Revendo os arquivos dos últimos textos aqui publicados, me
surpreendi com a ausência de artigos comentando sobre cinema. Amante que sou da
Sétima Arte, começarei a corrigir tal erro desde já, indicando para os amigos
leitores uma das últimas obras a que assisti. Um filme realmente espetacular,
que fala de fé e de esperança.
Trata-se de As aventuras de Pi (Life of Pi, EUA, 2012),
filme do consagrado diretor Ang Lee e que teve 11 indicações ao Oscar, tendo
vencido em 5 categorias. Baseado no romance de Yann Martel, que, por sua vez, partiu
de um argumento do escritor gaúcho Moacyr Scliar. É a história de um rapaz ( o
Pi do título) que, após um naufrágio de um cargueiro que levava sua família e
um zoológico da Índia ao Canadá, acaba
sobrevivendo num barco salva-vidas com uma zebra, uma hiena, uma oragontango e
um tigre-de-bengala, chamado Richard Parker.
Além de belíssimas imagens e impressionantes efeitos
visuais, a história obviamente tem um grande conflito. É a necessidade de se
conviver em tão pouco espaço com um animal selvagem (o tigre acaba devorando
todos os outros logo no início da jornada) que faz o desenrolar do filme. Serão
227 dias de convívio, numa fábula de medo e respeito. Chega a ser
incompreensível imaginar tal situação, mas tudo é feito de forma que se torna possível
acreditar que realmente os fatos aconteceram daquela forma.
O tema da religiosidade está presente desde o início do
filme, quando um Pi já adulto avisa a um interlocutor (um escritor em busca de
uma boa narrativa) que contará uma história que “o fará acreditar em deus”. Na
verdade, é um aviso a todos nós, para termos a ciência de que os acontecimentos
que serão narrados estarão muito acima do mundo físico e racional em que
vivemos.
É preciso ir além do que o filme nos mostra. E a síntese do
filme está num dos diálogos finais, numa frase. “Qual história você prefere”,
pergunta Pi a seu amigo escritor. É uma
pergunta que devemos fazer a nós mesmos, que extrapola a tela e nos faz pensar
em nossas próprias vidas e o que queremos fazer delas.