sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A campanha da infâmia


A CAMPANHA DA INFÂMIA – por Moacir Poconé

Hoje, com o último debate realizado pela TV Globo, encerra-se aquela que foi a campanha eleitoral mais infame de que já se tem notícia no Brasil. Tanto um como o outro candidato que disputam o segundo turno se esmeraram em baixar o nível da campanha, tornando-a um espetáculo de baixarias em vez de ser um momento de propostas de governo.

Segurança, saúde, educação ficaram em segundo plano. Entraram em cena frases preconceituosas, ligadas à religiosidade ou até mesmo à sexualidade de um dos candidatos. A internet se tornou terreno fértil para a propagação da mentira. Fichas falsas de ambos os candidatos no tempo da ditadura foram feitas. A discussão sobre o aborto foi o ponto mais debatido da campanha. Afinal, “o candidato é a favor ou contra o aborto?”, perguntaram-se centenas, talvez milhares de vezes. “E o casamento entre pessoas do mesmo sexo?” outras milhares de vezes. Reparem que são assuntos que dizem respeito ao íntimo das pessoas. Aqueles que professam determinada religião e condenam tais atos, que não os pratiquem. O erro está em querer impor a todos. Mas por uma questão de votos, ambos os candidatos beijaram a mão do papa e condenaram o que antes aceitavam. O Brasil, como estado laico que é ou que deveria ser, mais uma vez se viu refém da fé em detrimento à razão.

Outro papel deplorável foi o da imprensa. Formaram-se duas grandes equipes, uma para cada candidato. A cada semana, revistas semanais estampavam denúncias em suas capas, cada uma produzindo ou pelo menos tentando produzir um escândalo que derrubasse o seu oponente. Os jornais, diariamente, buscavam notícias ou entrevistas que incriminassem ou absolvessem o candidato de seu interesse. Até mesmo editoriais em apoio a candidato foram publicados. Na imprensa televisiva, mais um show de parcialidade. Âncoras de telejornais visivelmente transtornados com resultados de pesquisas, reportagens de meia hora com mais denúncias e até mesmo em entrevistas realizadas com o fim de discutir os programas dos candidatos, só se ouviram perguntas sobre escândalos. Assim, os veículos de comunicação se tornaram verdadeiros panfletos partidários, divulgando ou omitindo fatos conforme o interesse do candidato de sua preferência.

Quem saiu perdendo com tudo isso? Sem dúvida, o eleitor. Se já não é esclarecido como deveria ser, dessa vez pôde decidir seu voto por critérios menos dignos como “A candidata é homossexual? A mulher do candidato abortou? Quem é o beato? Quem mata criancinhas?” São esses os requisitos necessários para o exercício da presidência? Certamente não. Mas na infame campanha de 2010 foi isso que se discutiu.

Um comentário:

  1. Desde a eleição Collor x Lula não se via tanta baixaria. E a imprensa tomar partido de candidatos é lastimável. Só comprova o quanto nossa democracia é imatura. Mais uma bola dentro Moacir!

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