AS VÁRIAS FACES DA CENSURA - por Bruno Sales*
Quando pensamos no termo censura, normalmente nos vem à mente o período da Ditadura Militar, instaurada no Brasil entre os anos de 1964 a 1985. Durante estes anos não havia possibilidade de publicação de qualquer pensamento contrário aos ideais dos Presidentes/Generais. Ou se mudava o que estava escrito ou o material era censurado, e talvez, seu autor perseguido. Desde então, estamos acostumados a fazer uma relação entre censura e ditadura. Tal situação se estendeu a vários países da América Latina em função da polarização mundial entre Estados Unidos e União Soviética. Controlar o pensamento da população era primordial para ambos os lados. Pois bem, a guerra fria acabou e o Brasil vive hoje em uma democracia consolidada, com plena liberdade de imprensa. Será mesmo?
É possível notar, principalmente em ano eleitoral, um forte controle ideológico nas pautas de reportagem da maior emissora nacional, a Rede Globo. E isso não é novidade! Basta recordar a edição pra lá de tendenciosa do debate entre Lula e Fernando Collor, realizada pelo Jornal Nacional na véspera da eleição presidencial em 1989. Assim como os censores da ditadura, os editores do Jornal Nacional, que eram os únicos que dispunham das imagens do referido debate, deturparam informações em com motivações políticas. Para citar um evento mais recente, basta comparar as entrevistas concedidas pelos candidatos à presidência nestas eleições ao Jornal Nacional. Dilma Rousseff, candidata de esquerda, sofreu do início ao fim com a dupla dinâmica William-Fátima. Nenhum aspecto positivo do atual governo foi citado pelos apresentadores e Dilma era interrompida a todo o momento. Já José Serra, candidato de direita, teve que responder sobre o bom exemplo de São Paulo com suas estradas novas e seu baixo custo para o usuário, falando livremente, sem interrupções. Interessante é que nas reportagens do Jornal da Band, este mesmo sistema viário ainda é motivo de muitas críticas dos motoristas. Manipular informações, não seria isso uma forma censura?
Outra curiosidade sobre a Rede Globo é que ela só noticia eventos que fazem parte ou da sua de programação ou da grade dos canais Globosat. Por exemplo, a Globo fala em Fórmula 1 e Stock Car, mas não menciona a Fórmula Indy ou o Fórmula Truck, transmitidas pela Bandeirantes. As Olimpíadas de Inverno, transmitidas pela Rede Record, não aparecem no Globo Esporte nem se nevar em Caruaru. A lista continua com os Jogos Mundiais da Juventude, realizados em agosto deste ano, e o Oscar, só para exemplificar. Não interessa a importância do evento. Se é transmitido por outro canal, não é mencionado na Globo. Omitir intencionalmente informações, não seria isso uma forma de censura?
Parceira ideológica da Rede Globo, a revista Veja também merece destaque negativo pelos textos impressos em suas folhas. Governantes comunistas, socialistas ou os simpatizantes da esquerda recebem de seus colunistas e repórteres “tratamento vip”. Normalmente são descritos como autoritários, iletrados, irresponsáveis e burros, sem meias palavras! O problema não está na linha seguida pela revista, mas sim nos ferramentas que ela utiliza para justificar seu ponto de vista. Ninguém nunca leu na Veja que Cuba tem taxa de analfabetismo próximo de zero e sistema de saúde pública exemplar, nem que o embargo aos cubanos, grande responsável pelo racionamento de alimentos existente na ilha de Fidel, tem motivos puramente políticos. Ninguém nunca vai ler na Veja que o Fundo Monetário Internacional recomendou recentemente o modelo brasileiro de controle da economia para os países da União Européia. Ninguém saberá por suas páginas que o Golpe Militar de 1964 foi incitado e financiado pela direita norte-americana, apoiado pela direita brasileira, tudo comprovado documentalmente. Mais uma vez pergunto: não seria filtrar informações uma forma de fazer censura?
Logo, censura não se limita ao que fizeram os militares ou o que fazem governos como o de Hugo Chavez na Venezuela, que chegou a fechar emissoras de TV que lhe faziam oposição. A censura aparece quando o profissional de imprensa não consegue separar sua opinião daquilo que deve ser veiculado, distorcendo seu conteúdo por questões ideológicas ou por defesa de interesses. Por fim, a censura em suas várias formas se faz presente quando há manipulação ou omissão de informações, independentemente de quem o faça.
* Bruno Sales é quase engenheiro, quase físico e quase professor, ainda buscando a sua real vocação.
Os textos da "Segunda sem lei" são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião dos criadores deste blog.
