quinta-feira, 16 de junho de 2011

Vice é o...


VICE É O... - por Vicente Bezerra

A confraria de vascaínos me exigiu esse texto, como um desagravo, uma resposta ao texto do colega Moacir, rubro-negro doente. Relutei comigo mesmo pensando em evitar que o espaço do blog - que trata de assuntos diferenciados – não se transformasse numa trincheira de torcidas rivais se digladiando e se ofendendo. Mas, o sangue português que corre nas minhas veias (e o fato de ser Vascaíno Apostólico Romano) não me deixou ficar quieto, ou melhor, calado.

Eis que o Vasco da Gama quebra o jejum de 8 anos sem títulos no futebol, vencendo a Copa do Brasil e sendo o primeiro clube brasileiro a garantir vaga na Libertadores de 2012. Até aí, normal. Mas eis que a torcida rival se manifesta tentando menosprezar a conquista, relembrando os vice campeonatos da década de 2000, como se isso fosse uma constante na bela história vascaína. Até Moacir, com seu recente texto infame, aderiu à turba dos descontentes e inconformados.

Entretanto, é preciso lembrar aos adversários que o seu time de cores vermelho e preto é o maior vice campeão do estadual carioca, e fica em terceiro lugar se englobarmos os outros estaduais. E o jejum? Os rubros negros ficaram 10 anos sem vencer nada, entre 1928 e 1938.

É preciso lembrar também que o Vasco da Gama, além de vencedor, é um clube pioneiro. Foi o primeiro clube carioca a ser campeão brasileiro, em 1974. O primeiro time de futebol brasileiro a ter um título internacional, ao ser campeão continental, em 1948 (o equivalente a Libertadores). O primeiro clube brasileiro a aceitar negros no seu time.

Esse último aspecto merece um parêntese. O Vasco teve seu nascimento entre os humildes. Era o clube dos pequenos comerciantes, da colônia portuguesa, que aceitava em seus quadros e no seu time negros, mestiços, operários, nordestinos e analfabetos, montando equipes fortes na época. Por essa razão, os outros rivais elitistas e até então preconceituosos alijaram o Vasco da disputa, em razão de o mesmo possuir em seu time negros e operários. Isso durou de 1906 a 1922, 16 anos! Nesse período os tricolores ganharam 8 cariocas, rubro negros 4 e botafoguenses 3. Em 1923 o Vasco participa de tal campeonato, já que vencera a segunda divisão criada para os times dos pobres, no qual também figurava o Bangu. O resultado foi Vasco campeão no seu primeiro ano na “elite”. Veio 1924 e os clubes acima citados exigiram ou a saída do Vasco do campeonato, ou a saída de 12 jogadores (mulatos, negros, nordestinos, etc), sob a alegação que os mesmos possuíam “profissão duvidosa”. Em resposta, o Vasco manda um ofício à federação solicitando a retirada do seu time do certame do mesmo ano. Esse ofício é conhecido entre os vascaínos como “resposta histórica” e fica guardado na sala de troféus do clube, sob os dizeres: “sem o Vasco, o futebol brasileiro não conheceria Pelé”. Isso foi contornado, e o Vasco disputou o campeonato do ano seguinte. Não parou por aí. Os clubes “elitistas” criaram a exigência de que jogadores analfabetos não poderiam jogar. Coube ao Vasco contratar professores para ensinar seus jogadores ao menos assinar seus nomes nas súmulas. Depois disso, os já citados clubes resolveram que pra disputar o campeonato carioca, o clube deveria ter um campo próprio. O Vasco não tinha, jogava no campo do Andaraí. Então em 1927, o clube, com o apoio dos comerciantes e torcedores, realizou um mutirão de arrecadação de recursos e mão-de-obra, e assim foi erguido o estádio de São Januário (inaugurado em 1929, mesmo ano em que se sagrou novamente campeão), o maior da América Latina até a construção do Maracanã, e o primeiro a realizar jogos noturnos!

