quinta-feira, 13 de abril de 2017

Listas






Estar presente numa lista pode ser motivo de alegria ou de tristeza, dependendo do conteúdo que o rol possa apresentar. O fato é que a lista normalmente não fica restrita àquele que dela faz parte. Sua publicidade é uma de suas principais características, tornando-a do conhecimento de todos assim que divulgada.

Comecemos pelas listas que trazem satisfação a seu componente. Haverá alegria maior a um jovem (e seus familiares) que fazer parte de uma lista de aprovados num vestibular ou num concurso público? O nome do candidato é procurado avidamente, significando uma mudança de vida ou um futuro promissor. E ao ser localizado, há uma explosão de felicidade, conjugada com o alívio pela conquista alcançada. Ainda no campo das “boas listas” há também as famosas na História, como a cinematográfica “Lista de Schindler”, na qual constavam os nomes de judeus que seriam salvos pelo alemão Oskar Schindler, em plena Segunda Guerra Mundial. Foi uma lista que significou para muitos a própria vida.

Mas, como dito, há as listas nas quais ninguém gostaria de estar. São temidos os anúncios de grandes empresas que, nas crises econômicas, divulgam relações de empregados demitidos. Ficaram famosas, anos passados, as imagens das folhas de papel pregadas nos muros de fábricas, com os nomes das pessoas. Encontrar o seu ali, trazia, certamente, um misto de tristeza e preocupação com o futuro. Outro exemplo de lista negativa é aquela divulgada quando há mortos em acidentes. Familiares ficam na compreensível expectativa de não encontrar o nome do ente querido na mórbida relação. Para a pessoa que dela faz parte, é o fim de tudo. A lista final.


Essa semana mais uma lista já se tornou famosa. Foi batizada com o nome de seu divulgador. “A lista do Facchin”, numa referência ao ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Edson Facchin. Num país um pouco mais sério, seria uma hecatombe de proporções inimagináveis. Aqui, teve certo impacto, mas não tão avassalador como deveria. Toda a cúpula política do Brasil sob alvo de inquérito, investigada sob acusação de recebimento de propina da empreiteira Odebrecht.  Oito ministros, vinte e quatro senadores, trinta e nove deputados federais, três governadores, e mais uns outros tantos que não possuem foro privilegiado. Estar nessa lista causou apreensão a seus integrantes, que logo se apressaram em desfazer de tal documento. São divulgadas notas de esclarecimento, justificativas, textos nas redes sociais. Mas não adianta. A publicidade inerente à lista já fez seus estragos, independente da culpa ou não do indivíduo.

Daí se percebe que mais importante que os seus desdobramentos é a lista por si só. Ela que ficará para a posteridade. Ao se consultar, daqui a anos, os nomes dos envolvidos, lá estarão todos. Como vale também o oposto: não estar presente servirá como atestado de honestidade. Do que se fez dela, pouco importa. A lista é absoluta. Para o bem ou para o mal.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Viva o fim da vaquejada!



A cena é brutal e remonta a séculos passados: o boi, dentro do brete, sentindo-se acuado por varas pontiagudas, não vê a hora de o portão abrir para sair em disparada. De cada um dos seus lados, dois vaqueiros em seus cavalos aguardam o momento de saírem em busca de seu rabo. No abrir da porta, saem todos os cinco, desabaladamente pela pista de areia seca e dura, ao som dos gritos da multidão que assiste ao triste espetáculo. Chegada a hora, o puxão. Dentro das duas linhas paralelas, o animal cai. Centenas de quilos jogados ao chão, muitas vezes sem rabo, outras vezes com patas quebradas, para euforia da plateia que saúda o vaqueiro vencedor.

