sábado, 14 de maio de 2016

Onde estão as mulheres?






Meses atrás, uma reportagem da revista Veja causou polêmica. Com o título “Bela, recatada e do lar” exaltava as qualidades da agora primeira-dama Marcela Temer, destacando o fato que a referida senhora não trabalhava e se dedicava somente a seu esposo, numa relação de dependência e submissão, dentre outras características que pareciam perdidas em séculos passados. Justamente o que as mulheres (as comuns) vêm se esforçando para quebrar: o paradigma de que devem ser as donas de casa em lugar de uma vida pessoal independente.

Pois bem. Percebe-se agora que o presidente interino leva tal pensamento realmente a sério, a ponto de não nomear uma mulher sequer para um de seus ministérios. Mais da metade da população brasileira ficou, de repente, sem ter uma pessoa de seu gênero na Esplanada dos Ministérios. E antes que os apressados o defendam, alegando que o que importa é a competência, independente do sexo, ao menos sete dos ministros escolhidos são investigados pela Operação Lava Jato, para citar apenas um fato suspeito. Negro também não há. Somente homens, brancos e heterossexuais, para ilustrar de forma irrefutável o ideal do ser humano perfeito.

O fato foi tão debatido nas redes sociais e causou tanta estranheza que logo se buscou a História. E, de forma surpreendente, foi observado que o último governo presidencial a não ter uma mulher no primeiro escalão foi o do General Ernesto Geisel, no longínquo ano de 1974, ou seja, já se vão 42 anos. Ainda nos tempo da Ditadura Militar. Uma ótima referência para um governo que, assim como o do século passado, também não recebeu um voto sequer do povo brasileiro.

Mas não parou por aí. Para deixar bem claro que as minorias históricas não serão amparadas por seu governo, extinguiu o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, bem como o Ministério da Cultura. Logo, o Ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, trouxe uma explicação para o caso da falta de mulheres, numa daquelas frases em que a emenda sai pior que o soneto: “Elas ocuparão as secretarias”, referindo-se a cargos de segundo escalão. É. Para Temer, as mulheres não passam de secretárias. A dele, do lar. As demais que sigam o seu exemplo.

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