sexta-feira, 13 de abril de 2012

Muito demo para pouco Brasil



MUITO DEMO PARA POUCO BRASIL – por Moacir Poconé

O fragmento de texto abaixo foi escrito pelo primeiro grande poeta brasileiro, Gregório de Matos, não à toa chamado de o “Boca do Inferno”:

Juízo anatômico dos achaques que padecia o corpo da República em todos os membros, e inteira definição do que em todos os tempos é a Bahia.

Que falta nesta cidade?... Verdade.

Que mais por sua desonra?... Honra.

Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.


O DEMO a viver se exponha,

Por mais que a fama a exalta,

Numa cidade onde falta

Verdade, honra, vergonha.


A notícia do envolvimento do senador Demóstenes Torres em um forte esquema de corrupção causou surpresa a todos. O nobre parlamentar portava-se até então como paladino da justiça, figura idônea da oposição no Congresso Nacional. Descobriu-se, através de escutas telefônicas, que nada mais era do que uma “secretário de bicheiro”, como bem definiu o jornalista Marcelo Tas. Prestava serviços dos mais diversos que o cidadão possa imaginar ao contraventor goiano Carlinhos Cachoeira. Em seguida, soube-se que outros deputados e senadores goianos pertenciam ao mesmo esquema.

Os versos de Gregório de Matos são do século XVI. Criticam a condição da Bahia naquele tempo. Nos dias de hoje o cenário é mais amplo. A corrupção cobre todo o Brasil. Nesse caso específico, parece sair do Brasil Central e se alastrar por todo o resto do país. Mas dúvida não resta: é um mal que assola nosso país e prejudica aspectos mais básicos da população necessitada. É ela sempre a que mais sente as ações nefastas dos corruptos e vê, em seu dia-a-dia, os efeitos que as ações criminosas causam nos cidadãos comuns.

Voltemos aos versos do poeta baiano, tão antigos e tão atuais. Senão, vejamos. O “demo” da poesia é o capeta mesmo, o tinhoso, redução da palavra demônio. Demo poderia ser também apelido do senador Demóstenes. Uma forma carinhosa (e apropriada) de abreviar seu nome. Seu partido: Democratas. Forma abreviada? Demo. Com tanto demônio à solta, só poderiam faltar no Brasil a verdade, a honra e a vergonha, como assinala o último verso da poesia. É muito demo para pouco Brasil.

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