A produção textual, juntamente com a leitura, são dois grandes
obstáculos que um professor de redação percebe nos jovens de hoje. A luta é
árdua, mas de vez em quando surgem textos em que se nota que ainda resta
esperança. Por isso, o reconhecimento é necessário, para que sirva de estímulo
não apenas ao produtor do texto, mas principalmente aos demais estudantes.
Nessa postagem, compartilho com os leitores desse blog a produção de uma
de minhas alunas, Karine Araújo Trindade. Ela é aluna do 2o. ano do Ensino
Médio do Colégio José Augusto Vieira e produziu a crônica que segue abaixo,
após solicitação em sala de aula.
Os gritos do
silêncio
Lucy era uma jovem que morava com seus pais. Ela era dona de uma
tristeza incomparável. Seus olhos mostravam os traços de uma dolorosa solidão.
Seus passos eram lentos, como se ela nunca quisesse ter saído da proteção de
sua casa. Seus trajes eram moletons um tanto surrados, que por trás deles ela
escondia as dores de um silêncio, as cicatrizes. Seu corpo fedia a cigarro, a
álcool e todas as coisas que resultavam na sua destruição.
Seu sacrifício era ter que enfrentar uma sociedade doente, em que as
pessoas eram só uma cópia das modelos que passavam na televisão. Ao contrário
deles, Lucy ignorava qualquer meio onde a manipulação social estivesse presente
explicitamente. Preferia os seus livros de poesias, os quais ela lia em todos
os fins de tardes na biblioteca, ou até mesmo ouvir “The Beatles” na varanda,
enquanto tentava decifrar os mistérios da vida. Ela era cruel ao falar de si
mesma, se menosprezava o tempo todo, mas todos sabiam que ela só precisava de
alguém. Que enquanto ocorria uma guerra dentro de si, o seu silêncio gritava
por paz, mas será que alguém realmente ouviu? Ou fingiu que se importava?
Mas, foi em um dia de guerra mental, que encontraram o corpo da pequena
Lucy na varanda de sua casa. Talvez por puro egoísmo esquecêssemos de
escutá-la. Assim como Kurt Cobain, antes de seu suicídio, ela deixou uma
pequena carta a sua direita. Era um pouco complicado de compreender a sua
escrita. Talvez ela estivesse trêmula demais para se despedir em um pequeno
papel. Mas no fim ela dizia “Fecharei meus olhos, pois os anjos caídos irão me
visitar”. Para quem não sabe, “os anjos caídos” a que Lucy se referiu eram os
anjos que se rebelaram contra Deus juntamente com Lúcifer. Não compreendíamos a
sua falta de fé, a falta de um ser maior. Lucy só precisava acreditar.
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