A CAVERNA - por Moacir Poconé
Sócrates - Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoço acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar à cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.
Glauco - Estou vendo.
O diálogo acima é o início do mito da caverna, descrito por Platão em sua obra A República. Na metáfora, temos a libertação dos homens de um ambiente de escuridão e de ignorância para o caminho da verdade, representada pela luz. São prisioneiros daquilo que não vêem ou que pensam não existir. Acreditam somente num mundo de sombras, refletidas na parede da caverna. E, maior tristeza, não percebem o mundo ao seu redor, pois simplesmente pensam que ele não existe.
Saindo da visão metafórica, em que condições viveria uma pessoa longe da sociedade? Estaria ela numa nova condição, à margem das leis e regras impostas a todos? O radicalismo da situação permitiria exceções? E ainda como suportar o distanciamento dos entes queridos e ainda a privação de comida ou mesmo de ar, elementos básicos de subsistência? Numa paráfrase à resposta de Glauco a Socrátes, é isso que estamos vendo atualmente no Chile.
Trinta e três homens, desde o dia cinco de agosto, estão a setecentos metros de profundidade, presos numa mina de cobre no país andino. Felizmente, já houve contato com a superfície e ao menos recebem água, alimentos e mensagens de seus familiares. Mas as imagens recebidas da “caverna” não deixam de ser aterrorizantes. E se tornam ainda mais ao se saber que o resgate demorará ainda cerca de cem dias. Como sobreviverão todo esse tempo em condições tão precárias? De que forma sairão desse exílio forçado? Se fisicamente estarão debilitados, psicologicamente jamais serão os mesmos. Como saber o que é real ou imaginário? A noção do que se concebe como “normal” certamente não será a mesma.
Se no mito da caverna a busca é pela verdade, no caso dos mineiros chilenos a luta é pela própria vida. Certamente, diversas lições serão tiradas dessa verdadeira experiência pela qual o ser humano jamais passou. Não se pode esperar menos, diante de tanto sofrimento e angústia.
Tenho acompanhado por cima esse fato. E, acompanhando superficialmente, me sinto angustiado. Imaginem os familiares desses mineiros. Aos que acreditam, orem. À Moacir, parabéns por mais um belo texto.
ResponderExcluirVicente.
Isso é que é história da vida real! Não dá pra termos nenhuma idéia de como é estar lá. Por mais que peguemos a mesma quantidade de pessoas e nos prendamos num quarto, dentro de nossas cabeças sabemos que vamos sair quando quisermos, mas e eles? Questionamentos fantásticos Moacir. Parabéns!
ResponderExcluirWanderley
Parabéns pelo noticiário Moacir. Quando assisti esta reportagem na televisão logo lembrei da alegoria da caverna de platão.
ResponderExcluirOlha pode-se dizer que isso foi uma verdadeira metarmofose para a vida desses homens.
Experiência que só podem ser narradas diretamente por aqueles que vivênciaram.
Graças a Deus estão todos bem.
Dayane