Ao longo de duas décadas trabalhando com turmas pré-universitárias,
posso afirmar sem medo: ainda não criaram nada melhor para o
estudante chegar ao nível superior que o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Ainda assim, a participação de um jovem nessa seleção se torna um verdadeiro
martírio.
O nome "martírio" expressa bem o que passa por esses
adolescentes todos os anos. O dicionário registra "grande aflição, grande
sofrimento" como alguns dos significados desse termo que vai além da
conotação religiosa. E é justamente isso que sentimos ao vermos como ficam os
estudantes às vésperas, durante e após a realização das provas. Que estão
passando por uma agonia desmedida. Óbvio que generalizamos. E o mais curioso é
que, normalmente, aqueles que mais se dedicam são os que mais sofrem,
certamente por suas próprias cobranças ou ainda por exigência dos pais ou amigos.
A ansiedade é visível e o aspecto psicológico passa a ter um valor às vezes até
maior que o aspecto pedagógico. Relatos de "branco", mal-estar, dor
de cabeça e até desmaios são incrivelmente comuns nesse momento. A concentração
e a calma, tão necessárias para uma boa realização de prova, ficam distantes
quando mais se necessitava delas.
Por isso, tornam-se comuns perguntas se repetem todos os anos. "O
que fazer um dia antes da prova?", "O que fazer durante a
prova?". A busca por profissionais da psicologia e técnicas de relaxamento
também se intensifica. Tudo isso é válido, sem dúvida. Mas é preciso perceber
que tantas discussões a respeito desses procedimentos só existem por causa das
cobranças que, conscientemente ou não, os jovens são bombardeados nesse
momento. O fato de existir uma prova que irá decidir o futuro profissional da
pessoa apresenta-se como um enorme peso. E as dezenas de anos escolares findam
naquele fim de semana da realização das provas. É muita carga emocional
envolvida. E ainda após a prova temos outro martírio: o da espera. A ânsia
pelas notas e finalmente pela lista de aprovados, divulgadas cerca de dois
meses após a realização do concurso. Mais sofrimento, mais angústia.
Certamente, não haverá uma solução simples para quem se esforça e se
dedica para prestar o Enem. A ansiedade fará parte de sua rotina, assim como
devem fazer os estudos diários. O que se deve buscar é justamente uma relação
de apoio, de suporte e não de cobrança, para fazer com que esse caminho árduo
se torne um pouco menos penoso. Pais, mestres e amigos são peça fundamental
nesse processo que não deve ser visto como um fim em si, mas um meio para novas
conquistas.
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