Da ordem do Juiz da Vara Criminal de Lagarto, Dr. Marcel
Montalvão, que determinou o bloqueio do aplicativo Whatsapp em todo o Brasil,
derivaram os mais lamentáveis e indignos comentários sobre nossa cidade, nosso
Estado e nossa região, o Nordeste. Pessoas desconhecidas e até mesmo famosas
usaram outras ferramentas, como o Twitter ou comentários de sites na internet, para
expressar toda sua fúria diante da medida do magistrado sergipano.
Não se quer aqui discutir se tal medida foi acertada ou não.
O fato é que, retirado do ar o aplicativo do momento, todos os holofotes se
voltaram para a terra dos papa-jaca, como somos chamados. Fato semelhante ao
que ocorreu, meses atrás, por decisão do mesmo juiz, quando decretou a prisão
do vice-presidente do Facebook por não colaborar com investigações criminais,
relativas ao tráfico de drogas. Porém, a medida tomada dessa vez afetou diretamente
mais de cem milhões de pessoas que usam o aplicativo para os mais diversos
fins, o que certamente provocou a avalanche de críticas e ofensas que invadiu o
mundo virtual.
Menosprezo aos habitantes, chacota com o nível de
desenvolvimento, preconceito intelectual, tudo se viu nas ondas da internet.
Até mesmo famosos como o apresentador Marcelo Tas, conhecido por defender
minorias e exigir respeito em seus programas, manifestou-se de forma pejorativa
ao chamar o magistrado lagartense de “juizinho”. Esqueceu-se de que uma decisão
judicial tomada seja ela em Sergipe ou São Paulo tem o mesmo valor e mesmos
efeitos. E, mais ainda, o juiz Marcel Montalvão, nesse momento, é o titular da
Vara Criminal de Lagarto. Caso estivesse na capital, Aracaju, a medida seria
aceita mais passivamente? É conforme o valor da cidade e seu destaque, em nível
nacional, que as decisões judiciais são mais ou menos absorvidas? Fosse um
julgador do eixo sul-sudeste se acataria silenciosamente a ordem? Ou ao menos
se respeitariam os habitantes da região, ficando os xingamentos restritos ao
autor da decisão? O que se viu foi um comportamento preconceituoso e
xenofóbico, próprio de pessoas com a mente pequena, talvez um novo reflexo da
microcefalia que afeta o nosso país.
O certo é que o povo nordestino, sergipano e, mais
especificamente, lagartense não pode ser tratado da forma que foi, apenas pelo
fato de um juiz, nas atribuições do seu cargo, usar as ferramentas que julgou
necessárias no combate ao crime organizado. A cidade de Lagarto, bem como seus habitantes,
merece ser respeitada. Somos os papa-jaca, com orgulho! Somos a terra de Sylvio
Romero, de Laudelino Freire, de Diego Costa, dentre tantos outros ilustres
filhos. Do Maratá e sua força empresarial. Do grupo Parafusos e sua força
cultural. Do campus de Saúde da Universidade Federal de Sergipe. Da tradição da
maniçoba e do arroz com galinha. Também de gente anônima, honesta, que trabalha
decentemente e luta por seu lugar ao sol, com suas dificuldades e desafios.
Gente que não vive alheia ao progresso e nem à tecnologia. Que tem acesso à
internet e às redes sociais. Que é brasileiro, assim como qualquer outro
nascido no território nacional. Sem superioridade, nem inferioridade. Apenas
igual.
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