quinta-feira, 2 de maio de 2013

Rimas e redondilhas



Um dia desses, um grande amigo me liga já certa hora da noite pedindo que eu conversasse com seu filho. O jovem, um garoto de 14 anos, estuda num famoso colégio de Aracaju e estava inconformado com o fato de ter que aprender alguns assuntos ligados à Literatura, como metrificação e rima. O pai, que é médico, tentara argumentar da necessidade do estudo, mas havia desistido diante da pergunta do filho de por que estudar todas aquelas coisas, já que certamente não as usaria em sua vida profissional.

Conversei com o rapaz, tentando mostrar a literatura como uma arte, e não como algo mecânico. De forma didática, comparei com a pintura, a arquitetura e outras artes que não usam a palavra como instrumento. A literatura, obviamente, usa. E, dessa forma, precisa trabalhá-la não apenas da forma comum, mas usando técnicas que enriquecerão, além do conteúdo, a forma do texto escrito. O garoto, adepto como a grande maioria dos jovens de sua idade aos jogos eletrônicos e computador, apenas ouviu, certamente achando tudo aquilo uma grande bobagem.

A ideia de se abranger todas as áreas do conhecimento vem do movimento chamado Enciclopedismo. Movimento francês liderado por Diderot e d’Alembert no século XVIII, tinha como principal objetivo catalogar todas as informações do conhecimento humano ligadas à razão. Acabou virando verbete de dicionário, com se vê na terceira acepção do vocábulo no Dicionário Houaiss: “enciclopedismo - tendência que conduz ao acúmulo sistemático dos conhecimentos nos diversos ramos do saber”.

Alguns dias depois encontrei com meu amigo novamente. Perguntei se a conversa havia surtido algum efeito (embora já soubesse da resposta). Ele, educadamente, disse que “mais ou menos”, mas que o seu filho não havia se convencido totalmente. Saber sobre redondilhas maiores ou menores, rimas graves ou esdrúxulas continuava sendo algo extremamente supérfluo. De que serviriam todas aquelas informações se ele tencionava, no futuro, trabalhar na área da informática?

De toda essa história, é necessário perceber o quão é difícil atrair a atenção de jovens alunos para disciplinas ou assuntos que ele mesmo julga desnecessários (e que talvez realmente sejam). O objetivismo está cada vez mais forte entre os estudantes. O questionamento acerca do nosso sistema de ensino, que procura contemplar uma infinidade de temas dos mais variados, torna-se cada vez mais frequente. O professor precisa não somente ministrar sua aula, mas efetivamente provar sua aplicabilidade no dia-a-dia. Não é tarefa fácil.