sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A viagem sem volta


A VIAGEM SEM VOLTA - por Moacir Poconé

Parece coisa de ficção científica, mas é uma realidade cada dia mais próxima. Cientistas falam com frequência em viagens tripuladas a Marte, com o objetivo de preparar o terreno para o surgimento de uma nova civilização. Surgirão os humanos-marcianos, ou seja, chegará o momento em que os seres humanos não só viverão como nascerão no chamado Planeta Vermelho.

O mais curioso é que, num primeiro momento, especula-se que dois seres humanos serão enviados a Marte numa
viagem só de ida. Isso mesmo. Como a distância é longa e os custos são altos, dois nobres voluntários partiriam numa missão cientes de que morreriam em solo marciano. Calcula-se que viveriam por cerca de dez anos, devido às condições naturais daquele planeta. Seriam loucos ou heróis? Somente o tempo dirá. O fato nos causa estranheza, mas algo similar ou até mesmo pior aconteceu no tempo das Grandes Navegações. Imaginemos homens em barcos enormes, com pouquíssimas condições de sobrevivência, avançando pelos mares sem ao menos saber o que encontrariam. Meses e meses vendo apenas água por todos os lados, verdadeiras ilhas de coragem e de medo. Contradição? Não. Coragem no sentido de buscar novas terras. Medo por lidar com o desconhecido. Acreditava-se que o mundo tinha um fim, que havia monstros marítimos e a quase certeza de que muitos jamais retornariam a suas casas.

Nessa comparação, a viagem dos exploradores de Marte será bem mais tranquila. Toda a tecnologia conseguida nesse intervalo de mais de cinco séculos certamente será utilizada para que não ocorram surpresas. Não haverá sobressaltos. Talvez isso mesmo cause desconforto aos que ficam. Como podem seres humanos com famílias, lares, abandonarem tudo em prol de uma missão sem volta? No caso dos navegantes, havia uma possibilidade. Embora remota, embora quase nula, mulheres, filhos aguardavam numa espera silenciosa e às vezes infinita. Os entes queridos dos que irão a Marte não terão qualquer dúvida: eles não voltarão. Será uma espécie de suicídio com um objetivo digno do fato: fazer surgir um lugar que abrigue os humanos após o colapso (que parece inevitável) da Terra. Sem dúvida, uma missão de alto apelo humanístico, ainda que seja incompreensível para a maioria de nós.

Assim caminha a humanidade e é por isso que ela nunca acabará. Seu instinto de sobrevivência e capacidade de adaptação aliados ao nível tecnológico que alcançou são ferramentas que farão com que o homem seja eterno. Foi assim há quinhentos anos. Será assim por muitos séculos. E para sempre o homem guiará ele mesmo o seu destino. Esteja onde ele estiver. Viva onde ele viver.

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