segunda-feira, 27 de junho de 2011

Insensata narração


INSENSATA NARRAÇÃO – por Moacir Poconé

A novela das nove da Rede Globo, Insensato Coração, vem atingindo altos índices de audiência. Curioso que essa marca somente foi alcançada ao acontecer uma série de reviravoltas na trama de Gilberto Braga. Aliás, mais do que reviravoltas. Foram verdadeiros redemoinhos que ocorreram tanto no enredo quanto no comportamento das personagens, como há muito tempo não se via (se é que já foi visto antes).

Para se ter ideia, quem assistia à novela e passou umas duas semanas sem poder fazê-lo, não vai entender mais nada. Duas semanas atrás, o casal Marina e Pedro estavam juntos e felizes depois de uma série de mal-entendidos. O vilão Leonardo (irmão de Pedro) continuava aprontando das suas. Eis que na última semana simplesmente Marina havia se casado com Leonardo e Pedro era visto como um louco. Outro fato: a personagem de Glória Pires, Norma. Pouco tempo atrás era uma presidiária. Logo, passou a ser enfermeira do ricaço Teodoro. Hoje já está viúva desse mesmo ricaço e oscilando entre ser mais uma vilã na novela ou apenas uma personagem merecedora de vingança. Outro personagem de destaque da trama, o Don Juan André, interpretado por Lázaro Ramos, agora se converteu em dono de casa, quebrando de vez sua regra de não transar mais de uma vez com a mesma mulher e se entregando aos braços de Carol, após esta ter tido um breve romance com o pai de Pedro, o coroa-galã Raul.

Dizem os especialistas que a chamada “velocidade da trama” teve de ser incorporada às novelas pela agilidade do mundo moderno. Antes, era comum assistirmos a folhetins em que o vilão passava toda a história fazendo suas maldades enquanto o mocinho (e/ou a mocinha) sofriam horrores. O capítulo final era a redenção de todos. O casal apaixonado se encontrava e o vilão pagava por todos os pecados cometidos ao longo de mais ou menos seis meses. Muitos espectadores reclamavam por não poder ver mais o amor dos pombinhos ou o sofrimento do mau personagem. Mas era assim que tudo funcionava.

Hoje já não há mais isso. O próprio vilão Leonardo já passou poucas e boas ao longo da trama. O mocinho Pedro então nem é bom falar. O problema é que o comportamento das personagens oscila tanto que é difícil de acreditar que alguém altera tanto suas atitudes na vida real. O maior exemplo é Marina. Antes uma mulher independente, ligada aos negócios da família; depois, uma bobinha apaixonada pelo galã Pedro; agora, uma mulher com sede vingança, que se casa com o próprio irmão do seu ex-amor apenas para maltratá-lo e mais tarde, uma apaixonada arrependida que volta para os braços de quem realmente ama. Isso em pouco mais de duas semanas!

É claro que ação e movimento fazem muito bem a qualquer história. O público gosta disso. A prova está, como já dito, nos índices de audiência. Mas ao menos que se façam personagens com o mínimo de coerência em seu comportamento. O público agradece.

Nenhum comentário:

Postar um comentário