"Miséria é miséria em qualquer canto
Riquezas são diferentes"
Titãs
Causaram espanto e tristeza os atentados ocorridos na última sexta-feira na
cidade de Paris, uma das cidades mais representativas da cultura ocidental. As
cenas chocantes veiculadas pela tv e pela internet e o número de mortos
mostraram, ao mesmo tempo, a fragilidade em que as pessoas se encontram e o
avanço dos terroristas pelo mundo. Logo a comoção se espalhou pelas redes
sociais, com manifestações de apoio aos franceses e, obviamente, a mídia passou
a abordar e explicar como tal tragédia acontecera, dedicando horas ao caso.
Nada mais natural.
Eis que logo surgem nas mesmas redes sociais pessoas indignadas,
compartilhando textos, imagens, charges, comparando o ataque terrorista na
França a outras tragédias ocorridas aqui no Brasil. Questionam por que os
brasileiros se mostram tão abatidos e solidários e por que a mídia dá tanta
ênfase ao lamentável evento. O recente rompimento da barragem em Mariana (MG) é
o mais escolhido para essas comparações. Mas há também outros momentos trágicos
lembrados, como o incêndio na boate Kiss. Junto à imagem do terrorista Osama
Bin Laden com as cores da bandeira francesa, o texto diz: "Você sabia? Que
mais de 200 pessoas morreram na boate Kiss e ninguém de Paris ficou de luto
(sic)". Outros ainda comentam sobre a pobreza no Brasil, as pessoas que
morrem na fila do SUS sem atendimento, a corrupção generalizada, querendo dizer
que são tragédias maiores que a francesa e que fazem parte do nosso dia a dia e
ninguém se importa. Ressalte-se que todos os exemplos citados foram ou são
devidamente abordados pela imprensa, até porque eram também notícia e é disso
que os meios de comunicação sobrevivem.
Parafraseando a música "Miséria" do grupo paulista Titãs, podemos
dizer que "Tragédia é tragédia em qualquer canto". Qual a necessidade
de se ficar debatendo qual terrível acontecimento foi pior ou melhor que o
outro se ambos foram terríveis para milhares de pessoas, sejam elas
brasileiras, francesas, sírias ou tailandesas? O foco deveria ser outro, que se
apresenta muito mais perigoso e sério do que comparações mesquinhas entre
Mariana e Paris. Compreender cada situação e sua devida importância. Dar o
valor a cada problema, analisando os seus desdobramentos e consequências, que,
infelizmente, não parecem nada agradáveis. Seja no Brasil ou na França.
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