domingo, 15 de novembro de 2015

O martírio do Enem




Ao longo de duas décadas trabalhando com turmas pré-universitárias, posso afirmar sem medo: ainda não criaram nada melhor para o estudante chegar ao nível superior que o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Ainda assim, a participação de um jovem nessa seleção se torna um verdadeiro martírio.

O nome "martírio" expressa bem o que passa por esses adolescentes todos os anos. O dicionário registra "grande aflição, grande sofrimento" como alguns dos significados desse termo que vai além da conotação religiosa. E é justamente isso que sentimos ao vermos como ficam os estudantes às vésperas, durante e após a realização das provas. Que estão passando por uma agonia desmedida. Óbvio que generalizamos. E o mais curioso é que, normalmente, aqueles que mais se dedicam são os que mais sofrem, certamente por suas próprias cobranças ou ainda por exigência dos pais ou amigos. A ansiedade é visível e o aspecto psicológico passa a ter um valor às vezes até maior que o aspecto pedagógico. Relatos de "branco", mal-estar, dor de cabeça e até desmaios são incrivelmente comuns nesse momento. A concentração e a calma, tão necessárias para uma boa realização de prova, ficam distantes quando mais se necessitava delas.

Por isso, tornam-se comuns perguntas se repetem todos os anos. "O que fazer um dia antes da prova?", "O que fazer durante a prova?". A busca por profissionais da psicologia e técnicas de relaxamento também se intensifica. Tudo isso é válido, sem dúvida. Mas é preciso perceber que tantas discussões a respeito desses procedimentos só existem por causa das cobranças que, conscientemente ou não, os jovens são bombardeados nesse momento. O fato de existir uma prova que irá decidir o futuro profissional da pessoa apresenta-se como um enorme peso. E as dezenas de anos escolares findam naquele fim de semana da realização das provas. É muita carga emocional envolvida. E ainda após a prova temos outro martírio: o da espera. A ânsia pelas notas e finalmente pela lista de aprovados, divulgadas cerca de dois meses após a realização do concurso. Mais sofrimento, mais angústia.

Certamente, não haverá uma solução simples para quem se esforça e se dedica para prestar o Enem. A ansiedade fará parte de sua rotina, assim como devem fazer os estudos diários. O que se deve buscar é justamente uma relação de apoio, de suporte e não de cobrança, para fazer com que esse caminho árduo se torne um pouco menos penoso. Pais, mestres e amigos são peça fundamental nesse processo que não deve ser visto como um fim em si, mas um meio para novas conquistas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário