domingo, 16 de janeiro de 2011

Onde estás que não respondes?


ONDE ESTÁS QUE NÃO RESPONDES? – por Moacir Poconé

No século XIX, o poeta baiano Castro Alves em seu célebre poema “Vozes d’África” perguntava: “Deus, ó Deus, onde estás que não respondes?” Era a indignação do artista com a existência da escravidão no Brasil. Não podia conceber como deus permitia que pessoas vivessem como escravas, subjugadas a outras.

A mesma pergunta para uma outra situação pode ser feita atualmente. Onde está deus que não responde aos gritos, ao choro, ao sofrimento das famílias das mais de seiscentas pessoas mortas no Rio de Janeiro nessa última semana? Como pôde o ser supremo permitir que tal tragédia acontecesse, ainda mais provocada por forças da natureza (que estão sob o seu domínio, dizem), matando homens, mulheres e crianças? Seriam todas as pessoas pecadoras e estariam pagando por isso, tal como em Sodoma e Gomorra? Ou estaria Deus apenas cansado e, num breve cochilo, a tragédia acontecera? Nunca saberemos. São perguntas perdidas no tempo e no espaço.

As pessoas mais religiosas se apressarão a responder que a culpa é do homem, por ter construído suas casas nas encostas do morro. O tal do “livre-arbítrio”. Pode-se até aceitar. Mas como pensar que, sendo deus onisciente, portanto sabedor de todas as coisas (como dizem as pessoas), permitiu que chovesse de tal forma naquela região? Não sabia ele dos riscos que a chuva poderia causar àquelas pessoas? Ou será que quis mostrar aos homens que é ele quem manda e é ele quem determina todas as coisas? O mais curioso é ver os depoimentos dos sobreviventes que após perderem seus entes queridos dizem ainda que somente deus pode ampará-los nesse momento difícil. Num certo parâmetro, é a clássica cena do assassino consolando a família da vítima, enquanto ela jaz no caixão.

Em verdade, vos digo: deus está fora disso. Aliás, está fora de tudo. Vive apenas na mente das pessoas que necessitam acreditar em algo para dar sentido a sua vida. E não percebem que o seu caminho seria bem menos penoso e muito mais leve sem a existência de tal criatura. Por isso não há resposta para a pergunta inicial. Não há quem a responda.

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