quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Goodbye Metal Gods



GOODBYE METAL GODS – por Vicente Bezerra

Numa caravana de nove pessoas, este escriba partiu em direção a Belo Horizonte para assistir ao show de duas bandas do primeiro escalão do rock internacional: Whitesnake (hard rock) e Judas Priest (heavy metal). A viagem toda foi muito divertida, a turma era toda de conhecidos e as resenhas e brincadeiras foram muitas, tantas que renderiam um post só sobre elas. Assim também seria com a visita a Ouro Preto, que vou estudar a possibilidade de comentá-la depois. Mas vamos ao show.

Com uma pontualidade britânica "até demais", a introdução de "My Generation", do The Who, começou a tocar no Chevrolet Hall pouco antes das 21h – horário oficial do show. O Whitesnake surge no palco tocando a energética "Best Years", do álbum "Good To Be Bad", de 2008, acendendo a galera logo de cara e revelou que David Coverdale, acompanhado da fantástica dupla Doug Aldrich e Reb Beach nas guitarras, Michael Devin no baixo, Brian Ruedy nos teclados e Brian Tichy na bateria mantêm a banda em alto nível. Coverdale tem usado com inteligência sua voz – já um pouco rouca, mas ainda poderosa - se aproveitando disso nas novas composições da banda e baixando o tom de vários clássicos do grupo, compostos, originalmente, em formato bem mais agudo. David fará 60 anos ainda esse mês.

"Give Me All Your Love Tonight" e "Love Ain't No Stranger" tem o título de "indispensáveis" não é à toa. A dobradinha só não arrancou mais suspiros do que "Is This Love", que levou as (muitas e bonitas!) mulheres presentes ao delírio. Já com o público na mão, Coverdale cumprimentou os mineiros arranhando um simpático "Boa noite, Belo Horizonte" em português.

Do novo trabalho "Forevermore", veio "Steal Your Heart Away" e a bela faixa título, uma após a outra – esta última dedicada ao público. A essa altura já se notava um Chevrolet Hall praticamente lotado, considerando que muita gente foi entrando no decorrer do show, vindos do trabalho, faculdade ou de um trânsito complicado.

Já na fase final da apresentação do Whitesnake, "Here I Go Again" se destacou como uma das melhores músicas da banda ao vivo e "Still Of The Night" só fez o pique do show crescer ainda mais. As exibições de Coverdale como frontman, brincando com o pedestal do microfone, por exemplo, mostram que ele é mais que um simples vocalista, tendo status de um performer completo.

Depois da bonita versão de "Soldier Of Fortune", dos seus tempos de Deep Purple, cantada à capela, veio o maior clássico de Coverdale e cia. E por mais infame que o trocadilho seja, é impossível não deixar a platéia pegando fogo depois da dobradinha "Burn / Stormbringer", encerrando a apresentação no ápice.

Fica a interrogação para que serviram os (longos) solos de guitarra e bateria, dispensáveis para um set list curto. Como banda de abertura de luxo, o Whitesnake se despediu do público sob muitos aplausos depois de 1h20 que pareceram passar num instante.

Ajustes de palco feitos, detalhes acertados. Tudo preparado para a provável penúltima apresentação da história do Judas Priest no Brasil. Ainda viria Brasília, dia 15.

O petardo "Rapid Fire" já abriu rodas de mosh, arrancou gritos e fez a galera cantar junto logo cedo. Os diversos clássicos que vieram a seguir, como "Metal Gods", "Starbreaker" e "Victim Of Changes" mostraram que os coroas seguem mandando muito bem. Mesmo encurtando algumas notas, Rob Halford continua um vocalista excelente, principalmente nos agudos que o consagraram.

Glenn Tipton e o recém chegado Richie Faulkner – substituto de K.K. Downing, que preferiu se aposentar mais cedo - já formam uma entrosada dupla de guitarras, acompanhados por Ian Hill no baixo e Scott Travis na bateria.

O público ficou feliz em perceber que os ingleses não economizaram na super produção: jatos de fogo, telão com vídeos temáticos das músicas, trocas de pano de fundo, fumaça, lasers e Halford com vários figurinos diferentes foram um interessante complemento para um show que já começou grandioso.

E nada mais apropriado para um show de despedida do que um repertório abrangente. O set list da noite cobria toda a carreira da banda, com músicas de todos os discos da "era Halford" – a fase do vocalista Tim Owens foi deixada de lado. Nada mais justo.

