sexta-feira, 21 de março de 2014

Ecos do passado




Nos últimos dias, parece que entramos numa máquina do tempo. Fomos levados, do dia para a noite, aos anos de 1960. Década histórica, em que a opressão e a tirania exerciam seus tentáculos sobre as pessoas no Brasil.

Em nosso país, no ano de 1964, ocorria o golpe dos militares, que duraria longos 25 anos. Período de absoluto terror, em que a liberdade de expressão e garantias constitucionais desapareceram mediante a publicação dos chamados atos institucionais. Um dos eventos que antecederam a esse triste período de nossa história foi a chamada “Marcha da família com deus pela liberdade”, realizada no dia 19 de março. O ato contra o presidente da época, João Goulart, foi uma reunião de grupos sociais como o clero, empresários, políticos e pessoas em geral, que pediam a saída do presidente, acusado de comunista. Chegaram a reunir mais de um milhão de pessoas, tendo sido realizadas 49 marchas ao total. Marcou o apoio de parte da população à retirada de Jango do poder, o que foi determinante para o golpe militar deflagrado em 1º. de abril de 1964.

Passados 50 anos, um grupo de conservadores vai reeditar a famigerada “Marcha”, com a intenção declarada de se opor à condução da política econômica do governo Dilma. Afirmam, dentre outras coisas, serem contrários a uma tentativa de o Brasil se tornar uma Venezuela, alegando um excesso de interferência do governo, além de realizarem protestos contra a corrupção. Falta de segurança e de educação de qualidade não poderiam faltar no rol das lamentações. Enfim, não parecem ter uma pauta definida, e sim, a vontade de modificar “no grito” o que se estabeleceu democraticamente.

Prisões indevidas, torturas, assassinatos e pessoas que até hoje estão desaparecidas  parecem não ter ocorrido em nosso país para os organizadores da tal “Marcha”. Qualquer ato ou manifestação que, de alguma forma, apoie o que os militares fizeram deveriam ser repreendidos veementemente por todos. O passado histórico precisa ser lembrado e usado para evitar o pior no futuro, como bem disse o grande Miguel de Cervantes, em sua obra-prima D. Quixote: "A história é testemunha do passado, exemplo do presente, advertência do futuro".