quinta-feira, 1 de julho de 2010

Coisas fora




COISAS FORA – por Vicente Bezerra

“Eu hoje joguei tanta coisa fora
Eu vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias gente que foi embora.
A casa fica bem melhor assim(...)” Tendo a Lua (Herbert Vianna; Tet Tillett)

Primeiro minhas desculpas aos nossos seis leitores, pelo atraso no post dessa semana: problemas particulares me impediram de escrever ontem. Segundo, desculpas também pelo tema de hoje ser pessoal, quase um diário na verdade, daí a linguagem leve e sem rodeios. Vamos lá então...

O trecho da música citada, dos Paralamas do Sucesso, cai como uma luva (cai? não deveria ser veste?). Por esses dias resolvi fazer uma “faxina” em gavetas e guarda-roupas, e também mudança dos móveis de lugar. Conversando com um amigo, falei-lhe do tédio que andava rondando e as mesmices da vida. Vejam bem, não falo de rotina, porque ela é necessária. Comer, trabalhar, percorrer os mesmos trajetos, é necessário no cotidiano. Ninguém vive uma vida com dias totalmente diferentes entre si, saltando de asa-delta em um dia, no outro escalando o Everest. Nem Donald Trump, com toda sua dinheirama. Tédio é quando falta prazer, fica chato, realizar as tarefas do dia a dia.

Bom, fiz a tal da “faxina”. Impressionante como guardamos coisas inúteis. Joguei fora várias caixas que guardava, para guardar coisas que ainda viriam a existir. Muitas dessas caixas já fazendo vários aniversários. E as contas? Aquela nota fiscal da saboneteira que você comprou em 1987 e acha que vai dar defeito pra ir reclamar no supermercado. Ou a conta que você pagou em 1991 e acha que a empresa vai te cobrar de alguma forma em 2034. Coisas inúteis mesmo.

Muitos bilhetes e anotações sem utilidade também foram jogadas fora. E à medida que ia lendo, e separando o que ainda guardaria do que iria ganhar o mundo dos mortos, alguns filmes (ou flashbacks) iam passando na mente. Bilhetes de ex-namoradas, fotografias e sentimentos que também estavam guardados reaparecem, mesmo que timidamente. O termo saudade, como um charme brasileiro de alguém sozinho a cismar, como bem diz Belchior.

Outro amigo meu, que há muito não vejo, e ligado nas coisas esotéricas me disse uma vez que as coisas velhas e sem necessidade que guardamos, acumulam energia negativa nas nossas casas e vidas. Juro que não pensei nisso quando fiz a arrumação, mas me senti muito mais leve mesmo. O sentimento de tédio mudou como os móveis que troquei de lugar. O espaço físico melhorou, como o espaço mental também, e sensação chata de “deja vu” desapareceu. A motivação para enfrentar a rotina se transformou em outra. É bom fazer isso de vez em quando, para nossa saúde mental e física também, afinal, ácaros, traças e aranhas perderão boa parte de seu habitat, construído por nós mesmos.

Enfim, a “limpeza geral” surtiu efeito. As coisas mudaram de lugar, o ânimo também. Coisas que não precisavam existir mais foram jogadas. Objetos sem utilidade guardados e esquecidos foram pro lixo. Se atraíam e armazenavam energia negativa ou não, não sei. Mas que me senti melhor, isso sim. Talvez meu amigo esteja certo.

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