A
sociedade brasileira ficou estarrecida com o bárbaro linchamento da
manicure Fabiana Maria de Jesus ocorrido na última semana. Devido a um
retrato falado divulgado em uma página de uma rede social, a mulher foi
confundida com outra pessoa, acusada de sequestrar e matar crianças em
rituais de magia negra. O vídeo que circula na internet mostra várias
pessoas agredindo ou simplesmente assistindo à execução sumária de
Fabiana.
Logo
veio a revelação. Fabiana era casada, mãe de dois filhos, nada havia
contra ela e um livro negro que alguns julgavam ser de práticas de magia
negra, nada mais era que a Bíblia. O tal retrato falado havia sido
feito no Rio de Janeiro anos atrás e a população teria sido incitada
pelo dono da página na internet que divulgara a imagem. Quase que
instantaneamente, o que já era um choque pela violência das cenas,
transformou-se numa tragédia. Afinal, uma pessoa inocente havia sido
linchada. Desde então, os órgãos de imprensa não cansam de mencionar tal
fato. Há sempre um destaque, enfatizando-se que uma pessoa “de bem”
teria sido injustamente alvo de criminoso. A pergunta que deve ser
feita, diante dessa situação: e se Fabiana fosse culpada?
Ficou
evidente que o que mais parece ter chocado a sociedade não foi o
linchamento em si. Afinal, fazer justiça com as próprias mãos está em
alta no Brasil e já se justifica até em veículos de comunicação. A
morosidade da justiça e vontade de vingança das pessoas têm sido a
explicação para isso. Tivesse sido confirmada a notícia de que a
manicure Fabiana realmente sequestrava crianças e as matava, tudo
estaria na mais completa normalidade. Como se coubesse a qualquer
cidadão acusar, julgar e executar outra pessoa, sem que fosse dado a ela
o direito de defesa. É a volta dos tempos da vingança privada, do
famoso “olho por olho, dente por dente”.
Disse
certa vez, Epicuro, filósofo grego: “A justiça é a vingança do homem em
sociedade, como a vingança é a justiça do homem em estado selvagem”. É
essa selvageria que vem se tornando parte da sociedade brasileira. É
ela que vem sendo aceita, em detrimento das instituições estabelecidas. É
a vitória da vingança e a derrota da justiça.