sábado, 14 de maio de 2016

Respeitem os papa-jaca!







Da ordem do Juiz da Vara Criminal de Lagarto, Dr. Marcel Montalvão, que determinou o bloqueio do aplicativo Whatsapp em todo o Brasil, derivaram os mais lamentáveis e indignos comentários sobre nossa cidade, nosso Estado e nossa região, o Nordeste. Pessoas desconhecidas e até mesmo famosas usaram outras ferramentas, como o Twitter ou comentários de sites na internet, para expressar toda sua fúria diante da medida do magistrado sergipano.

Não se quer aqui discutir se tal medida foi acertada ou não. O fato é que, retirado do ar o aplicativo do momento, todos os holofotes se voltaram para a terra dos papa-jaca, como somos chamados. Fato semelhante ao que ocorreu, meses atrás, por decisão do mesmo juiz, quando decretou a prisão do vice-presidente do Facebook por não colaborar com investigações criminais, relativas ao tráfico de drogas. Porém, a medida tomada dessa vez afetou diretamente mais de cem milhões de pessoas que usam o aplicativo para os mais diversos fins, o que certamente provocou a avalanche de críticas e ofensas que invadiu o mundo virtual.

Menosprezo aos habitantes, chacota com o nível de desenvolvimento, preconceito intelectual, tudo se viu nas ondas da internet. Até mesmo famosos como o apresentador Marcelo Tas, conhecido por defender minorias e exigir respeito em seus programas, manifestou-se de forma pejorativa ao chamar o magistrado lagartense de “juizinho”. Esqueceu-se de que uma decisão judicial tomada seja ela em Sergipe ou São Paulo tem o mesmo valor e mesmos efeitos. E, mais ainda, o juiz Marcel Montalvão, nesse momento, é o titular da Vara Criminal de Lagarto. Caso estivesse na capital, Aracaju, a medida seria aceita mais passivamente? É conforme o valor da cidade e seu destaque, em nível nacional, que as decisões judiciais são mais ou menos absorvidas? Fosse um julgador do eixo sul-sudeste se acataria silenciosamente a ordem? Ou ao menos se respeitariam os habitantes da região, ficando os xingamentos restritos ao autor da decisão? O que se viu foi um comportamento preconceituoso e xenofóbico, próprio de pessoas com a mente pequena, talvez um novo reflexo da microcefalia que afeta o nosso país.

O certo é que o povo nordestino, sergipano e, mais especificamente, lagartense não pode ser tratado da forma que foi, apenas pelo fato de um juiz, nas atribuições do seu cargo, usar as ferramentas que julgou necessárias no combate ao crime organizado.  A cidade de Lagarto, bem como seus habitantes, merece ser respeitada. Somos os papa-jaca, com orgulho! Somos a terra de Sylvio Romero, de Laudelino Freire, de Diego Costa, dentre tantos outros ilustres filhos. Do Maratá e sua força empresarial. Do grupo Parafusos e sua força cultural. Do campus de Saúde da Universidade Federal de Sergipe. Da tradição da maniçoba e do arroz com galinha. Também de gente anônima, honesta, que trabalha decentemente e luta por seu lugar ao sol, com suas dificuldades e desafios. Gente que não vive alheia ao progresso e nem à tecnologia. Que tem acesso à internet e às redes sociais. Que é brasileiro, assim como qualquer outro nascido no território nacional. Sem superioridade, nem inferioridade. Apenas igual.

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