sexta-feira, 4 de junho de 2010

A necessidade faz o homem



A NECESSIDADE FAZ O HOMEM - por Moacir Poconé

Um dia desses, conversava com um pai de um aluno meu. O senhor já não sabia o que fazer. Segundo ele, havia dado (e ainda dava) tudo o que o filho lhe pedia, mas o menino não correspondia nos estudos. Era uma pessoa de posses. O menino tinha computador (com internet, claro), videogame, moto e carro à disposição, ou seja, uma vida extremamente confortável em bens materiais. Logo percebi qual era o problema e fui direto ao ponto. “O problema é justamente esse. O senhor está dando coisas demais a seu filho.”


A reação do pai foi de incredulidade. Mas ele logo percebeu o que quis dizer. Qual o valor que um jovem hoje em dia dá aos bens que recebe de seus pais mesmo sem merecer? O que faz com que ele se motive para conseguir algo com seu próprio esforço? Muitos pais certamente fazem o mesmo, achando que estão agindo da melhor maneira. Triste engano. Estão na verdade criando seres desocupados e despreocupados, ou seja, sem qualquer responsabilidade.

Ampliando um pouco o assunto, noto que a situação não se restringe apenas a pais e filhos. Tudo está muito disponível. Em tempos de internet, existe um fácil acesso a qualquer que seja o assunto e já não damos o devido valor àquilo que conseguimos. Lembro bem nos anos 80 da dificuldade de encontrar questões de vestibulares para exercitar. No campo da diversão, vibrava ao encontrar o último show do Legião Urbana em fita cassete ou um vídeo clandestino do humorístico TV Pirata. E fazíamos, eu e meus amigos, verdadeiras reuniões para apreciar aquele material de baixa qualidade, sempre com um brilho no olhar e aquela sensação de conquista. Para nós, era um verdadeiro tesouro.

Hoje, a oferta de material é tão grande que pouco se dá valor. Quer um vídeo de seu ator predileto? Acesse o You Tube. A discografia de seu cantor preferido? Tenho os 25 cds em mp3. Já nem se tem o trabalho de gravar em cd. Livros, textos? Tudo na internet. É só botar no Google. Os jovens de hoje, desse modo, não possuem o sentimento de conquista, de posse, daquele material que quase ninguém tem. Até nos mesmos, os jovens de outrora, somos contaminados por essa onda. E o sentimento de indiferença apenas aumenta.

O mais triste de tudo, no entanto, não é a facilidade de encontrar as coisas. O maior problema é que os jovens pouco as querem. É uma grande contradição: a oferta é tão grande que tudo se tornou banal. Não há mais a necessidade. O obstáculo é um mero clique de mouse. O que querem é algo que denote poder, como o jovem do início do texto com sua moto e seu carro. Educação é algo abstrato. Há jovens (uns poucos) que são até discriminados por gostar de estudar. O que vale mesmo é a ostentação, como um meio de afirmação social. E assim vão se formando cidadãos sem valores, achando que na vida tudo é descartável.

2 comentários:

  1. Fiz parte de uma geração que ia em busca da informação. Quantos livros tínhamos que pesquisar pra fazer um trabalho? Minha esposa leciona na faculdade e ajudo a "corrigir" os trabalhos, pesquisando de qual(is) site(s) foram retirados os textos dos alunos. É um absurdo a cópia, não atentam nem para a pontuação, no mínimo. Parabéns pelo texto Moacir.

    Wanderley

    ResponderExcluir
  2. Meu caro, essa é a pura verdade. Sem querer dar uma de certo e de saudosista, mas a geração atual de adolescentes está indo num caminho sombrio. O que será da sociedade que vira? Parabéns pelo belo texto. Já são 8 seguidores!!!

    ResponderExcluir