sábado, 18 de dezembro de 2010

Umbora ma, umbora mais eu


UMBORA MA, UMBORA MAIS EU – por Moacir Poconé

Sexta-feira, ensaio geral do pré-caju. Estava lá. Pode parecer estranho, mas não direi os motivos de minha ida. Assunto privado. A noite promete. Muito estilo, muitas irreverência. Faz parte da festa. Logo na chegada, três loiras (seriam mesmo?) chamam a atenção. Parecem deformadas, tamanha falta de equilíbrio entre as partes do corpo. Uma delas está com o seio de fora. Desfila livremente. Alguns riem. Eu me assusto com a cena tão cedo. Que ocorrerá mais tarde, penso. No palco, um cantor desconhecido pergunta enquanto canta: “Você quer picolé? Toma aí seu picolé”.

As pessoas fazem uma verdadeira dança do acasalamento. Tudo coreografado. Muito organizadas as pessoas. Todas fardadas com um pedaço de pano cor de rosa a que chamam abadá. Alguns o usam na mão. Outros sobre outra camisa. Muito estranho. No palco o cantor continua seu repertório de música erótica. Canta algo que insinua uma relação sexual entre a Mulher-Maravilha e o Superman. A galera delira e entoa as letras das canções. Ainda há poucas pessoas. Mas a multidão começa a chegar.

Fim da primeira banda. Intervalo. Ouço a melhor música da noite até agora: “Money for Nothing” do Dire Straits. Acho estranho. É hora da segunda atração. A primeira oficial. Aviões do Forró. O vocalista não para de usar seus bordões. “Solanja”, “Riquelme na batera”. Mulheres seminuas (umas dez pelo menos) quase não têm espaço para dançar (?) no palco apertado. Pelo menos por seis vezes pausas para avisar os próximos shows. Brincadeiras com a platéia que delira. Fecha o pano.

Hora da atração mais aguardada da noite. Chiclete com Banana. O locutor avisa que faltam cinco minutos para o início. Passam-se vinte e nada. A multidão aumenta. Ouço a segunda música da noite até agora: “Fácil” do Jota Quest. Já não posso me virar para todos os lados. À minha frente uma mulher vende balas e chiclete. Acho estranho. Depois de mais uns dez minutos começa o show. Só consigo ficar numa posição. O show de axé começa com um solo desconsertado de guitarra do vocalista Bell Marques do Chiclete. Nizan Guanaes, publicitário baiano, já duvidava dele. Disse que a música baiana era tão falsa quanto o citado vocalista, pois é careca e finge que usa tranças. Ninguém liga pra isso. Ao meu lado, mulheres declamam as belas letras da banda baiana. Sabem todas de cor. Me pergunto se usam a memória para alguma coisa útil.

Uma briga começa à minha esquerda. Me afasto. Uma briga começa à minha frente. Me afasto. Uma briga começa à minha direita. Já não sei aonde ir. O cantor chama a todos de “chicleteiros”. Penso que o sufixo “-eiro” no Brasil remete a profissões, como o padeiro, o pedreiro e o ferreiro. Mas ele insiste. “Quem é chicleteiro aqui, levante a mão”. Eu não levanto. Não sei o que isso significa. Lembro da mulher que vende chiclete. Ela sim é uma chicleteira. Procuro mas já não a vejo. Acho estranho. O show se aproxima do fim. Diversas repetições vocálicas ocorridas, termos africanos usados sem qualquer critério, nada de coerência nas letras. A multidão delira. “Dança, muzenza”, diz o cantor.

Após mais de quatro horas de música e álcool os ânimos começam a esquentar. O rapaz beija a namorada. Duas mulheres se beijam apaixonadamente. Dois rapazes se beijam escancaradamente. Um grupo se beija sincronizadamente. É a diversidade cultural e sexual. Melhor ir embora. Nunca se sabe o que pode acontecer com tanta gente junta ao som de músicas que incitam a essas práticas. Sem preconceitos, mas acho estranho. Muito estranho. Perdi Psirico e Parangolé mas ganhei algumas horas de sono. Aliás, uma dúvida me incomoda: como terá o incrível Parangolé preenchido o tempo de duas horas cantando apenas o Rebolation? Não saberei a resposta.

Pensar que tudo isso não passou de um ensaio. O espetáculo pra valer é em janeiro, no Pré-caju. Pra terminar com mais uma citação do repertório do Chiclete: umbora mais eu?

7 comentários:

  1. Nizan Guanaes está certíssimo. Pra quem não leu o texto a que Moacir se refere, vale a busca. Também já fiz isso Moacir, ir ao show do chiclete e afins. Não pela música claro, mas pela afrodisicidade das mesmas, do álcool e das mulheres (parece que entramos todos no cio...). Mas pra tudo há um tempo, e não me cabe mais esse tipo de aventura. Ainda Bem.
    Vicente

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  2. Muito bom o texto. Nunca fui a um show do "chicrete" e nunca irei. Se é pra pagar pra ver mulher melhor ir no "PIPOS" hehehe. Lá é mais calmo. Sou baiano e me envergonho por certos tipos de musicas. Até que gosto do ASA (as antigas) mais só. Moacir que mau pergunte... Tua mulher sabe onde cÊ tava dia 17 a noite??(hehehe). Agora sabe.

    grande abraço!!!

    Elisio Cristovão (preparando mais um texto pro segunda sem lei).

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  3. E é incrível como tem pessoas que estufam o peito e faz questão de dizer: "Sou chicleteiro". Que porcaria. Éramos felizes e não sabíamos (em termos de axé) com Reflexu´s, Banda Mel, Margareth Menezes e até o culpado disso aí tudo: Luiz Caldas. E pra você Moacir, que tortura! Completou seu fim de semana com o jodo das estrelas apagadas... kkkkkkkkkkkkkkk!


    Wanderley

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  4. Obrigado pelos comentários, amigos. Ah, Elísio, claro que minha esposa sabe one eu estava, pois ela estava comigo. Inclusive sua presença amenizou (e muito) a tortura da noite. Abraços a todos!

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  5. hehehe. Imaginei q ela estaria. Só foi pra naum perder a brincadeira. hehehe. Grande abç!!!

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  6. Ótima! Não gostaria de está no lugar de Moacir. Ouvir "Money for Nothing" custou muito caro e mereceria um processo pela ofença ao Dire Straits.

    Parabéns Moacir.

    Fabiano S. Andrade

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  7. kkkkkkkkkkkkkkkk
    muito bom Sr. Poconé!
    a expressao que define muito bem vc naquele universo:

    "...Acho estranho..." kkkk

    parabens!

    Pedro Luís Fernandes

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