quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Antes dos outros, havia Emerson


ANTES DOS OUTROS, HAVIA EMERSON – por Vicente Bezerra

Antes, tudo eram as trevas. Eis que se fez a luz! Antes dos outros, havia Emerson. Emerson Fittipaldi.

O brasileiro realmente tem memória curta. E os meios de comunicação fazem questão que isso se perpetue. Essa semana, Emerson Fittipaldi completou 40 anos de sua primeira vitória na F1. Tal ocasião foi comemorada com uma volta na sua eterna Lotus pelas ruas de São Paulo. Muito pouco para quem merece mais.

Nosso primeiro grande piloto é bicampeão mundial, títulos conquistados em 72 e 74. Títulos estes conquistados em um tempo em que o braço falava mais alto que a tecnologia do motor. Era o piloto o diferencial, não o carro. Hoje em dia, o termo “circo da F1” deixou de significar a vida nômade e a montagem e desmontagem das parafernálias do esporte. Hoje, significa um forte interesse financeiro e publicitário, jogadas de bastidores, equipes definindo quem deve vencer. De “circo”, restam só os palhaços, que somos nós. Saudades dos tempos de Fittipaldi, Lauda, Piquet, Mansel, Prost e Senna (Schumacher já faz parte do novo circo).

Deixando o desabafo de lado, é bom lembrar que Emerson foi bicampeão, quando não era muito comum um só piloto obter vários títulos. Emerson brilhava em meio a uma constelação de pilotos habilidosos, competentes, não mero coadjuvantes como os muitos que habitam a F1 de hoje. Jean-Pierre Beltoise, James Hunt e Niki Lauda, só pra citar alguns mestres do volante da época. O talento valia mais.

Mas Emerson não parou por aí. Fittipaldi (ou o “Rato” como foi apelidado) entrou no fechadíssimo círculo da Fórmula Indy, quando era difícil a participação de estrangeiros, principalmente latino-americanos. Emerson foi campeão na Indy e deixou sua marca vencendo por duas vezes a corrida mais importante da categoria: as 500 milhas de Indianápolis, que curiosamente oferta leite para os vencedores brindarem, não champagne.

O “Rato” também foi ousado. Foi além de piloto, manager de uma equipe de F1 totalmente brasileira, a Copersucar, já nos seus últimos anos na categoria.

A imprensa esportiva, quando fala em F1, dá imenso destaque para Ayrton Senna e seus feitos. Não que Ayrton não seja merecedor, muito pelo contrário. Senna foi um dos maiores. Mas o crédito deve ser dado aos demais. Nos últimos anos se falou muito em Massa e Barrichello, que estão um degrau acima de Gugelmim e Pupo Moreno, igualados a Carlos Pace (o “mouco”), talvez. Na constelação dos maiores pilotos, não se pode ofuscar o brilho de um Nelson Piquet, e do que abriu as portas para os demais, e foi (é) um dos grandes: Emerson Fittipaldi.

Toquem o tema da vitória para Emerson. Ele é digno da homenagem.

Um comentário:

  1. Belo texto, Vicente, especialmente por tratar de um assunto que é pouco comentado: o pioneirismo. Seja em que área for, aquele que abre as portas merece sempre ser reverenciado.
    Moacir Poconé

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