sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Heráclito, Lulu Santos e Nietzsche: variações sobre um mesmo tema

HERÁCLITO, LULU SANTOS E NIETZSCHE: VARIAÇÕES SOBRE UM MESMO TEMA - por Moacir Poconé

Heráclito de Éfeso foi um filósofo morto quatro séculos antes do nascimento de Cristo. É dele o célebre pensamento de que “um homem não pode se banhar duas vezes no mesmo rio”. É um pensamento que atesta a mutabilidade das coisas. Ao se banhar pela segunda vez, o homem não será mais o mesmo. O tempo terá passado e mudanças terão ocorrido. Nada será como antes. Até o rio também não será mais o mesmo. O fato de o homem ter nele entrado já o transforma. Assim, pensava Heráclito, apresenta-se o mundo: numa constante mutação. Não existem repetições. A regra é a mudança constante de tudo que nos cerca.

“Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. Tudo passa, tudo sempre passará”. Versos muito conhecidos do compositor Lulu Santos na canção Como uma onda. Seguem a mesma linha do pensamento de Heráclito. Tudo muda. “Tudo o que se vê não é igual ao que a gente viu a um segundo”. O tempo é um mero detalhe na transformação das coisas. Nada mais que um segundo basta para que não sejamos mais os mesmos ou para que as coisas que nos cercam se modifiquem. Isso mostra a relatividade do tempo. Importante notar que tais mudanças não dependem de nossa vontade. Elas acontecem e pronto. Embora sejamos elementos ativos desse mundo, suas transformações muitas vezes não nos dizem respeito. Não dependem de nossa vontade para que ocorram. Nossa passividade, nesse caso chega a ser aterrorizante. Embora nossa soberba diga que não, verdadeiramente pouco podemos fazer para evitar as mudanças. Elas simplesmente acontecem. E muitas vezes nem as notamos.

Voltando no tempo em relação a Lulu (ou avançando, em relação a Heráclito) temos no século XIX o pensamento do filósofo alemão Nietzsche que, entre outras brilhantes teorias, apresentou a do Eterno Retorno. Segundo ele, nossas vidas seriam formadas por ciclos repetitivos, que teriam um número limitado de fatos. Assim, não haveria nada de novo. Na verdade tudo estaria acontecendo como sempre aconteceu, porém em forma de ciclos. É um pensamento contrastante em relação aos dois primeiros aqui colocados, obviamente. Mas faz uma indagação que chega a ser cruel: amamos ou não a nossa vida? Teríamos a capacidade de amar a vida que temos, mesmo sendo a única, a ponto de vivê-la da mesma forma infinitas vezes ao longo da eternidade? Seria um dom divino ou uma maldição viver as mesmas dores, alegrias, sofrimentos e prazeres num eterno movimento sem fim?

São pensamentos ou mesmo devaneios sobre esse tema tão apaixonante que é o nosso papel no mundo e como ele se nos apresenta. Há uma inconstância das coisas ou tudo não passa de mera repetição? Quem estará com a razão? Ou ainda: é necessário que se tenha uma razão nisso tudo? Parece que não. Mas se apresenta imprescindível a análise racional do que somos e o que queremos. Somente assim estaremos no caminho que nos leve a alguma resposta a essas questões.

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