova devesse ser algo já esperado. Realmente, diversos temas são levantados como “quentes” durante o ano. O que não quer dizer, necessariamente, que um deles tenha de ser o escolhido.

Mais importante que trate de um assunto comentado, é preciso que a proposta de Redação a ser desenvolvida pelo aluno levante uma discussão de relevância em nossa sociedade. E isso ocorreu. “Publicidade infantil no Brasil” é assunto que merece (e muito) ser discutido por jovens e adultos. Seja do ponto de vista do comércio (empresas com a famosa “venda casada” de produtos e brinquedos, excesso de propagandas etc.), seja do ponto de vista da família (acompanhamento dos pais, reflexão crítica das pessoas etc.). Todas essas informações constituem, sem dúvida, a possibilidade de uma análise profunda acerca do comportamento dos jovens e suas consequências para o futuro.

Além disso, deve o aluno que faz o ENEM perceber que tal prova exige muito mais sobre conhecimento de mundo que conteúdos meramente técnicos. Essa exigência, claro,  também faz parte da prova de Redação. O aluno deve estar preparado para desenvolver qualquer tema a ele proposto, observando primeiramente a forma de seu texto (parágrafos bem definidos, uso de conectivos adequados) e depois o seu conteúdo (argumentos coerentes, exemplos concretos). Nesse ponto, cabe frisar a importância de o candidato se informar sobre os mais diversos assuntos que o rodeiam, lendo revistas e sites, pesquisando artigos e assistindo a jornais e filmes. A junção da parte estrutural com os elementos argumentativos certamente constituirá um texto coeso e coerente, como deve ser uma boa redação. 

Assim, verifica-se que não há qualquer problema na escolha do tema da Redação do Enem desse ano. A publicidade infantil faz parte de nossa sociedade e merece, sem dúvida, uma maior reflexão por parte de nossos jovens. Não foi a prova de Redação que criou esse assunto. Ele esta aí, presente. O problema é que muitos não o veem da forma que deveriam.

domingo, 2 de novembro de 2014

Derrota e vergonha





A intensa disputa que se viu nas eleições desse ano não terminou após a apuração dos votos que deram a vitória à candidata Dilma Roussef. Inconformados com a derrota, embora não existam motivos para tal sentimento, os eleitores antipetistas postam nas redes sociais ofensas gratuitas e marcam manifestações que, se não tivessem objetivos tão perigosos, seriam ridículas.

O maior exemplo da insanidade que tomou conta dessas pessoas é, sem dúvida, o pedido de intervenção militar no Brasil. Alegam os ensandecidos que há riscos de o Brasil se tornar uma nova Cuba ou Venezuela. Ou seja: o mesmo discurso que se ouvia há 50 anos, no Golpe de 64, voltou a aparecer nas ruas do Brasil, embora que proferido por poucos adeptos. Mas o inacreditável é que isso esteja acontecendo. 

Capitaneada pelo ex-cantor e ex-compositor Lobão (que prometeu ir viver em Miami caso ocorresse uma vitória do PT, mas infelizmente não cumpriu sua palavra), a tal manifestação reuniu cerca de 2.50 pessoas, o que para o que pretende chega a ser um absurdo. As faixas que acusam fraude nas eleições ainda podem ser consideradas como forma de protesto. Embora sem qualquer embasamento mais profundo, acusam o presidente do TSE, Dias Toffoli, de manipular a eleição. A suspeita vem de dois motivos principais: o ministro foi advogado do PT antes de assumir a vaga no STF e o fato de a apuração apenas ter sido liberada às 20h (horário de Brasília), quando Dilma já aparecia na frente do candidato Aécio Neves.

São acusações infundadas, uma vez que a indicação de Dias Toffoli seguiu o que manda o ordenamento jurídico vigente. Se há risco de irregularidade, que antes se promova a mudança da lei que regulamenta a composição da corte máxima do Brasil. Mas a sensação que se tem é que qualquer um que estivesse no comando, seria acusado de corrupto. Para alguns, se teve ligação com o PT, já é considerado suspeito, ou mesmo culpado. Mesmo que sem qualquer prova.

Quanto à apuração liberada apenas às 20 horas, tal fato se deu por conta do Estado do Acre, que, devido ao horário de verão, tem hoje uma diferença de fuso de 3 horas. Assim, os resultados dos votos só poderiam ser divulgados quando se encerrasse a votação no Estado nortista, o que ocorreu justamente às 20 horas de Brasília. Percebam que não há qualquer acusação técnica, em relação às urnas eletrônicas e manipulação de votos. São apenas teorias rasteiras, daquelas que circulam aos montes nas redes sociais e que os mais imponderados tendem a acreditar.