Entre um clássico e outro, veio "Diamonds And Rust" - simplesmente de arrepiar -, numa versão metade acústica e metade acelerada, como no álbum "Sin After Sin", de 1977. Curiosidade: disco esse produzido pelo baixista do Deep Purple, Roger Glover e que estará no Brasil em outubro. Outra curiosidade: a versão original é da folkista Joan Baez.

Única menção do último disco da banda "Nostradamus", de 2008, "Prophecy" trouxe um Rob Halford encarnando o próprio profeta que dá nome ao álbum, com direito a tridente e tudo mais.

Já era de se imaginar que Richie Faulkner seria um grande guitarrista tecnicamente, pois já o tinha visto tocar em 2009, abrindo o show do Iron Maiden em Recife, na banda de Laureen Harris. Bem legal foi ver que ele não estava nada intimidado com o posto de músico de uma das maiores bandas de Heavy Metal de todos os tempos, mostrando que performance também é uma virtude sua.

Muitos sucessos do Priest vieram na sequência – "Nightcrawler", "Turbo Lover", "Beyond The Realms Of Death" são apenas alguns deles -, mas o melhor ainda estava por vir.

"Breaking The Law", cantada somente pelo público, foi uma saborosa mistura de sensações: a emoção de ver um hino cantado apenas por fãs contrastando com a vontade de ver o velho Halford entoar o ultra clássico refrão pela última vez.

A jóia que encerrou o set list principal do Judas Priest foi "Painkiller", música que mostrou que a banda sabe ser altamente técnica quando precisa – vide as linhas de guitarra e bateria de Glenn Tipton e Scott Travis, respectivamente. A galera foi ao delírio com a música, talvez a mais pesada da banda.

A volta do bis não poderia ser mais triunfal. "The Hellion / Electric Eye" precedeu a tradicional entrada do Metal God – alcunha que Rob Halford é chamado – sobre sua motocicleta em "Hell Bent For Leather". E como se não bastasse, ver o vocalista beijando a bandeira brasileira em "You've Got Another Thing Comin'" foi de encher os olhos d'água de muito headbanger.

O momento "Brasil" continuou com um pequeno trecho do Hino Nacional no solo do guitarrista Richie Faulkner, com a imagem da bandeira do nosso país no telão – os mais atentos ainda perceberam que nesse momento a iluminação era apenas nas cores azul, verde e amarela.

Após uma nova despedida, o palco vazio fez com que muita gente pensasse que o show já havia acabado. Eis que o baterista Scott Travis vem ao microfone para saudar a galera e pedir um coro convocando o resto da banda de volta para a última música. Foi assim que num "segundo bis" o Priest tocou "Living After Midnight" e se despediu, provavelmente pela última vez, dos mineiros.

Ao fim de um verdadeiro espetáculo é no mínimo estranho perceber que tudo ali nunca mais se repetirá. Por outro lado, ao sabermos que temos um Rob Halford sessentão – e um Glenn Tipton com 63! - compreende-se que é até bastante justo que os ingleses pendurem as chuteiras, de fato. Mas com um Rock / Metal tão carente de novos ídolos, fica impossível a nostalgia não deixar de dar as caras. Fica a obra, o legado e o prazer de ter visto um show histórico.

Tudo isso aconteceu na noite da terça, dia 13, para as primeiras horas da quarta, dia 14, meu aniversário. Os nove soldados tinham que voltar para casa. Depois de tanta diversão e esforço (físico e financeiro) para estar ali, fomos na manhã da quarta para o aeroporto, partir. Eis que a sorte nos sorri, pois encontramos todo o Judas Priest embarcando para Brasília. Tietamos e tiramos fotos (como essa do post-com Rob Halford no centro) com os músicos, aparentando cansaço. Eles e nós. Mas valeu muito a pena ver os mestres do metal, ao vivo, pela última vez na terra de Santa Cruz. Depois dessa aventura, fica a pergunta: quem precisa de Rock in Rio?

Um comentário:

  1. Que "espetáculo" maravilhoso. Estava lá com Vicente, e foi explendido. Melhor que qlq noite do RIR. Por sinal, maioria alí, trocou o RIR pelo Judas e Whitesnake. E garanto q nenhum se arrependeu.

    Elisio Cristovão \w/

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