Após a divulgação das controversas escutas telefônicas
promovidas pelo juiz Sérgio Moro, vimos surgir nas redes sociais, em programas
de rádio e TV, ou mesmo em conversas entre amigos, uma atitude de surpresa
diante do vocabulário utilizado pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.
Como poderia um ex-presidente falar tantos palavrões ou usar tantos termos de
calão em suas conversas? Um verdadeiro absurdo, segundo o espanto das pessoas.
Esqueceram que ali estava o Lula cidadão comum, em conversas
particulares com pessoas próximas. Trataram a fala do ex-presidente como um
pronunciamento oficial. “Estamos vendo agora quem ele realmente é”, disseram
alguns desses comentaristas, surpreso muito mais pela forma do que pelo conteúdo
dos diálogos. Certamente, são pessoas que não xingam no seu dia a dia e por
isso se surpreenderam com as divulgações. São pessoas que jamais seriam
chamadas de “boca suja”.
Interessante a relação que se pode fazer com outro evento.
Só que esse, público e de alcance mundial. Trata-se da abertura da Copa do
Mundo, no ano de 2014, aqui no Brasil. A torcida, formada em sua imensa maioria
por pessoas de boa posição econômica e social, mandou em alto e bom som a
presidente Dilma, que naquele ato representava o país, “ir tomar no c...”. É irônico
que naquele momento, esse ato grosseiro tenha sido tratado por muitos como
natural e um exemplo da liberdade da expressão das pessoas. E agora, provavelmente
muitas dessas pessoas, condenem Lula por seu vocabulário numa ligação reservada.
Não entrarei no mérito do teor dos grampos realizados. Mas a
hipocrisia no país da boca limpa sem dúvida merece uma análise mais detalhada.
O que provoca o assombro realmente é o teor das palavras ou a vontade de
condenar aquele que as profere? Fica a reflexão.
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