sexta-feira, 15 de julho de 2011

Piada ilegal


PIADA ILEGAL – por Moacir Poconé

Em tempos da ditadura do politicamente correto, a última ação dos detentores da moralidade atingiu o humor brasileiro. O comediante Rafinha Bastos está sujeito a ser processado pelo Ministério Público por ter feito uma piada em que dizia que “mulher feia tem que agradecer ao estuprador e não denunciá-lo.” A acusação é que, com a piada, o humorista faz uma apologia ao crime de estupro.

Lembro dos tempos que havia apenas uma divisão entre as piadas: as de bom e as de mau gosto. É inegável que a piada de Rafinha Bastos pertence a essa última categoria. Trata-se de uma piada ofensiva, depreciadora do sexo feminino e que pode até ter o seu sentido de “engraçada” questionado. Isso deveria ser a pena máxima imposta a uma piada. O fato de ela não ter graça. O seu autor, consequentemente, ser chamado de idiota ou antipático que são qualidades que um comediante certamente não deseja ter. Mas o que querem é classificar a piada como ilegal e o humorista como criminoso. São os exageros do tempo em que vivemos.

Lia semana passada uma entrevista com o comediante Renato Aragão, o famoso Didi de Os Trapalhões. Com grande lucidez, ele afirma que não poderia reviver nos dias de hoje o período áureo do grupo que tinha um negro alcoólatra, um nordestino zombado por todos e ainda um outro personagem de opção sexual duvidosa. Enfim, faziam graça de pessoas que representavam minorias e nem por isso se sentiam ofendidas. Ao contrário. O programa e os filmes do grupo sempre foram campeões de audiência com seu humor de tipo popular, embora a crítica especializada muitas vezes torcesse o nariz eles.

Poderiam dizer que ações como a do Ministério Público contra os comediantes de humor duvidoso refletem o desenvolvimento de nossa sociedade. Vejo aí dois motivos de preocupação. O primeiro é até que ponto chegaremos. O segundo é que parece se formar uma sociedade séria demais e, principalmente, mais chata. Estamos partindo para um ponto em que a pessoa não terá mais opção em ouvir algo e decidir se aquilo é bom ou não. Essa decisão será feita pelo Estado ou por organizações que acreditam representar as pessoas.

Afinal, percebe-se mais uma vez o exagero em dar ares de crime a um fato tão banal como o de contar uma piada. Continuando assim, outras manifestações aparentemente inofensivas serão também consideradas ilegais. Mas esse é um assunto para a próxima semana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário