quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Os bons velhinhos


OS BONS VELHINHOS – por Vicente Bezerra

Paul McCartney está no Brasil para três shows, e os ingressos esgotaram em poucas horas. Paul movimenta gerações, pessoas dos 7 aos 70, por onde passa. Por que isso? A resposta é qualidade. Há muito já passou a beatlemania, mas a música resiste. Lady Gaga, Justin Bieber e Jonas Brothers podem vender milhões, mas daqui a cinco anos ninguém lembrará direito quem foram. Ou alguém sabe qual o último sucesso de Britney Spears? Se formos falar em Rock então, o ritmo na atualidade depende de bandas pouco inspiradas como Mars Volta, Kaise Chiefs, Arcade Fire entre outros que não merecem nota.

Embalados pela qualidade e longevidade, 2010 tem sido um ano abundante de sessentões mostrando o que sabem fazer e bem: boa música. E o chamado Classic Rock tem dado show nisso, literalmente.

A voz rouca de Bob Dylan deu o pontapé inicial do ano com Toghether Through Life. Fez o mesmo disco que faz desde que entrou nos anos 2000. E daí? É bom como os outros e mostra que o bardo existirá enquanto tiver voz. Bom para nós.

A voz e a guitarra dos Dire Straits, Mark Knopfler veio com o seu Get Lucky. Não espere a mesma pegada dos Straits. Knopfler ainda toca divinamente sua guitarra, porém com mais calma, passeando pelo folk, blues e country. Mas não deixa de ser um ótimo disco. Bom para se ouvir para relaxar.

Bruce Springsteen lançou Working On A Dream, um album delicioso. Sua voz rouca e potente, e sua banda competente, fazem um excelente disco que já nasce clássico. Os anos 2000 tem sido muito bons para Bruce e seu rock calmo, mas questionador.

Ian Gillan, a voz do Deep Purple, deixou o peso de lado no seu One Eye to Morocco e inspirado no país do título (Marrocos) fez um disco swingado, com pitadas de Hard Rock. Uma boa surpresa para os fãs. Tirando o pé do peso também, o ex-Led Zeppelin, Robert Plant enfiou o pé no folk e cometeu um ótimo disco, batizado de Band Of Joy. Para momentos de reflexão.

Para dirigir cantando e com um sorriso besta no rosto, nada melhor que um ex-beatle. Ringo Star com o seu Y Not faz o disco de sempre, alegre, animado, cheio de convidados e com sua bateria marcante. Difícil não se render. Por falar em baterista (?!), Phil Collins deixou os problemas de audição de lado e lançou o ótimo Going Back, com músicas que lhe fizeram a cabeça na juventude. Destaque para a belíssima versão da música que dá título ao cd, original dos Byrds.

O texano Tom Petty e seu inconfundível sotaque resolveu voltar com os Heartbreakers e lançou Mojo. Claro que é Coutry Rock e dos bons. Tom, sempre com seus refrões marcantes, faz a música grudar no seu ouvido e fazer você não ter vergonha de ouvir Country. Vale muito a pena.

Entrando no Blues Rock, tem-se que falar na voz de Woodstock. Joe Cocker nessa década tem gravado discos belíssimos, de alto nível, sendo impossível apontar qual melhor. E mantendo o nível, lançou este ano Hard Knocks. Obrigatório. Ainda no Blues, todos sabemos que Deus toca guitarra. E Eric Clapton também lançou o seu esse ano, homônimo. Clapton fez o seu disco de blues de sempre, sendo este meio morno e pouca ousadia na guitarra, peculiaridade sua. Quem liga? É Deus na atividade!

Pesando as guitarras e a bateria, o Scorpions lançou seu último disco, Sting In The Tail. Não é o último, de mais recente, é de derradeiro mesmo. Os alemães anunciaram a aposentadoria e estão em turnê de despedida. E o seu disco está à altura de sua vitoriosa carreira, com as indefectíveis baladas, marca registrada. Recomendado para viagem e alta velocidade!

E o melhor disco de rock veterano de 2010 vai para Neil Diamond, com Dreams. O setentão abusou do violão e de sua voz firme, apesar da idade, e fez um álbum fabuloso, tocante e sincero. Resolveu gravar alguns dos seus hits na voz dos outros (I´m a Believer, sucesso com os Monkees e conhecida aqui como Não Acredito, na voz de Lulu Santos), e alguns covers certeiros como Blackbird, Let it Be Me e a religiosa, porém linda, Hallellujah.

Os velhinhos estão aí, botando pra quebrar e mostrando que música de qualidade resiste ao tempo, assim como músicos também. Estão na atividade, tanto pela alta qualidade de seus trabalhos, como pela ausência de novos nomes. “Nossos ídolos ainda são os mesmos” como dizia Belchior. Ou, “panela velha é que faz comida boa”, não é Sergio Reis?

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