JOGANDO PRA GALERA
Nessa onda de manifestações populares jamais vista no
Brasil, os políticos foram pegos de surpresa. Ninguém esperava que a população
brasileira há séculos acomodada se insurgisse de maneira tão contundente contra
assuntos que antes passariam despercebidos. A imprensa também não percebeu a
onda. Inicialmente, os manifestantes foram mostrados como vândalos. Jovens desocupados
que depredavam o patrimônio público e que agrediam policiais, pondo a vida de
pessoas em risco.
Repentinamente, ocorre uma reviravolta. A extrema violência
usada por policiais e o número cada vez maior de manifestantes mostram a todos
que se tratava de uma situação verdadeiramente inédita. Milhões e milhões de pessoas
nas ruas, sem uma liderança definida, tendo por principais bandeiras a redução
do valor da tarifa de ônibus e a rejeição da famigerada PEC 37, dentre vários
outros assuntos. A opinião pública muda de lado e o apoio aos manifestantes torna-se
evidente.
Nesse ponto, os políticos saem da perplexidade. Rejeitam a
PEC 37 que antes do movimento seria aprovada e cantam o Hino Nacional,
comovidos. A presidente Dilma anuncia um inesperado plebiscito. Quer ouvir o
povo. Quer dar voz aos anseios populares. Artistas começam a fazer músicas em
homenagem às manifestações. A imprensa sai de um lado do muro, sobe e desce
para o outro. “Como é lindo ver o povo brasileiro se manifestando” diz certo
jornalista que antes condenara a mesma situação. É a hora do oportunismo. Estão
todos jogando pra galera.