Meses atrás, uma reportagem da revista Veja causou polêmica.
Com o título “Bela, recatada e do lar” exaltava as qualidades da agora
primeira-dama Marcela Temer, destacando o fato que a referida senhora não
trabalhava e se dedicava somente a seu esposo, numa relação de dependência e
submissão, dentre outras características que pareciam perdidas em séculos
passados. Justamente o que as mulheres (as comuns) vêm se esforçando para
quebrar: o paradigma de que devem ser as donas de casa em lugar de uma vida
pessoal independente.
Pois bem. Percebe-se agora que o presidente interino leva
tal pensamento realmente a sério, a ponto de não nomear uma mulher sequer para
um de seus ministérios. Mais da metade da população brasileira ficou, de
repente, sem ter uma pessoa de seu gênero na Esplanada dos Ministérios. E antes
que os apressados o defendam, alegando que o que importa é a competência,
independente do sexo, ao menos sete dos ministros escolhidos são investigados
pela Operação Lava Jato, para citar apenas um fato suspeito. Negro também não
há. Somente homens, brancos e heterossexuais, para ilustrar de forma
irrefutável o ideal do ser humano perfeito.
O fato foi tão debatido nas redes sociais e causou tanta
estranheza que logo se buscou a História. E, de forma surpreendente, foi
observado que o último governo presidencial a não ter uma mulher no primeiro
escalão foi o do General Ernesto Geisel, no longínquo ano de 1974, ou seja, já
se vão 42 anos. Ainda nos tempo da Ditadura Militar. Uma ótima referência para
um governo que, assim como o do século passado, também não recebeu um voto
sequer do povo brasileiro.
Mas não parou por aí. Para deixar bem claro que as minorias
históricas não serão amparadas por seu governo, extinguiu o Ministério das
Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, bem como o Ministério da
Cultura. Logo, o Ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, trouxe uma explicação
para o caso da falta de mulheres, numa daquelas frases em que a emenda sai pior
que o soneto: “Elas ocuparão as secretarias”, referindo-se a cargos de segundo
escalão. É. Para Temer, as mulheres não passam de secretárias. A dele, do lar.
As demais que sigam o seu exemplo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário