sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O melhor filme de... Jack Nicholson




O MELHOR FILME DE... JACK NICHOLSON – por Moacir Poconé

Um dos mais versáteis atores de Hollywood, Jack Nicholson é sinônimo de grande interpretação, seja em comédias, dramas ou mesmo filmes de suspense. Sua maneira de encenar muitas vezes é alvo de críticas, que a consideram exagerada. Mas não é nada disso: Nicholson certamente interpretou papéis que exigiam justamente essa característica, como o Coringa do primeiro Batman e o cheio-de-tiques Melvin Udall no ótimo Melhor é Impossível, que inclusive lhe valeu o Oscar de Melhor Ator. Inesquecível também seu personagem Jack Torrance, protagonista de O Iluminado, filme sempre presente nas listas de melhor filme de terror de todos os tempos. Numa oposição, destaque-se o caricato Dr. Buddy Rydell na comédia Tratamento de Choque. No drama, destaque entre outros filmes, àqueles que lhe garantiram seus outros dois prêmios Oscar: de ator coadjuvante, em Laços de Ternura e mais um de ator principal pelo excelente Um estranho no Ninho. Seus filmes mais recentes, como As confissões de Schmidt, Alguém Tem que Ceder, Os Infiltrados e Antes de partir, mostram que, apesar da idade (tem 74 anos), Nicholson continua sendo um ator de muitos recursos e sempre disposto a trazer para a sétima arte personagens memoráveis.

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Ao lado de Aconteceu Naquela Noite (1934) e O Silêncio dos Inocentes (1991), Um Estranho no Ninho é um dos poucos filmes a ganhar os cinco principais prêmios Oscar: melhor filme, melhor direção, melhor ator, melhor atriz e melhor roteiro adaptado. A premiação não foi exagerada: trata-se de um dos filmes que marcaram a década de 70 e que freqüenta as listas de maiores filmes de todos os tempos.

Baseado no romance homônimo de Ken Kesey, o filmes se estrutura em torno do protagonista: o malandro Randle McMurphy, que ao ser preso, finge ser louco com o intuito de cumprir sua pena num hospital psiquiátrico, onde julga terá melhor tratamento que numa prisão. Agindo de forma irônica e irresponsável, McMurphy passa a influenciar os demais internos, causando revoltas na clínica e despertando a ira da cruel enfermeira Mildred. Começa então uma verdadeira análise sobre comportamentos e conceitos: quem são os loucos? O que é fazer o bem para as pessoas que julgamos loucas? Somos todos preconceituosos?

Numa outra análise, temos a regra e a ordem ditadas a ferro e fogo pela enfermeira e a transgressão e a rebeldia incorporadas por McMurphy. Não há espaço para os dois, que querem não apenas dominar o outro, mas impor a sua verdade no ambiente recluso em que vivem. O "estranho" que dá título ao filme representaria não um ou outro personagem e sim todos aqueles que quebram as regras impostas no mundo em que vivemos. Infelizmente, esse comportamento não é aceito pela maioria (ou por aqueles que dominam), o que faz surgirem sanções, muitas vezes terríveis. Por isso o desfecho chocante, concebido de forma tão radical quanto verossímil.

Para interpretar McMurphy não se imagina outro ator senão Nicholson. Seu cinismo e ironia estão no ponto certo. O modo com que zomba do sistema e coopta os loucos a segui-lo o transforma num líder sem causa estabelecida. E seu declínio nos faz tornar piedosos de sua mísera condição. Personalidades tão distintas de uma mesma personagem que apenas um grande ator consegue criar. Um verdadeiro clássico do cinema, desses que vale a pena ver por diversas vezes. Para mim, o melhor filme de Jack Nicholson.

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