Porém, a vergonha que se viu nas ruas é muito pior que as meras suspeitas acima retratadas. Relaciona-se com algo muito mais perigoso para o Brasil e para as pessoas que zelam pela democracia. É o pedido de intervenção militar, algo que parecia impensável após as atrocidades cometidas pelo exército durante o regime ditatorial que durou 25 anos. Felizmente, trata-se de vozes isoladas que não merecem sequer esse comentário. Pessoas que parecem desavisadas sobre o que tal medida poderia significar para suas vidas e para o nosso país. Ainda bem que as instituições democráticas no Brasil estão cada vez mais sólidas e tais vozes não passarão de mero cochicho. Que assim seja.

domingo, 26 de outubro de 2014

Vitória do povo brasileiro





É um ditado popular, e, como representa a voz do povo, encaixa-se à perfeição nesse momento pós-eleitoral, confirmada a vitória da candidata Dilma Roussef: “Não troque o certo pelo duvidoso”. O povo, sábio como só ele, abraçou essa máxima e fez história nesse domingo, dia 26 de outubro.

Foi a escolha pelo governo das políticas públicas, que ao longo de doze anos olhou para os mais necessitados e fez mover as classes sociais, antes estáticas. Quem nascia em família pobre no nosso país, normalmente morria pobre, salvo exceções. Isso vem mudando, principalmente através do acesso à educação de nível superior oferecido pelo Governo Federal. Além disso, o número de  pessoas que passavam fome no Brasil, segundo informação da ONU, foi drasticamente reduzido, tirando nosso país desse terrível ranking. E muitas outras medidas foram tomadas, invariavelmente buscando a melhoria das classes economicamente inferiores, algo que há muito se pedia aos governantes.

Óbvio que não se trata de um governo cem por cento perfeito. Isso não existe. Denúncias de corrupção apareceram e os envolvidos foram julgados e condenados, como mandou a lei. Havendo outras denúncias e as devidas comprovações, sabe-se que a medida será a mesma, como deve ser num estado democrático de direito. Alguns pontos da política externa brasileira certamente mereciam melhor encaminhamento, é verdade. Mas o que se quer destacar aqui é que para o povo sofrido, oprimido por séculos, esses são pontos que ficam num segundo plano. Ele teve, finalmente, um governo que olhou por ele, vendo suas necessidades e abrindo espaço para suas conquistas, como a casa própria, um sonho antes inalcançável.

Teremos mais quatro anos de desafio pela frente, mas já sabemos que não haverá sustos. A continuidade de uma política voltada para o social mostrou ser o grande objetivo do cidadão que foi às urnas e reelegeu Dilma Roussef. Foi, sem dúvida, a vitória do povo brasileiro.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

O perigo da emoção





E a candidata que era vice, de repente se viu como cabeça da chapa, tornou-se o maior fenômeno eleitoral, chegando a figurar em pesquisas dez pontos percentuais à frente da segunda colocada. E essa mesma candidata, semanas depois, terminou a eleição em terceiro lugar, sem conseguir chegar sequer ao segundo turno. Como, em tão pouco tempo, explicar essas mudanças tão drásticas no eleitorado? A resposta está na emoção.

O eleitor mostrou que vota muito mais pela emoção do que pela razão. Tivesse o avião do ex-governador Eduardo Campos caído em uma data mais próxima a das eleições, certamente o resultado seria outro. A candidata Marina Silva talvez fosse até eleita num primeiro turno. A comoção generalizada se mostrou muito mais forte do que se supunha, uma vez que foi apenas passarem algumas semanas do fatídico acontecimento que as forças antes estabelecidas retomaram seus lugares na preferência das pessoas. Percebe-se, assim, que a razão é posta em segundo plano, em algo tão importante quanto é a escolha do governante de nosso país.


Óbvio que não se quer aqui afirmar que todos os votos de Marina Silva derivaram da emoção causada pelo passamento de Eduardo Campos. Mas a subida e queda vertiginosa da candidata do PSB devem servir de aviso que o povo brasileiro talvez não esteja tão amadurecido politicamente quanto se quer acreditar. O país não pode ficar a mercê de acontecimentos fortuitos para que se decida quem será o seu presidente. Longe disso. Uma plataforma política bem definida, programa de governo estabelecido, conquistas alcançadas e o histórico do candidato devem ser os elementos para que o eleitor escolha aquele que tem mais condições de governar o Brasil. A emoção não deve ser parte dessa decisão.