Fechado o parêntese, vê-se que a perseguição é antiga, que a história é belíssima e que vestir a armadura vascaína é ser forte, perseverante e lutador, contra tudo e todos. Hoje parte da mídia tenta ofuscar essa história, fazendo a crer aos desavisados que o Vasco não é um time vencedor. Tentam menosprezar suas façanhas. E fazem pior, cobrem com o manto da vergonha, conquistas de seus times queridos, conquistas essas manchadas de forma indelével. Mas a história tem que ser contada, inclusive com suas manchas.

O rival tem mais mídia por ter a maior torcida, ou tem a maior torcida por ter mais mídia? A segunda frase se impõe (pergunte ao torcedor a escalação do time no jogo passado, ou o campeão de 2009 – a maioria não saberá). E muitos torcedores são levados pela mesma, acreditando em tudo que é dito, sem questionar, sem olhar a realidade dos fatos. Muitos títulos do rubro-negro são questionáveis há tempos, muito antes do episódio do “ladrilheiro”. Não sabe o que é? Pesquise pra não dizer depois que vascaíno inventa.

Por exemplo, o campeonato mundial de 1981, também chamada na época de Copa Toyota, foi disputado numa final contra o Liverpool, que não era o campeão da Champions League (contra quem deveria ser a final), e sim campeão da Copa da Uefa. Bom, o time não tem nada a ver com isso não é mesmo? Em entrevista recente ao jornal Inglês Daily Telegraph, Bruce Grobbelaar, goleiro do Liverpool naquela final, afirma que aceitou suborno dos dirigentes rubro-negros para “abrir” o gol. Outro fato importante, é que o rival venceu uma libertadores esvaziada, sem times da Argentina e Uruguai (nossos maiores rivais). Bom, o time também não tem nada a ver com isso. O maior rival então na libertadores seria outro brasileiro, o Atlético-Mg de Éder e Reinaldo. Como os dois brasileiros empataram nos critérios dentro do grupo e só classificava um, foi marcado um jogo extra em Goiânia, onde seria o árbitro José Roberto Wright, hoje comentarista da Globo (talvez pelos serviços prestados). Wright viaja no mesmo avião da delegação rubro-negra e durante o jogo opera o galo mineiro, expulsando Reinado e Éder no começo do primeiro tempo, em lances “duvidosos”. Ainda no primeiro tempo, expulsa também Palhinha e Chicão, isso aos 34 minutos do primeiro tempo! Após invasão do campo pelos mineiros (ninguém tem sangue de barata) e a expulsão de todo o banco de reservas, o jogo retorna, quando mais um do galo é expulso. Mesmo assim, o jogo estava 0 x 0. Com a última expulsão, o Atlético ficou sem jogadores suficientes e perdeu por W x O. É brincadeira? Podem pesquisar, que o que foi dito acima é encontrado facilmente.

Bom, voltemos ao Gigante da Colina. O Vasco pode não ter o tão falado título mundial. Não nos moldes da copa Toyota ou o atual da Fifa. Mas podemos considerar dois títulos vencidos em 1957 como títulos internacionais interclubes de grande importância: em Caracas, Venezuela, participaram do torneio verdadeiras potências futebolísticas da época, como Real Madrid, Roma e Porto. Depois de um empate em 2 a 2 e uma vitória de 2 a 0 sob os madrilenhos, mais um título vinha para São Januário. Ainda em 1957, o Vasco da Gama escrevia duas páginas inesquecíveis na sua história: a primeira, ao derrotar o Real Madrid de Di Stefano por 4 a 3, na final do Torneio de Paris (França), (os gols desse jogo são encontrados facilmente no youtube); a segunda, ao impor ao Barcelona de Evaristo de Macedo uma das maiores goleadas, se não a maior, sofrida pelos Catalões em seu estádio Camp Nou, por 7 a 2 . (fonte Wikipedia). Eram as últimas conquistas do Expresso da Vitória, que começou a deslanchar em 1948, era a base da seleção brasileira, e tinha entre seus nomes Ademir, Bellini,Vavá e Barbosa.

