quinta-feira, 3 de março de 2011

O discurso do Rei

O DISCURSO DO REI – por Vicente Bezerra

“Pelé calado é um poeta!”, já dizia Romário, craque na bola e frasista polêmico. O “baixinho” pegou carona no fato de a mídia em geral sempre ter má vontade com as declarações de Pelé, sobretudo em razão de quando questionado sobre favoritismo das seleções nas copas, onde pouco fala sobre a seleção canarinho, apontando constantemente outras equipes.

O atleta do século XX (título este dado não por nós, mas pelos franceses, com entrega de troféu e tudo) tem sua majestade contestada pela imprensa especializada quando dá alguma declaração de “trivela”. Isso já criou alguns problemas entre ele e algumas seleções brasileiras, sobretudo em 2002, quando Luiz Felipe Scolari deu a declaração de que jogar no tempo de Pelé era fácil, porque não havia marcação, amarrava-se “cachorro com lingüiça”. Isso tudo porque Edson Arantes não pode emitir uma opinião própria, não pode ser contra o sempre favoritismo da seleção, que passa a ser questionado no que não há o que questionar: foi ele o melhor jogador de futebol até o presente (é de se duvidar que surja outro).

O fato é que, nas últimas semanas, o “poeta” resolveu falar. E deu mais uma declaração polêmica. Polêmica porque mais uma vez nos fez enxergar que por trás da soberba futebolística típica dos brasileiros, existe um país capenga e que terá dificuldades em cumprir o compromisso assumido. Pelé criticou duramente as obras e a preparação do país para sediar a copa de 2014. Apontou o atraso nas construções e alertou para que o país pode passar vergonha, caso permaneça a desorganização presente, principalmente nos aeroportos. Ninguém levantou a voz na multidão para dizer que ele estava errado. Nem certo. Praticamente passou em brancas nuvens. E há que ser dito: o país está atrasadíssimo na reforma dos estádios, sofre ainda os efeitos do caos aéreo, a segurança pública é problema sério e o último apagão ocorrido no Nordeste acende mais um alerta. Isso para não falar no derramamento de dinheiro público em obras para a copa, dinheiro este que já se avisa de antemão estar tomando outros caminhos. A CBF se mostra mais preocupada em reconhecer títulos obtusos e criar o cisma no clube dos 13.

Pelé fez um soneto. Pena que pouca gente leu.

Um comentário:

  1. É difícil enxergar a realidade e aceitá-la. Pelé na verdade não foi polêmico: foi realista. Mas óbvio que a CBF e as autoridades prefereriam um Rei calado, apenas de enfeite. Como ocorre na monarquia inglesa, ou seja, apenas uma figura decorativa.Mas Pelé é brasileiro. E não deve nada a ninguém.
    Moacir Poconé

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