Os trinta e três estupros sofridos por uma menor no Rio de
Janeiro e que repercutiram em todo o mundo foram pouco para o que está
ocorrendo nas redes sociais. Na verdade, são muito mais que isso. São
múltiplos, milhares, talvez milhões. Porque a repercussão do fato e,
principalmente, os vídeos e fotos da menor são uma violência tanto ou até pior
que a dor física que ela certamente sentiu.
Trata-se de uma eternização de um momento grotesco e
condenado por aqueles que têm ainda o mínimo de decência. E aí temos dois
pontos a tratar. Um deles é o compartilhamento do vídeo em que a garota se
encontra dormindo, nua, após o ato dantesco ter sido praticado. De forma
deplorável, alguns dos meliantes riem da situação e exibem o corpo violentado.
Rapidamente espalhado nas redes sociais, a divulgação do arquivo se mostra
também um terrível crime contra a vítima, multiplicado por todos os celulares e
computadores de maneira vulgar e igualmente condenável.
Outro ponto a ser discutido é a tentativa de condenação da
vítima. De forma asquerosa, passaram a circular, também nas redes sociais,
fotos da menor com armas, fazendo gestos que remetem ao Comando Vermelho e
textos que informam que ela teria ido à favela por ter relacionamento com
traficantes. Informam ainda que teria sido mãe aos treze anos e seria dada à
prática sexual desde cedo. É uma campanha difamatória execrável. Uma vergonha.
Um descalabro. Uma tentativa nefasta de condenar a vítima pelo ato de estupro
praticado por trinta e três monstros e que nenhuma justificativa existe numa
sociedade minimamente civilizada.
Se o fato ocorrido já se mostra abominável, da mesma forma é
triste o comportamento de certas pessoas, que buscam ainda formas de justificar
o ocorrido, numa clara manifestação machista e opressora, presente há séculos
em nossa sociedade. Que de tal desgraça surja a consciência que falta para
aqueles que se acham seres humanos, mas na verdade não são dignos desse nome.