O gesto do
lateral Daniel Alves no último jogo do Campeonato Espanhol repercutiu
por todo o mundo. Durante a partida contra o Villareal, um torcedor da
equipe adversária atirou uma banana ao campo, numa atitude racista,
comparando o jogador a um macaco. Ignorando a agressão, o jogador do
Barcelona simplesmente comeu a fruta e prosseguiu o jogo, provocando a
onda de referências que tomou conta das redes sociais.
Instantaneamente,
celebridades e anônimos viraram emissários de uma mensagem que ainda
hoje percorre na internet: “Somos todos macacos!”. Claro que acompanha a
frase uma foto da pessoa (famosa ou não) repetindo o gesto de Daniel
Alves, comendo a banana, numa espécie de solidariedade coletiva e
mundial que acontece no mundo. Presidentes emitiram notas sobre o fato,
programas de televisão trouxeram o assunto como pauta, as redes sociais
viraram território nativo da “macacada”.
Não se
quer aqui, é preciso destacar, reprovar o gesto do jogador brasileiro.
Ao contrário. O racismo é ato de terrível agressão e deve ser repudiado
de forma veemente ou mesmo ignorado, como assim foi feito pelo
futebolista. O que está por trás do movimento #SomosTodosMacacos é que
merece uma atenção maior.
Primeiro,
ressaltar que a tal hashtag foi ideia da agência de publicidade de outro
jogador, o craque Neymar. Ele mesmo foi um dos primeiros (senão o
primeiro) a postar uma foto com o filho, comendo o fruto tropical, e a
frase que iria ecoar por todo o mundo: Somos Todos Macacos. A partir daí
se viu a avalanche de famosos que de uma hora para outra se tornaram
defensores ardorosos de uma medida antirracista. Anônimos seguiram como
uma boiada repetindo o gesto do popstar brasileiro, muitas vezes sem
sequer saber o que significava aquilo.
Em
seguida, o apresentador e empresário Luciano Huck, que havia postado
foto com a sua esposa, a apresentadora Angélica, anuncia em sua loja
virtual a “Use Huck”, a venda de camisas (na seção “Camisetas do Bem)
com a banana mais uma vez acompanhada da sua agora indissociável
hashtag. Compra-se a blusa ao módico preço de R$ 69,00. É o capitalismo
mais uma vez por aproveitando-se da falta de senso crítico das pessoas
para conseguir lucro.
E o que
era um gesto de indignação caiu na mesmice de mera cópia, repetida à
exaustão por aqueles que não percebem que são meros autômatos do que a
mídia quer nos fazer enxergar. Não creio que sejamos todos macacos. Na
verdade, somos todos idiotas. Ou, para aproveitar o momento, somos todos
uns bananas!
Nenhum comentário:
Postar um comentário