terça-feira, 22 de julho de 2014

Joaquim Prata




“Saravá, pra quem é de saravá. Bom dia pra quem é de bom dia”. Era assim que Dr. Joaquim Prata adentrava a Secretaria da 1ª. Vara Cível de Lagarto todos os dias. Num espaço entre uma audiência e outra nos dava o prazer de sua presença.  Imediatamente, o ambiente era tomado de uma nova energia, mais alegre, mais radiante. Sentava-se bem em frente à mesa em que trabalho. E a partir daí, ouvíamos seus inesquecíveis causos, com personagens como Zefa das Couves, Zezinho dos Anzóis, dentre outros. Histórias verídicas iam se entrelaçando com outras que beiravam o fantástico, todas elas contadas com maestria por aquele que sabia rir e fazer rir.

Irei me lembrar, certamente, muito mais do Joaquim que discutia acerca de filmes e espetáculos musicais do que meramente do Defensor Público, sempre atento a seus clientes e sério cumpridor de suas obrigações. Da pessoa que comentava sobre os mais diversos assuntos com sua maneira peculiar de ver o mundo. Isso porque a pessoa de Joaquim Prata foi muito maior que a do defensor público. Sua gentileza e forma de tratar as pessoas iam muito além do que a frieza dos autos processuais. E como eram tantos esses autos... Único defensor público da cidade de Lagarto por décadas, era dele a defesa dos que não podiam arcar com os custos de um processo. No seu dizer, era o advogado “de quem não tem onde cair morto”.

Além disso, era um talento das letras. Com sua humildade, pedia-me para verificar seus contos antes de torna-los públicos. Eu lia e relia num misto de prazer e de honra por receber tão valorosa incumbência. Foi assim que conheci Naum Lira, protagonista de seu conto “Os Lobisomens das Cacimbas”. Eis sua aparição, magistral: “Fazia calor quando Naum Lira chegou às Cacimbas. Desceu da fubica de João Ford metido no terno diagonal branco, com o chapéu de panamá quebrado de lado. A gravata borboleta era preta e aprisionada ao colarinho duro da camisa creme. O sapato tinha a estirpe do cromo alemão, cujo bico preto se acasalava a um branco intenso. Resoluto tomou o rumo da pensão de Maroquinha”. O texto nem merecia retificações, mas Joaquim, cuidadoso como ele, insistia que verificasse. E trocávamos ideias sobre as personagens e seus desfechos. Uma verdadeira viagem numa literatura verdadeiramente original e saborosa, assim como deveria ser o suco de pitanga que Naum bebe ao fim do conto.

Essas são algumas das lembranças que terei desse amigo tão querido. Uma pessoa que certamente ainda haveria de escrever muitas outras linhas em seu livro de vida, mas que, lamentavelmente, teve seu enredo abreviado por esse mistério que é a morte. Esse fim, entretanto, será somente físico, pois suas histórias e lembranças permanecerão para sempre na memória de todos aqueles que tiveram a honra de conviver com o inesquecível Joaquim Prata.

domingo, 13 de julho de 2014

Seleção Brasileira, uma vergonha. Brasil, um sucesso.





Que o dia 08 de julho de 2014 ficará marcado para sempre como o dia da vergonha para o nosso futebol, não se tenha dúvida. Sofrer uma goleada de 7 a 1 foi algo que jamais se viu nos cem anos de nossa seleção. Sem dúvida, é necessária uma reestruturação de nosso futebol, a começar pelas pessoas que o comandam.

Por outro lado, a Copa do Brasil foi um enorme sucesso. Todas as previsões pessimistas que eram feitas meses antes da competição se mostraram completamente infundadas. Estádios não estariam prontos, a segurança seria precária, aeroportos com seus voos atrasados e o trânsito caótico. Felizmente, pouco do caos de que se falava aconteceu. Ao contrário. Mostramos que somos capazes de realizar grandes eventos mundiais e encantamos a todos os que nos visitaram com nossa simpatia e belezas naturais. Problemas houve, claro. Não se quer aqui dizer que houve perfeição, pois seria impossível. Mas, sem dúvida, o saldo é bem mais que positivo. 

