sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O gestor





As palavras possuem uma forte carga ideológica. A utilização de certos termos serve para engrandecer pessoas, dando-lhes destaque nas áreas em que atuam.

Grande exemplo é o título de "Rei". Inspirados em nosso passado monárquico, costumamos nomear figuras relevantes em suas áreas com esse título de nobreza. Daí termos o "Rei doFutebol", o "Rei da Música", ou a "Rainha dos Baixinhos". Muito comum também, chamarmos crianças de "príncipe" ou "princesa", numa referência aos filhos dos reis, indicando beleza.

Esses termos não ficam restritos apenas no campo cultural. É muito comum o uso para indicarpoder. No início do século XX, o coronelismo era comum no Nordeste brasileiro (há quem diga que existe até hoje). E daí surgiram os temidos coronéis. O que antes representava força, perdeu esse sentido e tal expressão é usada nos dias de hoje como representação para um político opressor e antiquado. "Fulano é um coronel", dizem aqueles ao se referirem a quem comanda algo com mão de ferro e que não acompanhou o progresso.

Curiosamente, outro "título" se tornou marca registrada, especialmente nas prefeituras e governos de Estado. Gestor. É só sintonizar programas matutinos que tratam de política que ouviremos tal palavra dezenas de vezes. Interessante é perceber o seu real significado e sua origem. A palavra "gestor" vem de gesto, gesticulação. Os primeiros gestores eram aqueles que, cerca de duzentos anos atrás, apontavam com o dedo indicador onde um carregamento de alimentos deveria ser colocado. Ou ainda apontavam quem deveria realizar tarefas. Com o tempo, tal significado teve seu sentido modificado, para indicar aquele que gerencia, que comanda.

Vale observar a carga que "gestor" traz de eficiência. Num exemplo, "Antônio não era apenas um prefeito. Era o verdadeiro gestor daquela cidade". Ou seja, chamar um político de gestor transformou-se por si só num elogio. Mas o próprio desgaste do tempo e o uso prático fizeram surgir os adjetivos. Agora já se diz "bom gestor" e "mau gestor". Prefeito ou governador perderam espaço.

Para a população, pouco importa o nome que tenha aquele que é responsável pela administração de sua cidade ou do seu Estado. Independente de se chamar de coronel, prefeito, governador ou gestor, o que precisamos é de bons administradores públicos, que não se escondam por trás de uma palavra que lhes confira status. Em vez da aparência, precisamos de eficiência na condução da coisa pública.

Com pesquisa em http://blog.kanitz.com.br/significado-palavra-gestao/

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Justa mudança


O governo de Jackson Barreto vem sendo alvo de muitas críticas. Muitas delas, merecidas. Entretanto, o governador tomou uma medida que há muito se esperava de um mandatário sergipano: retirou o nome de ditadores brasileiros de algumas escolas e praça de esportes do nosso Estado, numa recomendação da Comissão Nacional da Verdade.

Ao se homenagear um vulto histórico, espera-se que dele surjam referências dignas de um ser humano. Ainda mais numa escola, em que a formação do jovem está acontecendo. Esse certamente era o caso mais alarmante da contradição que era ter como nome da instituição o de um general ditador do regime militar. Era o que acontecia nos colégios Pres. Médici, Costa e Silva e Castelo Branco. Mudaram-se os nomes, respectivamente, para presidente Nelson Mandela, símbolo da luta contra a segregação racial, prof. Paulo Freire, reputado como um dos maiores educadores do Brasil e prof. João Costa, emérito educador sergipano. Também houve mudança no nome do Estádio de Itabaiana, chamado presidente Médici. Agora, será chamado de Etelvino Mendonça, desportista daquela cidade.

Mais que uma mera mudança nos nomes, a alteração significa uma correção, para que um momento lamentável de nossa História seja visto como degradante que foi e não algo a ser exaltado. Momento histórico que, infelizmente, é trazido por alguns como benéfico, chegando a ser pedido o seu retorno em atos públicos ou na própria internet. Será muito importante agora explicar o porquê das mudanças, destacando-se os atos opressores dos detentores dos nomes retirados e os atos humanísticos dos detentores dos nomes que agora chegam.

O único senão de todo esse processo se deve ao fato de a própria população envolvida não ter sido ouvida no debate em alguns casos. O próprio governador reconheceu esse erro no momento em que assinou o decreto que promoveu a alteração. Realmente. Seria perfeito ter dado a palavra às pessoas, numa celebração da liberdade de expressão justamente contra líderes autoritários. Mas já se trata, sem dúvida, de um grande avanço em prol da memória daqueles que lutaram em defesa de um mundo melhor.