Há uma lenda persa muito conhecida no mundo
ocidental chamada “As mil e uma noites”. Trata-se de história muito antiga, na
qual uma bela e muito inteligente mulher consegue evitar sua morte ao contar
histórias a um rei por mil e uma noites.
Os personagens são Sheherazade e o rei Shariar. O rei, após
ser traído, acaba por matar sua esposa e o seu amante. E resolve tomar decisão
das mais terríveis: a cada noite se casaria com uma nova mulher e, logo na
manhã seguinte, mandaria executá-la, evitando assim nova traição. Assim foi
feito por três anos, o que gerou muita lamentação em todo reino.
Sheherazade então, julgando-se muito esperta, resolve se
oferecer para casamento com o tal rei, dizendo saber como acabar com aquela
atrocidade. Mesmo com os pedidos de seu pai, a bela moça não hesita e põe seu
plano em prática, casando-se com o rei.
Sabiamente, fala ao monarca que sua irmãzinha chora, pois
não terminará a história que havia começado, uma vez que será executada pela
manhã. Curioso, o rei quer saber que história é essa. Então, de forma muito
inteligente Sheherazade conta uma história
que vai até o dia amanhecer, deixando o rei ansioso por seu final. Até que raia
o dia. E o rei, ávido por saber o fim da narrativa, não executa a moça. Para se
manter viva, a garota vai contando histórias e mais histórias, distraindo o rei
por mil e uma noites, até que, ao fim, mostra que já conviveram juntos por todo
esse tempo, amaram-se, tiveram dois filhos e que o homem nada havia percebido,
por estar entretido com os enredos de Sheherazade. Por fim, casam-se, celebrando
o amor.
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Certamente, a jornalista Rachel Sheherazade tem seu nome
inspirado na personagem que acabamos de mencionar. E, pelo jeito, também gosta
de contar histórias. Tendo iniciado sua carreira num telejornal da região nordeste,
tornou-se figura conhecida por suas opiniões, consideradas corajosas por alguns.
Na verdade, escondia atrás de suas palavras um rancor e um ódio comparáveis às
ideias fascistas. Ainda na onda da repercussão por sua dita bravura, chegou à
bancada de um jornal de alcance nacional, o SBT Brasil, e continuou por contar
suas histórias marcadas por fortes tintas ideologicamente de direita e marcadas
por uma religiosidade quase cega.
A última dessas incursões ao mundo das polêmicas foi, na
verdade, um crime. A jornalista que gosta de contar histórias viu na grotesca
cena de pessoas que aprisionaram um menor de idade, torturando-o em praça
pública, uma redenção da sociedade. Incentivou a prática da tortura ou do homicídio,
alegando uma tal de “legítima defesa da sociedade”. Na verdade, trata-se de
querer oficializar o linchamento e a antiquíssima e descabida vontade das
pessoas em momentos de insanidade de querer fazer justiça com as próprias mãos.
Estamos no século XXI. Nossa sociedade há muito deveria ter
se livrado dos atos de barbárie que marcaram o início das civilizações. Cabe ao
Estado o poder de punir os delinquentes, da forma adequada e prevista nas leis.
Não compete a uma pessoa formadora de opinião, defender tal prática, nem mesmo de
brincadeira. A Sheherazade persa terminou suas histórias com um final feliz. O
final das histórias da Sheherazade brasileira não será o mesmo.
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