Um
dia desses, um grande amigo me liga já certa hora da noite pedindo que
eu conversasse com seu filho. O jovem, um garoto de 14 anos, estuda num
famoso colégio de Aracaju e estava inconformado com o fato de ter que
aprender alguns assuntos ligados à Literatura, como metrificação e rima.
O pai, que é médico, tentara argumentar da necessidade do estudo, mas
havia desistido diante da pergunta do filho de por que estudar todas
aquelas coisas, já que certamente não as usaria em sua vida
profissional.
Conversei
com o rapaz, tentando mostrar a literatura como uma arte, e não como
algo mecânico. De forma didática, comparei com a pintura, a arquitetura e
outras artes que não usam a palavra como instrumento. A literatura,
obviamente, usa. E, dessa forma, precisa trabalhá-la não apenas da forma
comum, mas usando técnicas que enriquecerão, além do conteúdo, a forma
do texto escrito. O garoto, adepto como a grande maioria dos jovens de
sua idade aos jogos eletrônicos e computador, apenas ouviu, certamente
achando tudo aquilo uma grande bobagem.
A
ideia de se abranger todas as áreas do conhecimento vem do movimento
chamado Enciclopedismo. Movimento francês liderado por Diderot e
d’Alembert no século XVIII, tinha como principal objetivo catalogar
todas as informações do conhecimento humano ligadas à razão. Acabou
virando verbete de dicionário, com se vê na terceira acepção do vocábulo
no Dicionário Houaiss: “enciclopedismo - tendência que conduz ao
acúmulo sistemático dos conhecimentos nos diversos ramos do saber”.
Alguns
dias depois encontrei com meu amigo novamente. Perguntei se a conversa
havia surtido algum efeito (embora já soubesse da resposta). Ele,
educadamente, disse que “mais ou menos”, mas que o seu filho não havia
se convencido totalmente. Saber sobre redondilhas maiores ou menores,
rimas graves ou esdrúxulas continuava sendo algo extremamente supérfluo.
De que serviriam todas aquelas informações se ele tencionava, no
futuro, trabalhar na área da informática?
De
toda essa história, é necessário perceber o quão é difícil atrair a
atenção de jovens alunos para disciplinas ou assuntos que ele mesmo
julga desnecessários (e que talvez realmente sejam). O objetivismo está
cada vez mais forte entre os estudantes. O questionamento acerca do
nosso sistema de ensino, que procura contemplar uma infinidade de temas
dos mais variados, torna-se cada vez mais frequente. O professor precisa
não somente ministrar sua aula, mas efetivamente provar sua
aplicabilidade no dia-a-dia. Não é tarefa fácil.
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