quinta-feira, 25 de novembro de 2010

De quem é esse jegue?


DE QUEM É ESSE JEGUE? – por Vicente Bezerra

Recebi por esses dias um email, promovendo uma abaixo-assinado (não consigo me livrar do hífen) contra maus tratos e atrocidades contra eqüinos, recheado de fotos em que os mesmos sofriam crueldades, desde serem “tocado fogo” (literalmente) a agüentar cargas enormes. Muito válido o email e interessante a causa. Mas, depois, recebi o mesmo email, já de outra pessoa, com o adendo para proibição de utilizar os animais para transporte de cargas, apenas de humanos e para prática de esportes. Válido? Não. Direi por quê.

Cavalo, jegue, mula, burro, jumento, jerico e semelhantes podem ser considerados os “melhores amigos do homem”. Não o cão. O cavalo (e seus parentes) trabalha para e com o seu dono. Estão presentes também no lazer. Os eqüinos foram os primeiros animais domesticados pelos humanos, para uso em trabalhos, caçadas etc. A importância deste ato é enorme e comparável ao fato do andarmos em pé. Não haveria evolução para o homo sapiens, sem a doma do cavalo. Toda a história da humanidade tem a figura eqüina como participante. Que nos diga Incitatus! Para ilustrar tal importância, existe a lenda de que, quando fugia para o Egito, Jesus ainda menino fora sentado num burrico. Desde então tais animais ostentam a marca do que seria o suor de Jesus quando montou o jumento. Aonde quero chegar? Continue lendo.

Lógico que sei que os abaixo-assinados dos emails têm pouquíssima chance de prosperar. É uma espécie de corrente que mobiliza, mas pouco produz. Mas, suponhamos que desse resultado, principalmente o segundo. É aonde quero chegar. Conseguindo-se a proibição de utilizar os eqüinos para cargas, estaremos contribuindo para a extinção dos mesmos, que serão vistos apenas nas altas rodas, nos haras, nas partidas de pólo, na equitação dos bacanas.

Exagero? Não. O Nordeste do Brasil, e acredito que em boa parte do interior do país, sofre de um problema, aparentemente surreal: a extinção dos jegues e congêneres (burro, jumento, jerico). Esses animais estão deixando de ser usados em transporte, carroças e até mesmo para cargas, sendo trocados por motocicletas. As facilidades de compra, o aumento de poder aquisitivo e a rapidez que uma moto proporciona, estão fazendo com que grande parte da zona rural deixe de usar os citados eqüinos, que são abandonados à sorte, sacrificados ou ainda pior, sem procriarem (não falo da mula, porque esta não reproduz mesmo). O número da população de jegues e afins diminui a olhos vistos.

Esse é o ponto onde quero chegar. Deixar de utilizar o nosso amigo cavalo e seus parentes, é vaticinar sua extinção (falei em vaticinar, lembrei de Vaticano. Alguém lembra o nome do jegue que deram pra João Paulo II ?).

Claro que tanto o email como o texto e minha preocupação é carregada demais (pra não dizer que é maluquice). Mas o caso que citei do nordeste, é verdadeiro. Montem suas ONGs, adote um jumento pra chamar de seu.

Gostaria de dedicar esse texto, com carinho e respeito, a Diogo Mainardi e ao et Bilu.

Um comentário:

  1. Há um contingente de pessoas unidas no mesma luta preservação da vida do planeta, baleia, golfinhos, araras-azuis, mico-leão, e tantos outros animais que realmente merecem ter a voz e os braços que os defendam. Vejo que jegues, mulas e burros entrem para lista dos ameaçados de extinção e o que é pior ainda de pre-conceito e segregação. Muares carregaram mais que gargas no dorso, carregaram a história desse e de outros países no dorso.
    Receberam e recebem até hoje a pior paga.
    Quando mais conheço o homem dito civilizado, mais respeito e apreço tenho pelos muares.
    Paulo Ferreira

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