terça-feira, 17 de novembro de 2015

Qual a pior tragédia?





"Miséria é miséria em qualquer canto
Riquezas são diferentes"

Titãs

Causaram espanto e tristeza os atentados ocorridos na última sexta-feira na cidade de Paris, uma das cidades mais representativas da cultura ocidental. As cenas chocantes veiculadas pela tv e pela internet e o número de mortos mostraram, ao mesmo tempo, a fragilidade em que as pessoas se encontram e o avanço dos terroristas pelo mundo. Logo a comoção se espalhou pelas redes sociais, com manifestações de apoio aos franceses e, obviamente, a mídia passou a abordar e explicar como tal tragédia acontecera, dedicando horas ao caso. Nada mais natural.

Eis que logo surgem nas mesmas redes sociais pessoas indignadas, compartilhando textos, imagens, charges, comparando o ataque terrorista na França a outras tragédias ocorridas aqui no Brasil. Questionam por que os brasileiros se mostram tão abatidos e solidários e por que a mídia dá tanta ênfase ao lamentável evento. O recente rompimento da barragem em Mariana (MG) é o mais escolhido para essas comparações. Mas há também outros momentos trágicos lembrados, como o incêndio na boate Kiss. Junto à imagem do terrorista Osama Bin Laden com as cores da bandeira francesa, o texto diz: "Você sabia? Que mais de 200 pessoas morreram na boate Kiss e ninguém de Paris ficou de luto (sic)". Outros ainda comentam sobre a pobreza no Brasil, as pessoas que morrem na fila do SUS sem atendimento, a corrupção generalizada, querendo dizer que são tragédias maiores que a francesa e que fazem parte do nosso dia a dia e ninguém se importa. Ressalte-se que todos os exemplos citados foram ou são devidamente abordados pela imprensa, até porque eram também notícia e é disso que os meios de comunicação sobrevivem.

Parafraseando a música "Miséria" do grupo paulista Titãs, podemos dizer que "Tragédia é tragédia em qualquer canto". Qual a necessidade de se ficar debatendo qual terrível acontecimento foi pior ou melhor que o outro se ambos foram terríveis para milhares de pessoas, sejam elas brasileiras, francesas, sírias ou tailandesas? O foco deveria ser outro, que se apresenta muito mais perigoso e sério do que comparações mesquinhas entre Mariana e Paris. Compreender cada situação e sua devida importância. Dar o valor a cada problema, analisando os seus desdobramentos e consequências, que, infelizmente, não parecem nada agradáveis. Seja no Brasil ou na França.

Nenhum comentário:

Postar um comentário