A década de 60, como a de 2000, foi uma época difícil, principalmente por crises administrativas. Recentemente, a gestão Eurico Miranda (como presidente) foi tenebrosa para o Vasco. Mas o trem (bala) está voltando aos trilhos e aos títulos. As décadas de 70, 80 e 90 foram gloriosas. Na de 70 veio o primeiro título nacional, em 74. Na de 80, a rivalidade se acentuou entre rubro-negros e vascaínos, graças aos bons times que ambos possuíam à época, e aos duelos entre Dinamite e Zico. Fechando com “chave de ouro” vem o título brasileiro de 89, mas não devendo ser esquecidos os cariocas de 87 e 88, belíssimas conquistas, e craques revelados como Romário, Geovani, Bismarck, Acácio, entre outros. A década de 90 trouxe vários cariocas, incluindo o tri (92, 93 e 94 – sendo um deles invicto) e o surgimento de novos craques, como Edmundo (o animal), Valdir Bigode; e no final da década Juninho, Felipe, Pedrinho, etc.

A onda é sempre lembrar que o Vasco é “vice”. Como bem disse o craque Romário, “vice é o cacete!”. “Uh, vai pra cima, o trem bala da Colina!”

P.S. - Aos amigos flamenguistas, não se chateiem por não ter colocado o nome do time de vocês no texto. Foi pra irritar mesmo. Percebam também que não depreciei, já que não chamei ninguém de urubu.

P.S.2 - (não o Playstation): Confessem. Tava sem graça sem o verdadeiro Vasco, né não? A rivalidade sadia é boa e tem que continuar (afinal, não dá pra zoar tricolor e botafoguense, eles quase não tem brasileiros, imagina libertadores).

4 comentários:

  1. Como os vascaínos são ressentidos! Faço um texto alertando sobre o perigo da quebra de uma tradição do seu clube e me vem um texto acusando o grande Flamengo de conquistas fraudulentas (coisa que não fiz em meu texto), lembrando de um período de falta de títulos do Flamengo em 1920 (só vai fazer cem anos...) e dizendo que as grandes conquistas do Vasco foram torneios em Caracas (!) e uns dois jogos em que ganhou de times espanhóis sabe-se lá quando (e ainda por cima a fonte de um deles é a Wikipédia...). Embora seja flamenguista, sei que o Vasco ganhou muito mais que isso. Claro que não chega perto das glórias de meu time, mas devemos valorizar até mesmo os perdedores...
    Abraços
    Moacir Poconé

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  2. Acho que o texto não precisa de explicações, mas vamos lá Moacir. Os títulos antigos citados são tão importantes quanto os outros, o local do jogo não determina o seu valor, seja em Caracas, Tokio ou Jaú, e sim a importância do torneio e contra quem se jogou. Não foram jogos isolados e sim torneios envolvendo Porto, Real Madrid, Roma e etc. Se título antigo não vale, então esqueçamos a era Pelé. O Vasco tem tradição de pioneiro e vencedor, por isso é tão perseguido, enquanto outros são vencedores, boa parte na marmelada. Glórias assim, dispenso. Quanto às fontes, se o wikipedia não vale, segue outros links: http://www.reocities.com/robkass/vascoxestrangeiros_europa.txt e http://www.youtube.com/watch?v=hesqCPCEamc
    Saudações
    Vicente

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  3. kkkkkkkkkk

    mengôôô! mengôôô!

    Pedro Luís Fernandes

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  4. Se discussão sobre futebol já é capaz de não se chegar a um consenso, imaginem vascaínos e flamenguistas tirando as diferenças. Um abraço a todos!

    Wanderley

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