Eis a cena do chamado "esporte nordestino" que tentou chegar a esse status através de uma Lei do estado do Ceará, mas que, acertadamente, foi considerada prática ilegal essa semana pelo Supremo Tribunal Federal, órgão máximo da Justiça brasileira. Numa decisão que demonstra civilidade e atenção aos direitos de nossa fauna, a maioria dos Ministros considerou a lei cearense inconstitucional, o que provocará desdobramentos a esses eventos por todo o Brasil. A decisão se baseou, principalmente, aos danos físicos e psicológicos que tanto bois como cavalos sofrem ao participar de tal atividade, e se colocou a salvaguarda da proteção à fauna num patamar superior aos interesses econômicos e culturais que circundam as vaquejadas, argumento sempre utilizado pelos defensores da violência.

Já havia passado o tempo de se proibirem essas atividades. E devemos insistir para que tantas outras práticas como rodeios e utilização de animais em circos sejam definitivamente banidas de nosso país. Não podemos aceitar os maus tratos aos animais para a diversão humana, pois, ainda que sejam observadas certas regras, não há cabimento para que perdurem, até os dias de hoje, cenas brutais como a descrita no início desse texto. Isso seria somente a prova de nossa falta de evolução como seres humanos. Leonardo da Vinci, gênio da humanidade, já no século XV, dizia: "Chegará o tempo em que o homem conhecerá o íntimo de um animal e nesse dia todo crime contra um animal será um crime contra a humanidade". Essa semana, demos um passo nesse sentido. Faltam tantos outros. Mas o importante é que comecemos a criar essa consciência. Antes tarde do que nunca.

Em tempo de eleição, quem suporta o whatsapp?



Maior aplicativo de mensagens instantâneas, o whatssapp é, sem dúvida, uma excelente forma de comunicação. Além disso, serve também para divulgação de eventos, propaganda, enfim, tudo aquilo que se deseja que a maioria das pessoas saiba que irá acontecer. Principalmente através dos chamados grupos, em que, às vezes, centenas de pessoas dividem o mesmo espaço virtual.

Eu mesmo estou em vários grupos do aplicativo. Uns do trabalho, da família, do Flamengo, meu clube de coração. Também participo de outros mais gerais, que iniciaram com a pretensão de serem "grupos de notícias".Uma forma interessante de divulgar e saber sobre fatos e eventos de nossa cidade. Claro que um bom debate acerca de assuntos polêmicos é sempre bem-vindo, desde que haja educação por parte dos envolvidos. Cada um pode, é claro, defender aquilo em que acredita, desde que haja respeito e civilidade.
Entretanto, começada a campanha eleitoral que, felizmente, esse ano dura apenas 45 dias, vê-se o aplicativo transformado num verdadeiro "cabo eleitoral virtual", tamanha a quantidade de propaganda de candidatos que passou a veicular. Mais ainda: uma verdadeira avalanche de ofensas, ameaças e discussões, que passa longe do mínimo aceitável para que se possa tentar construir uma argumentação dotada de algum pensamento que se aproveite.

Grupos e mais grupos, com assessores, políticos e apaixonados, digladiando-se de maneira muitas vezes desrespeitosa, como se mais nada importasse senão o evento do dia 02 de outubro. Amizades desfeitas, rancor e até promessas de futuros processos judiciais derivados de manifestações virtuais. Enfim, uma arena repleta de feras em que o bom senso foi devorado. Pessoalmente, abstenho-me dessas discussões em nível municipal e, por vezes, estadual. Sei da paixão das pessoas e sua falta de discernimento em separar um posicionamento sobre qualquer assunto de uma preferência política.

Mas vejo,de forma lamentável, um espaço que poderia ser utilizado como mais uma forma de divulgação de projetos e intenções políticas utilizado de forma inconveniente com a enxurrada de "santinhos virtuais" ou transformado em mero ringue para batalhas eleitoreiras.

sábado, 28 de maio de 2016

Múltiplos estrupros




Os trinta e três estupros sofridos por uma menor no Rio de Janeiro e que repercutiram em todo o mundo foram pouco para o que está ocorrendo nas redes sociais. Na verdade, são muito mais que isso. São múltiplos, milhares, talvez milhões. Porque a repercussão do fato e, principalmente, os vídeos e fotos da menor são uma violência tanto ou até pior que a dor física que ela certamente sentiu.