Esse deve ser o principal legado da Copa de 2014: a mostra de nossa capacidade. O reconhecimento externo e interno de que o Brasil não é mais aquele país do famoso jeitinho, em que a falta de organização é driblada como um zagueiro em um jogo de futebol. Nada disso. Vencemos essa partida com eficiência. Pena que ainda existam aqueles que, vendo nossa vitória fora dos gramados, vibraram com a terrível derrota dentro deles. É a torcida do “quanto pior, melhor”. Querem de alguma forma ligar o desastre no futebol ao atual governo. Não percebem que o futebol é uma coisa. O país é outra.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Acabou a pena de Barbosa




Barbosa era o goleiro do Brasil na Copa de 50. Ficou marcado por toda sua vida pelo chamado “Maracanazo”, nome que se deu à vitória uruguaia na final da Copa do Mundo daquele ano. Teria sido ele um dos responsáveis pela derrota brasileira em pleno Maracanã, quando apenas o empate nos daria o título.

Titular do Vasco da Gama, Barbosa era considerado um dos melhores goleiros de sua época. O gol final de Ghigghia que deu a vitória à Seleção Celeste foi o instrumento usado para justificar o castigo a ele imposto. O próprio Barbosa não cansava em repetir em entrevistas que cumpria uma pena severa demais. Enquanto um condenado no Brasil fica preso no máximo por 30 anos, a sua pena já estava completando 50 anos, dizia ele no ano 2000, pouco antes de morrer. O estigma foi grande e o acompanhou por toda a vida: por certo tempo, goleiros negros (como Barbosa) eram evitados no gol do Brasil e, em 1993, o arqueiro chegou a ser barrado em uma visita à concentração da seleção brasileira.

Finalmente, em 08 de julho de 2014, a pena que foi imposta a Barbosa e seus companheiros chegou ao fim. A derrota do Brasil para o Uruguai em 1950 passou a ser vista pelos brasileiros como o que sempre foi e não se queria ver: o resultado de um jogo de futebol. Uma derrota simples por 2 a 1, provável quando duas grandes seleções se encontram. Isso porque aconteceu, novamente em pleno solo brasileiro, a maior derrota do Brasil em todos os tempos. Essa sim, exemplo de vergonha e desorganização do que não deve ser um time de futebol, ainda mais um que representa seu país. Uma goleada de 7 a 1 para a Alemanha, exemplo de organização e eficiência. Tomar sete gols, sendo quatro deles num intervalo de dez minutos, é algo que não se vê sequer nas chamadas “peladas”. Ainda mais numa semifinal de Copa do Mundo. A humilhação foi tamanha que a raiva e a vergonha foram bem maiores que a tristeza. Algo jamais visto e que, certamente, nunca mais será na história do futebol mundial.

De todos os benefícios (e será preciso encontrá-los) que a fragorosa derrota do Brasil para a Alemanha possa trazer para nosso futebol, já se percebe um deles. Todas as outras derrotas da Seleção Brasileira, seja em Copa do Mundo ou em amistosos, tornaram-se pequenas diante do vexame no Mineirão. O Maracanazo finalmente está enterrado. A seleção de 2014 ocupa agora o posto máximo da vergonha brasileira. Barbosa está redimido.

sábado, 5 de julho de 2014

Onde está o Amarildo?




Em julho do ano passado, essa foi a pergunta que mais se fez no Brasil. Onde estaria Amarildo, o servente de pedreiro que no dia 14 de julho desapareceu, após ser detido por policiais militares na Favela da Rocinha. O caso se tornou famoso mundialmente, exemplo de violência policial e até hoje não teve solução. 

Quase um ano depois, os brasileiros fazem a mesma pergunta: “Onde está  o Amarildo?” Claro que não se trata do mesmo assunto. Estamos num campo bem mais ameno do que os problemas de segurança que assolam o país. A pergunta é feita no futebol, alegria e sofrimento dos milhares de brasileiros que têm a honra de sediar a Copa do Mundo. A fatídica entrada do jogador colombiano Zuniga retirou da competição nosso maior astro, Neymar. E a história se mostra como apaziguadora dos ânimos mais pessimistas.

