UM SONHO DISTANTE
Divulgado o
resultado do vestibular da Universidade Federal de Sergipe, eis que se
verificou o que todos já previam: um elevado número de aprovados
de outros Estados e o número de sergipanos drasticamente reduzido. Tal
fato foi uma consequência direta da mudança implementada pela
Coordenação do Concurso Vestibular da UFS, que passou a utilizar o Exame
Nacional do Ensino Médio – ENEM como única porta de entrada para aquela
conceituada instituição de ensino.
Para
ilustrar o caso, vamos aos números. Em 2012, houve 29.334 inscritos para
o vestibular da UFS. Em 2013, esse número subiu para 59.389 (mais que o
dobro de inscrições). Em 2012, 4.633 sergipanos aprovados. Já nesse
ano, o número caiu para 3.849. Essa redução do número de sergipanos é
ainda mais perceptível em cursos considerados “nobres”, como é o caso de
Medicina. Das 160 vagas disponíveis em 2012, tivemos 80 sergipanos
aprovados. Já para as mesmas 160 vagas deste ano, somente 20 sergipanos
obtiveram êxito.
Não se
pretende aqui defender medidas de restrição a quem quer que seja, afinal
o vestibular é um concurso público e qualquer candidato que preencha os
requisitos necessários tem o direito de pleitear a vaga. Mas o que se
mostra necessário é que mecanismos sejam criados para que os pais que
investiram na educação de seus filhos não vejam as vagas dos principais
cursos da única Universidade pública de nosso Estado sendo preenchidas
por paulistas, cariocas e mineiros, apenas como exemplo.
Cumpre
salientar que essa flagrante superioridade em termos educacionais foi
provocada por séculos de contrastes socioeconômicos de nosso Estado ou
mesmo região em relação a outras regiões do Brasil. Assim, notadamente, o
Ensino Médio não é uniforme em nosso país, o que faz com que estudantes
de regiões mais prósperas obtenham vantagem em relação aos demais. É
importante frisar que esses estudantes sequer precisam vir ao nosso
Estado para se inscreverem ou fazer a prova. Fazem tudo isso em suas
casas, só precisando se deslocarem em caso de aprovação (isso se
realmente vierem, uma vez que podem se inscrever em diversas outras
faculdades). Concursos públicos em geral, mesmo com inscrições feitas
pela internet, exigem a presença do candidato no Estado ou mesmo na
cidade no momento da prova. Além disso, teremos certamente um êxodo dos
alunos formados oriundos de outros estados após a conclusão do curso. Ou
seja, usarão a estrutura e os professores da Universidade de Sergipe e
nada darão em contrapartida à sociedade sergipana já como profissionais.
Grandes
universidades públicas do sul e sudeste do país também usam o Enem como
critério de ingresso em seus vestibulares. Porém, quase a sua totalidade
usa a prova do Governo Federal como apenas um dos critérios para a
aprovação do aluno e não como o único. Ou seja, realizam também provas
próprias para submeter aos candidatos em outras fases, o que permite que
a própria instituição coloque um pouco de sua essência nesses exames.
Em nosso caso, questões que tratem de nosso Estado, como se fazia em
História ou Geografia de Sergipe não existem mais. E o desinteresse do
aluno do ensino médio por nosso Estado e nossas tradições aumenta
consideravelmente. Com a utilização das fases para o ingresso do
estudante, poderíamos ter esses assuntos abordados novamente no
vestibular, além de outros mais próximos da nossa realidade.
Enfim, a
Universidade Federal de Sergipe precisa recuperar sua identidade,
fazendo com que o sergipano efetivamente vislumbre a possibilidade de
nela ingressar no curso que pretende, numa concorrência, ao menos,
regional. Em nível nacional, o que teremos é uma invasão de estudantes
de outros estados. E a Universidade pública e de qualidade vai se
tornando um sonho cada vez mais distante para os sergipanos.