Trata-se de uma eternização de um momento grotesco e condenado por aqueles que têm ainda o mínimo de decência. E aí temos dois pontos a tratar. Um deles é o compartilhamento do vídeo em que a garota se encontra dormindo, nua, após o ato dantesco ter sido praticado. De forma deplorável, alguns dos meliantes riem da situação e exibem o corpo violentado. Rapidamente espalhado nas redes sociais, a divulgação do arquivo se mostra também um terrível crime contra a vítima, multiplicado por todos os celulares e computadores de maneira vulgar e igualmente condenável.

Outro ponto a ser discutido é a tentativa de condenação da vítima. De forma asquerosa, passaram a circular, também nas redes sociais, fotos da menor com armas, fazendo gestos que remetem ao Comando Vermelho e textos que informam que ela teria ido à favela por ter relacionamento com traficantes. Informam ainda que teria sido mãe aos treze anos e seria dada à prática sexual desde cedo. É uma campanha difamatória execrável. Uma vergonha. Um descalabro. Uma tentativa nefasta de condenar a vítima pelo ato de estupro praticado por trinta e três monstros e que nenhuma justificativa existe numa sociedade minimamente civilizada.

Se o fato ocorrido já se mostra abominável, da mesma forma é triste o comportamento de certas pessoas, que buscam ainda formas de justificar o ocorrido, numa clara manifestação machista e opressora, presente há séculos em nossa sociedade. Que de tal desgraça surja a consciência que falta para aqueles que se acham seres humanos, mas na verdade não são dignos desse nome.

sábado, 14 de maio de 2016

Onde estão as mulheres?






Meses atrás, uma reportagem da revista Veja causou polêmica. Com o título “Bela, recatada e do lar” exaltava as qualidades da agora primeira-dama Marcela Temer, destacando o fato que a referida senhora não trabalhava e se dedicava somente a seu esposo, numa relação de dependência e submissão, dentre outras características que pareciam perdidas em séculos passados. Justamente o que as mulheres (as comuns) vêm se esforçando para quebrar: o paradigma de que devem ser as donas de casa em lugar de uma vida pessoal independente.

Pois bem. Percebe-se agora que o presidente interino leva tal pensamento realmente a sério, a ponto de não nomear uma mulher sequer para um de seus ministérios. Mais da metade da população brasileira ficou, de repente, sem ter uma pessoa de seu gênero na Esplanada dos Ministérios. E antes que os apressados o defendam, alegando que o que importa é a competência, independente do sexo, ao menos sete dos ministros escolhidos são investigados pela Operação Lava Jato, para citar apenas um fato suspeito. Negro também não há. Somente homens, brancos e heterossexuais, para ilustrar de forma irrefutável o ideal do ser humano perfeito.

O fato foi tão debatido nas redes sociais e causou tanta estranheza que logo se buscou a História. E, de forma surpreendente, foi observado que o último governo presidencial a não ter uma mulher no primeiro escalão foi o do General Ernesto Geisel, no longínquo ano de 1974, ou seja, já se vão 42 anos. Ainda nos tempo da Ditadura Militar. Uma ótima referência para um governo que, assim como o do século passado, também não recebeu um voto sequer do povo brasileiro.

Mas não parou por aí. Para deixar bem claro que as minorias históricas não serão amparadas por seu governo, extinguiu o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, bem como o Ministério da Cultura. Logo, o Ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, trouxe uma explicação para o caso da falta de mulheres, numa daquelas frases em que a emenda sai pior que o soneto: “Elas ocuparão as secretarias”, referindo-se a cargos de segundo escalão. É. Para Temer, as mulheres não passam de secretárias. A dele, do lar. As demais que sigam o seu exemplo.