quarta-feira, 4 de junho de 2014

Os gritos do silêncio






A produção textual, juntamente com a leitura, são dois grandes obstáculos que um professor de redação percebe nos jovens de hoje. A luta é árdua, mas de vez em quando surgem textos em que se nota que ainda resta esperança. Por isso, o reconhecimento é necessário, para que sirva de estímulo não apenas ao produtor do texto, mas principalmente aos demais estudantes.

Nessa postagem, compartilho com os leitores desse blog a produção de uma de minhas alunas, Karine Araújo Trindade. Ela é aluna do 2o. ano do Ensino Médio do Colégio José Augusto Vieira e produziu a crônica que segue abaixo, após solicitação em sala de aula.

Os gritos do silêncio

Lucy era uma jovem que morava com seus pais. Ela era dona de uma tristeza incomparável. Seus olhos mostravam os traços de uma dolorosa solidão. Seus passos eram lentos, como se ela nunca quisesse ter saído da proteção de sua casa. Seus trajes eram moletons um tanto surrados, que por trás deles ela escondia as dores de um silêncio, as cicatrizes. Seu corpo fedia a cigarro, a álcool e todas as coisas que resultavam na sua destruição.

Seu sacrifício era ter que enfrentar uma sociedade doente, em que as pessoas eram só uma cópia das modelos que passavam na televisão. Ao contrário deles, Lucy ignorava qualquer meio onde a manipulação social estivesse presente explicitamente. Preferia os seus livros de poesias, os quais ela lia em todos os fins de tardes na biblioteca, ou até mesmo ouvir “The Beatles” na varanda, enquanto tentava decifrar os mistérios da vida. Ela era cruel ao falar de si mesma, se menosprezava o tempo todo, mas todos sabiam que ela só precisava de alguém. Que enquanto ocorria uma guerra dentro de si, o seu silêncio gritava por paz, mas será que alguém realmente ouviu? Ou fingiu que se importava?

Mas, foi em um dia de guerra mental, que encontraram o corpo da pequena Lucy na varanda de sua casa. Talvez por puro egoísmo esquecêssemos de escutá-la. Assim como Kurt Cobain, antes de seu suicídio, ela deixou uma pequena carta a sua direita. Era um pouco complicado de compreender a sua escrita. Talvez ela estivesse trêmula demais para se despedir em um pequeno papel. Mas no fim ela dizia “Fecharei meus olhos, pois os anjos caídos irão me visitar”. Para quem não sabe, “os anjos caídos” a que Lucy se referiu eram os anjos que se rebelaram contra Deus juntamente com Lúcifer. Não compreendíamos a sua falta de fé, a falta de um ser maior. Lucy só precisava acreditar.

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