Chile, 1962. Pelé já era nosso maior jogador, tendo sido campeão em 1958. Logo, no segundo jogo contra a Thecoslováquia, Pelé se machuca e não tem mais condições de entrar em campo no restante da Copa. Ele é substituído por Amarildo, jogador do Botafogo, de apelido “O Possesso”, que seria decisivo na conquista de nosso bicampeonato ao marcar três gols, dois deles na difícil vitória de virada contra a seleção da Espanha. Percebam que o Amarildo de 1962 substituiu nada menos do que o Rei do Futebol e não apenas nosso maior jogador. Sem esquecer que a participação de Garrincha naquele ano foi tida como extraordinária.

Em 2014, no Brasil, quem será o nosso Amarildo? Quem dentre aqueles escolhidos por Felipão terá a capacidade de substituir à altura nosso principal jogador? Ainda não se sabe, mas a certeza é de que é nessas ocasiões que as grandes seleções aparecem. Jogaremos contra a temível Alemanha na terça-feira pelas semifinais. Mais do que o pessimismo inicial com a terrível notícia de ontem à noite, temos que ter o otimismo de ver a história se repetir. Partiremos para o título, como em 1962, com o aparecimento de um novo Amarildo.

terça-feira, 1 de julho de 2014

A Seleção do chororô





A Seleção Brasileira pode não ser campeã da Copa do Mundo, mesmo sendo sua anfitriã. Um título, porém, a seleção de Felipão já tem. Sem dúvida, é o time que mais chora nos jogos do Mundial.

Antes que se pense que o problema está na famosa frase machista que diz  “Homem não chora”, convém alertar que não se trata disso. O problema é a aparente falta de controle emocional e psicológico que os jogadores da seleção canarinho parecem estar sofrendo. Choram quando se preparam para entrar em campo, choram no momento da execução do Hino Nacional, choram quando fazem um gol, choram quando sofrem um gol, choram quando o jogo vai para os pênaltis e, finalmente, choram quando vencem o jogo. É um chororô sem fim e sem precedente na história de nossa seleção. Como um profissional pode estar preparado, seja em que função for, para ter uma boa performance diante de tanta emoção?

Desde o último jogo contra o Chile é esse o assunto mais comentado nas famosas mesas redondas dos canais esportivos da televisão aberta ou paga. O mau jogo feito pelo Brasil, os riscos que correu, até mesmo os acertos que teve, ficaram em segundo plano. A presença de um psicólogo nesses programas se tornou quase que um item obrigatório. E tome teoria a explicar que o choro é sinal de fraqueza ou, ao inverso, que se trata de esforço por parte dos atletas. Ex-jogadores são convidados para falar de sua experiência e da pressão que também sentiam. Invariavelmente, condenam a atitude do atual grupo e se mostram preocupados com o que isso pode causar.



Mais preocupante ainda é o caso do capitão brasileiro, o zagueiro Thiago Silva. Escolhido pelo técnico para ser o líder brasileiro por ser um dos mais experientes do grupo, Thiago se isola nos momentos de maior aflição, como se viu nas cobranças de pênaltis no jogo do Chile. Não chegou sequer a ver as cobranças dos companheiros. Ainda mais: pediu a Felipão para ser o último a fazer a cobrança, atrás até do goleiro Júlio César. Ou seja, aquele a quem os jogadores deveriam ter como referência, simplesmente se esconde de sua responsabilidade. No nosso time, não temos um líder em campo, alguém que chame a responsabilidade para si. E está provado ao longo da história das Copas que o campeão sempre teve um jogador com esse estilo. 

Mesmo assim, vamos passando de fase em fase. Chegamos às quartas-de-finais e, apesar dos pesares, temos boas perspectivas de ao menos chegarmos às semifinais. Para chegarmos ao título, será preciso colocar os nervos no lugar e ter muito mais concentração no que se pretende. Caso contrário, será o torcedor brasileiro que chorará com a derrota da Seleção em sua própria casa.