Quando pensamos no termo censura, normalmente nos vem à mente o período da Ditadura Militar, instaurada no Brasil entre os anos de 1964 a 1985. Durante estes anos não havia possibilidade de publicação de qualquer pensamento contrário aos ideais dos Presidentes/Generais. Ou se mudava o que estava escrito ou o material era censurado, e talvez, seu autor perseguido. Desde então, estamos acostumados a fazer uma relação entre censura e ditadura. Tal situação se estendeu a vários países da América Latina em função da polarização mundial entre Estados Unidos e União Soviética. Controlar o pensamento da população era primordial para ambos os lados. Pois bem, a guerra fria acabou e o Brasil vive hoje em uma democracia consolidada, com plena liberdade de imprensa. Será mesmo?
É possível notar, principalmente em ano eleitoral, um forte controle ideológico nas pautas de reportagem da maior emissora nacional, a Rede Globo. E isso não é novidade! Basta recordar a edição pra lá de tendenciosa do debate entre Lula e Fernando Collor, realizada pelo Jornal Nacional na véspera da eleição presidencial em 1989. Assim como os censores da ditadura, os editores do Jornal Nacional, que eram os únicos que dispunham das imagens do referido debate, deturparam informações em com motivações políticas. Para citar um evento mais recente, basta comparar as entrevistas concedidas pelos candidatos à presidência nestas eleições ao Jornal Nacional. Dilma Rousseff, candidata de esquerda, sofreu do início ao fim com a dupla dinâmica William-Fátima. Nenhum aspecto positivo do atual governo foi citado pelos apresentadores e Dilma era interrompida a todo o momento. Já José Serra, candidato de direita, teve que responder sobre o bom exemplo de São Paulo com suas estradas novas e seu baixo custo para o usuário, falando livremente, sem interrupções. Interessante é que nas reportagens do Jornal da Band, este mesmo sistema viário ainda é motivo de muitas críticas dos motoristas. Manipular informações, não seria isso uma forma censura?
Outra curiosidade sobre a Rede Globo é que ela só noticia eventos que fazem parte ou da sua de programação ou da grade dos canais Globosat. Por exemplo, a Globo fala em Fórmula 1 e Stock Car, mas não menciona a Fórmula Indy ou o Fórmula Truck, transmitidas pela Bandeirantes. As Olimpíadas de Inverno, transmitidas pela Rede Record, não aparecem no Globo Esporte nem se nevar em Caruaru. A lista continua com os Jogos Mundiais da Juventude, realizados em agosto deste ano, e o Oscar, só para exemplificar. Não interessa a importância do evento. Se é transmitido por outro canal, não é mencionado na Globo. Omitir intencionalmente informações, não seria isso uma forma de censura?
Parceira ideológica da Rede Globo, a revista Veja também merece destaque negativo pelos textos impressos em suas folhas. Governantes comunistas, socialistas ou os simpatizantes da esquerda recebem de seus colunistas e repórteres “tratamento vip”. Normalmente são descritos como autoritários, iletrados, irresponsáveis e burros, sem meias palavras! O problema não está na linha seguida pela revista, mas sim nos ferramentas que ela utiliza para justificar seu ponto de vista. Ninguém nunca leu na Veja que Cuba tem taxa de analfabetismo próximo de zero e sistema de saúde pública exemplar, nem que o embargo aos cubanos, grande responsável pelo racionamento de alimentos existente na ilha de Fidel, tem motivos puramente políticos. Ninguém nunca vai ler na Veja que o Fundo Monetário Internacional recomendou recentemente o modelo brasileiro de controle da economia para os países da União Européia. Ninguém saberá por suas páginas que o Golpe Militar de 1964 foi incitado e financiado pela direita norte-americana, apoiado pela direita brasileira, tudo comprovado documentalmente. Mais uma vez pergunto: não seria filtrar informações uma forma de fazer censura?
Logo, censura não se limita ao que fizeram os militares ou o que fazem governos como o de Hugo Chavez na Venezuela, que chegou a fechar emissoras de TV que lhe faziam oposição. A censura aparece quando o profissional de imprensa não consegue separar sua opinião daquilo que deve ser veiculado, distorcendo seu conteúdo por questões ideológicas ou por defesa de interesses. Por fim, a censura em suas várias formas se faz presente quando há manipulação ou omissão de informações, independentemente de quem o faça.
* Bruno Sales é quase engenheiro, quase físico e quase professor, ainda buscando a sua real vocação.
Os textos da "Segunda sem lei" são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião dos criadores deste blog.
Execelente texto Bruno. Concordo com você, o direcionamento ideológico de algumas mídias, chega a ser irritante. Acho que não deveriam puxar a "sardinha" para ninguém, mas ser imparcial e independente, acredito, devem ser bases para o jornalismo em geral. Abraços.
ResponderExcluirVicente
Parabéns, Bruno, pelo ótimo texto. Realmente alguns veículos de comunicação no Brasil são totalmente parciais e noticiam os fatos da maneira que querem.
ResponderExcluirParticipe sempre.
Moacir