sábado, 1 de outubro de 2011

O monstro virtual


O MONSTRO VIRTUAL – por Moacir Poconé

Anos atrás, a internet e a língua portuguesa foram elementos centrais de uma polêmica. “É preciso ser mais rápido, mais dinâmico”, diziam os internautas, ainda iniciantes na conversa virtual. “E as regras gramaticais? Onde ficam?” reclamavam os puristas da língua, indignados com o uso do código que gerou até um neologismo: o internetês.

Essa polêmica perdurou algum tempo, até que ambas as partes vissem que o tal internetês tinha vindo pra ficar. Poderia ser usado, sim, como um código entre os internautas ansiosos por comunicação, mas deveria respeitar as formalidades da língua em certas ocasiões. Mas quem determinaria que ocasiões são essas? Os internautas ou os puristas da língua? Nova discussão. E, o pior de tudo, o internetês escapou do mundo virtual para o mundo real, saindo das salas de bate-papo para as salas de aula. Começou a surgir como verdadeiros monstros em redações e provas escritas. Um verdadeiro desastre.

Agora, outro fenômeno acontece dentro do próprio internetês: a junção de palavras. Parece uma praga que assola não somente as mentes dos alunos, mas o próprio mundo da internet, pois não se encontra explicação para o uso desse “recurso” tão esdrúxulo. O uso de alguns termos está de tal forma disseminado que as pessoas estranham quando alguém lhes diz que tais palavras se escrevem separadamente. Três dessas formas chamam a atenção: o derrepente, o concerteza e o porisso.

A própria internet com o oráculo dos nossos dias, o Sr. Google, me serviu de base para comprovar o que digo, embora nem fosse preciso. Basta acessar as redes sociais como Facebook, Twitter e (se alguém ainda usa) o Orkut e lá estão as três palavras unidas, juntinhas, inclusive obedecendo as regras ortográficas, pois o R do derrepente aparece dobrado e o N do concerteza substitui o m original da palavra. Coisa de quem sabe escrever. Mas voltemos ao Google. Ao pesquisar o termo “derrepente”, assim com aspas, temos aproximadamente 3.520.000 ocorrências. O “concerteza” fica em segundo lugar, com 3.320.000. O “porisso” aparece bem menos, com 569.000, o que ainda não é pouco. Importante destacar que nessas consultas apenas na primeira página de cada apareciam questionamentos se tais termos se escreveriam juntos ou separados. As demais páginas (e não são poucas) trazem pessoas usando na forma agora consagrada. Tudo junto, unido. Uma tristeza para os olhos de quem lê.

Mas o internetês não se dá por satisfeito. Monstro voraz que é já descobriu outra forma de agir: fazendo o inverso. Agora, deu pra separar palavras que devem ser escritas juntas. Um verdadeiro assombro. Já invadem as escolas, extraídos do mundo virtual, muitos “por tanto” em vez de “portanto” , “em quanto” em vez de “enquanto”, dificultando ainda mais o já tão problemático ensino dessa nossa língua cada vez mais sofrida e rejeitada.

“Por tanto, devemos agir rapidamente antes q, derrepente, o internetês tome conta de td. Porisso, precisamos educar nossos jovens, em quanto ainda há tempo. Concerteza ainda há.”

5 comentários:

  1. Infelizmente Moacir, o futuro da nossa língua é tenebroso. O que se vê é cada vez mais os jovens escrevendo mal e errado. Você como mestre da língua, deve sentir isso de perto. O que fazer?, pergunto. Abraço
    Vicente

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  2. kkkkkkkkk, pior que é mesmo! um exemplo sou eu, que realmente não sabia de algumas regras. Mas de tanto ver isso nas redes sociais acabei adotando como corretas. Otimo texto Poconé.
    Stephanny Elizabeth

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  3. Realmente Poconé, a situação a cada dia que passa vai se agravando. E é nessa realidade em que muitos vão se envolvendo, confundido a verdadeira agilidade com terríveis erros gramaticais. Bom texto. Cheiro, Milena.

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  4. Como todo crescimento demasiado, traz seus problemas. A globalização chegou e avançou de tal forma que o que importa é escrever rápido e não necessariamente correto.

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  5. Obrigado a todos pelos comentários nesse assunto tão importante a todos nós que fazemos uso diário da palavra. Participem sempre!
    Moacir Poconé

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